Ler é um santo remédio
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Costumo dizer que gostaria de ter
vivido em meados do século 19, quando a gente podia se interessar por muitos
assuntos e adquirir conhecimentos em nível razoável. A informação não tinha um
milésimo de velocidade que tem hoje, o que coloca pessoas volúveis como eu em
temendo embaraço.
Explico: sou um inveterado curioso; e
desconheço a área do conhecimento humano que não me atraia. Mas é impossível
manter o interesse vivo, e saciá-lo, quando se produz a cada segundo mais
conhecimento científico, novas aplicações tecnológicas em todas as áreas. Quem
se dedica a atividade acadêmica, por exemplo, e assina sites especializados na
divulgação da produção científica - ensaios, artigos, relatórios de pesquisa,
etc. - costuma dizer que, da noite para o dia, novos comunicados são postos à
disposição do interessado, de modo que se dá o risco da dispersão. O cara quer
saber de tudo e termina sabendo muito pouco de algumas coisas.
Essa pisada já vem de algum tempo e
ganhou fenomenal impulso com a internet. Tudo o que existe, ou o que se
inventa, cai na rede e vira informação disponível. Uma miríade interminável.
Como fica um sujeito feito eu diante
disso? Ora, fica em maus lençóis se não encontrar o bom método para a busca de informação
e o seu processamento. Há que ter foco, capacidade de apreensão do conteúdo
essencial e fazer as inter-relações devidas.
O danado é que sou desafiado pela
leitura de jornais diários, livros e sites. Dos jornais não posso abrir mão -
pelo menos os três de Pernambuco, por dever de ofício. De sites e blogs
noticiosos ou analíticos, idem. E dos livros - paixão irrefreável desde a
adolescência - jamais poderei me separar.
É aí que entra a tal "leitura
dinâmica" - nos termos que desenvolvi por conta própria, e que vem me
ajudado bastante. Ler o essencial, assim definido em função do foco, ou seja,
do que interessa saber no momento da leitura. Se não há foco a leitura se faz
dispersiva, quase imprestável. Isso é como você abrir a porta de um quarto onde
se guardam os mais variados objetos; se não sabe o que procura, tudo vê e nada
encontra.
O tema reforma política é um bom
exemplo. Há verdadeiros tratados a respeito, além de notícias fragmentadas.
Basta buscar no Google para se deparar uma infinidade de referências. Mas se
você tiver direcionado sua pesquisa para dois elementos centrais na reforma
política de sentido democrático, o financiamento público de campanha e a adoção
de listras pré-ordenadas pelos partidos para a disputa de cargos no parlamento,
não há risco de dispersão.
Ainda acrescento outro artifício -
ficha de leitura. No passado, usava aqueles cartões pautados e fazia
minhas anotações à mão ou datilografava. Com o advento do computador, digito e
salvo em arquivo temático. Hoje como antes, a ficha de leitura me ajuda muito,
sobretudo porque tenho boa memória visual e fixo o que anotei - o que me é de
grande valia na construção de roteiros para palestras e artigos.
Mas é bom sublinhar que não há
fórmula nem manual que ensine isso. Nem a solução que construí para minha
própria orientação serve para você que me lê agora. Cada um bola seu próprio
esquema - sua versão de "leitura dinâmica" e o jeito de anotar, se
for o caso.
Agora confesso que experimento certo
remorso em relação aos livros. É que os visito para ler o que momentaneamente
me atrai, e isso me leva frequentemente a ler partes da obra, e não a obra
toda. Que me perdoem os autores. Salvam-se os textos estritamente literários,
assim mesmo quando se trata de coletâneas de contos ou crônicas ou poesia, leio
partes e deixo o restante para uma próxima oportunidade. Em geral retorno, leio
o que tinha ficado para depois e releio o que tinha lido antes. Puro deleite.
Seja qual for a fórmula que cada um
crie, vale reconhecer - hoje como nunca - que ler faz um bem danado à saúde!
Crônica
publicada aqui no blog em novembro de 2015
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Uma crônica para descontrair: 'Sorriso de festa' https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/05/minha-opiniao_4.html

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