Seu Lindoso e o bolo de Dona Nicinha
Urariano Mota
Hoje,
ao repetir um prato de feijoada, o que eu não poderia fazer porque me encontro
diabético, eu me lembrei de Seu Lindoso. Ele era pai de Spinelli, hoje famoso
cientista político. Seu Lindoso era grande operário gráfico do Jornal do
Commercio, e no fim da vida ficou diabético.
O
problema é que sua esposa, Dona Nicinha, era ótima cozinheira, reconhecida
inclusive por Gilberto Freyre. Ela criava bolos maravilhosos que seu Lindoso
não poderia comer. Mas é aí que entra o diabo.
Seu
Lindoso, de madrugada, se levantava cuidadoso e de mansinho pra comer a
primeira maravilha do Arruda, de Água Fria e do mundo: o bolo que Dona Nicinha
inventava. Como ele poderia fugir daquela tentação? Como poderia lutar contra o
desejo em forma de fruta liquidificada, mais ovos, manteiga, leite, trigo na
peneira, macio, e de beleza inesquecível? Como? Só comendo!
Mas
eis que numa madrugada, avisada pela ausência do marido na cama, Dona Nicinha
se levanta, vê a luz da cozinha e desconfiada se dirige para o cenário do
pecado. E vê: seu Lindoso a comer deliciado a 1ª. Maravilha do Arruda. E grita:
- Comendo bolo?!
E
seu Lindoso, ainda com a boca cheia de vestígios do crime:
-
Só foi um pedacinho!
E
já que estava flagrado, terminou o atentado devorando a maravilha:
-
Nunca mais! Prometo.
Dona
Nicinha não acreditou, mas sempre compreensiva com a fraqueza do marido nos
contava na sala da casa em outras noites. Na presença dele, mas seu Lindoso bem
sério. Ele se comportava como se fosse um menino que não acreditava no que havia
feito.
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Leia: O PIB, o mercado e o povo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/03/minha-opiniao_4.html
3 comentários:
Arretado! Grato, Luciano Siqueira!
Muito obrigado, Luciano Siqueira! Memória breve de pessoas que muito amamos. .
Conheci!
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