19 março 2025

Enio Lins opina

Flopou o ato bolsonarista? Sim. Ria, mas não se distraia com isso
Enio Lins 

CONVOCADA COM ARES de celebração do Juízo Final, anunciada como o supremo ajuntamento de forças em prol do mito golpista, e tendo o Rio de Janeiro como epicentro, flopou a manifestação bolsonarista de 16 de março. “Flopou” – tinha esse vocábulo da moda como sinônimo de “deu merda”, mas, na dúvida, procurei um oráculo, e a ferramenta IA Copilot me entregou: “é um termo coloquial que significa falhar ou não ter sucesso. É frequentemente usado nas redes sociais e na cultura pop para descrever situações, eventos ou lançamentos que não atingem o esperado, sejam em termos de público, impacto ou aceitação”. Já o site Último Segundo 
foi muito mais preciso: “Flopar é uma versão aportuguesada da expressão em inglês ‘flop’, que significa, literalmente, fracasso”. Ah! Agora sim. Fedeu o ato pró-impunidade do Jair.

MERECE GOZAÇÃO a flopada bolsonarista do domingo passado. Sim. “Castigat ridendo mores”. Diz-nos a Wikipédia: “Esta inscrição, colocada no frontão de vários teatros e devida ao poeta latinista francês Jean de Santeul, mostra como a comédia e a sátira, ao lançarem a ironia e o ridículo sobre os vícios e as faltas humanas, contribuíram de forma importante para a reforma dos costumes”. Rir dos golpistas é uma forma de inibi-los. Faz sentido. Mas é um grande equívoco supor que o bolsonarismo é cachorro morto. Nada disso. Esse refluxo conjuntural, e, focado pelo chabu da recente manifestação (e de outras anteriores), esconde uma periculosidade latente, tal qual cobra peçonhenta que se esconde nas folhagens esperando o momento para dar mais um bote.

É O BOLSONARISMO  COISA ainda mais perigosa que a extrema-direita, pois é esta em seu formato tresloucado – e sem medo do ridículo. Pelo contrário, abusa de ser patético em benefício próprio. Em termos de perfis dos psicopatas políticos, Jair Messias está mais para Idi Amin Dada que para Adolf Hitler. Mesmo com a tsunami de inúmeras desmoralizações sofridas, mantém sua força política. E mais, entre os luminares do reacionarismo brasileiro, outros mitos do atraso torcem pela condenação e inelegibilidade do famigerado Zero-zero, de olho em seu espólio eleitoral e ideológico. Tarcísio, Zema, Caiado, Gusttavo Lima, Pablo Marçal... são muitos, têm muito dinheiro, muito poder, muita experiência, muito ódio – e vão à luta pela presidência da República, numa disposição semelhante ao cantado por Chico Buarque, em Feijoada Completa: “Eles vão com uma fome/ Que nem me contem/ Eles vão com uma sede de anteontem”. As forças democráticas precisam estar unidas e prontas para jogar água no feijão, e no fogo, dessa turma. Essa é uma tarefa ampla, amplíssima, suprapartidária, e não missão meramente canhota.

TÁ, MIXOU O ATO BOLSONARISTA. Mas as forças democráticas estão distantes das ruas, circunscritas às suas identidades próprias, dialogando pouco com o povo, comunicando-se mal, monologando bastante, desentendendo-se entre si enquanto tendências que só enxergam o próprio umbigo. Esperam, torcem de coração, para que Lula resolva sozinho os problemas do país. A imensa maioria das gentes democratas (centro, centro-esquerda, esquerda), ainda está na comemoração de 2022 e nem notaram que 2026 já começou. Além de despertar da letargia, as forças democráticas precisam se lembrar, na prática, que não basta ganhar as eleições executivas (presidência da República e governos estaduais), mas precisam recuperar terreno nas eleições parlamentares (Congresso Nacional e Assembleias estaduais). Que se ria do fracasso circunstancial do bolsonarismo, eles merecem. Mas os costumes políticos não mudaram ainda. A extrema-direita segue extremamente competitiva, terrivelmente nociva, e quem discorda dela precisa suar mais a camisa para evitar que eles gargalhem em 2026.

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