Agressão estadunidense à Venezuela serve de alerta para a América Latina
Não é uma simples ameaça, mas um ato de beligerância. Não pode se subestimar a agressividade de um império em decadência sob o comando da extrema direita.
Editorial do 'Vermelho' www.vermelho.org.br
O envio pelos Estados Unidos de navios de guerra com 4.500 militares, incluindo 2.200 fuzileiros navais, para o Caribe Sul, perto da costa da Venezuela, é um grave gesto de provocação imperialista. Sob o pretexto de enfrentar ameaças de cartéis de drogas latino-americanos, o governo de Donald Trump – que em fevereiro designou grupos criminosos do México e da Venezuela como organizações terroristas globais – lançou a operação para limitar a migração e reforçar os navios da guarda costeira e da Marinha que operam regularmente na região, apoiada por voos de espionagem.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, denunciou ameaça por submarinos nucleares, uma violação a tratados internacionais. “Nossa diplomacia não é a diplomacia dos canhões, das ameaças, porque o mundo não pode ser o mundo de cem anos atrás,” disse Maduro, cujo governo enviou tropas para estados ao longo da fronteira ocidental com a Colômbia para combater grupos de tráfico de drogas, um reforço que inclui aeronaves, drones e vigilância fluvial. Também pediu que grupos de defesa civil realizem treinamentos todas as sextas e sábados e que o governo da Colômbia adote medidas semelhantes.
A atitude do governo estadunidense é uma agressão, não resta dúvida. Ela ocorre em meio a provocações e acusações de que Nicolás Maduro e o ministro do Interior, Justiça e Paz, Diosdado Cabello, são ligados a cartéis de drogas. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rúbio, elevou a agressividade ao chamar o governo venezuelano de “organização criminosa”. “Eles tomaram o controle do território de um país e estão ameaçando os Estados Unidos e os países vizinhos”, vociferou. Prevendo o agravamento das agressões, o governo venezuelano pediu apoio à Organização das Nações Unidas (ONU).
Na recente Cúpula de Presidentes dos Estados Partes do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), em Bogotá, Colômbia, o assunto compareceu, embora sem uma referência nominal. A declaração final – a Carta de Bogotá – destaca a “urgência” para que a região seja “livre de ameaças, agressões e medidas unilaterais, inclusive as coercitivas”. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva articulou a inclusão de citações na Carta sobre estratégias de segurança na Amazônia.
Como afirma a direção Executiva do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a nota da OTCA tem relevante importância ao repelir as ameaças para a região. “É importante, neste momento, relembrar o princípio da não intervenção previsto na Constituição Federal brasileira e a defesa da paz e da integração latino-americana”, diz. A nota do PCdoB denuncia, também, “a clara violação do direito internacional – que veda o uso ou a ameaça do uso da força e garante a autodeterminação dos povos”. “A América do Sul é uma zona de paz e assim deve continuar”, conclui.
Igualmente relevante é a nota da Internacional Antifascista, subscrita pelo Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), aprovada em reunião com a presença de mais de 600 organizações de cerca de 80 países. “Esta operação não é um ato de ‘defesa’ nem de ‘segurança’, mas sim uma manobra fascista de guerra psicológica que busca semear terror na região”, afirma. “Este ato de intimidação é, na realidade, a confissão da debilidade estratégica de um império em decadência que, incapaz de vencer a batalha das ideias, pretende impor o terror para sustentar sua hegemonia.”
A constatação de que a ameaça estadunidense não se restringe à Venezuela é um alerta que remete à história da unidade da América Latina. Não se trata de bravata. É, declaradamente, uma agressão, uma declaração de beligerância que, se não for contida, tende a se desdobrar. O histórico de agressão estadunidense à região – assim como em outras partes do mundo – revela que não se deve subestimar as ameaças de Trump.
São fatos que demonstram a falsidade dos argumentos da Casa Branca, em grande medida apoiados na guerra cultural midiática para tentar desqualificar e deslegitimar o governo e a institucionalidade da Venezuela, recurso formulado por equipes estadunidenses especializadas em assuntos latino-americanos, encarregadas do roteiro de hostilidades a agressões sistematicamente utilizado para justificar atos de barbárie.
Essa fórmula, presente também no genocídio palestino e na guerra da Ucrânia, na América Latina é repetida mais uma vez como combate ao narcotráfico e ao terrorismo, apoiado em bases militares. Ou seja: a agressão estadunidense impõe prioridade para o movimento integrador da América do Sul. O Brasil, principalmente, tem grande interesse no fortalecimento dessa integração por ser a principal economia da região e por suas imensas riquezas naturais.
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