Fábula de um arquiteto
João Cabral de Melo Neto
A arquitetura como construir portas,
de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e tecto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.
Até que,
tantos livres o amedrontando,
renegou dar a viver no claro e aberto.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até fechar o homem: na capela útero,
com confortos de matriz, outra vez feto.
[Ilustração:
Leia também 'Prelúdio', um poema de Cida Pedrosa https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/palavra-de-poeta_40.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário