12 maio 2025

Uma crônica de Urariano Mota

Seu Lindoso e o bolo de Dona Nicinha
Urariano Mota 

Hoje, ao repetir um prato de feijoada, o que eu não poderia fazer porque me encontro diabético, eu me lembrei de Seu Lindoso. Ele era pai de Spinelli, hoje famoso cientista político. Seu Lindoso era grande operário gráfico do Jornal do Commercio, e no fim da vida ficou diabético.

O problema é que sua esposa, Dona Nicinha, era ótima cozinheira, reconhecida inclusive por Gilberto Freyre. Ela criava bolos maravilhosos que seu Lindoso não poderia comer. Mas é aí que entra o diabo.

Seu Lindoso, de madrugada, se levantava cuidadoso e de mansinho pra comer a primeira maravilha do Arruda, de Água Fria e do mundo: o bolo que Dona Nicinha inventava. Como ele poderia fugir daquela tentação? Como poderia lutar contra o desejo em forma de fruta liquidificada, mais ovos, manteiga, leite, trigo na peneira, macio, e de beleza inesquecível? Como? Só comendo!

Mas eis que numa madrugada, avisada pela ausência do marido na cama, Dona Nicinha se levanta, vê a luz da cozinha e desconfiada se dirige para o cenário do pecado. E vê: seu Lindoso a comer deliciado a 1ª. Maravilha do Arruda. E grita:

-  Comendo bolo?!

E seu Lindoso, ainda com a boca cheia de vestígios do crime:

- Só foi um pedacinho!

E já que estava flagrado, terminou o atentado devorando a maravilha:  

- Nunca mais! Prometo.

Dona Nicinha não acreditou, mas sempre compreensiva com a fraqueza do marido nos contava na sala da casa em outras noites. Na presença dele, mas seu Lindoso bem sério. Ele se comportava como se fosse um menino que não acreditava no que havia feito.

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Leia: O PIB, o mercado e o povo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/03/minha-opiniao_4.html

3 comentários:

Anônimo disse...

Arretado! Grato, Luciano Siqueira!

Urariano Mota disse...

Muito obrigado, Luciano Siqueira! Memória breve de pessoas que muito amamos. .

Anônimo disse...

Conheci!