Sucesso, ciúmes e perigos na rearrumação da economia
Enio Lins
Na sexta-feira, 30 de agosto, o IBGE disponibilizou o conjunto de dados periódicos apontando que a taxa de desemprego no Brasil ficou em 6,8 % no trimestre terminado em julho, cravando o menor nível para esse espaço de tempo desde o início desses estudos, em 2012. Uma, mais uma, conquista brasileira. Mas não mereceu destaque na dita grande mídia. Poder-se-ia pensar ser a causa desse desaparecimento o aparecimento de novidades da briga do X com a Constituição brasileira, só que não. Existia espaço editorial de sobra. Foi censura?
SEM SURPRESAS
Esse resultado positivo era esperado, mas a turma do contra torcia para as previsões falharem. Segundo a Agência Reuters, “o Banco Central tem reiterado surpresa com a força da atividade econômica” e que “a população desocupada caiu para 7,4 milhões, menor número de pessoas procurando por uma ocupação no país desde o trimestre encerrado em janeiro de 2015”. Mais: “o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, apontou que já há sinais ‘ainda incipientes, mas mais claros’ de que o aperto no emprego possa estar sendo transmitido para os preços de serviços ‘de uma forma mais prolongada’. O BC se reunirá em meados de setembro para deliberar sobre os juros e a aposta do mercado é de alta da taxa Selic, atualmente em 10,5% ao ano”. Parece que Bob Fields Neto, nos derradeiros meses de sua gest&atil de;o partidarizada no BC, está de mau humor com esse bom resultado (para a maioria da população).
AVANÇOS INEGÁVEIS
Discreta matéria no site G1, dia 30, assinada por Raphael Martins, diz: “a desocupação atinge 7,4 milhões de pessoas, mas população ocupada bate recorde ao passar dos 102 milhões. Na série comparável, é a menor taxa [de desemprego] desde o trimestre encerrado em janeiro de 2014 (6,5%) [no governo Dilma]”; e “com os resultados, o número absoluto de desocupados teve queda de 9,5% contra o trimestre anterior, atingindo 7,4 milhões de pessoas. Na comparação contra o mesmo trimestre de 2023, o recuo é de 12,8%”, e que “no trimestre encerrado em julho, também houve alta de 1,2% na população ocupada, estimada em 102 milhões de pessoas — novo recorde da série histórica iniciada em 2012. No ano, o aumento foi de 2,7%, com mais 2,7 milhões de pessoas ocupadas”. Adriana Beringuy, do IBGE, avaliou: &ldq uo;temos uma melhoria importante da renda do trabalho, e boa parte do consumo vem dessa renda. Há uma expansão do consumo das famílias, que gera mais demanda por bens e serviços e, por consequência, mais demanda por trabalho. O mercado de trabalho gera demanda para si próprio”. São fatos.
PERSPECTIVAS
Não está ainda o Brasil na euforia dos melhores períodos Lula e Dilma, onde a classe média se deliciava com a acessibilidade aos carros zero, renovação geral dos eletrodomésticos (quem se recorda da “linha branca”?), viagens ao exterior (chocando e indignando gente como Paulo Guedes, torcendo o nasal: “até empregada doméstica estava indo à Disney”). Pelo aferido e auferido em 2023 e 2024, o terceiro governo Lula está no caminho certo, conseguindo avançar econômica e socialmente. Este êxito, entretanto, precisa ser entendido com mais atenção e menos entusiasmo, pois a base política do governo federal é mais frágil que nos dois mandatos anteriores de Lula e no primeiro mandato de Dilma. A realidade atual exige muita atenção e talento extra na negociação. O ciúme aumenta com o sucesso e o parlamento tende a elevar suas exigências, pois o êxito na economia faz crescer o apetite daquela garotada que vai renovar seu emprego daqui a dois anos.
Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/09/pib-cresce.html
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