Tuas mãos
Pablo Neruda
Quando suas mãos saem,
amada, para as minhas,
o que me traz brilhando?
Por que se detiveram
em minha boca, súbitas,
e por que as reconheço
como se outrara então
as tiveram tocado,
como se antes de ser
haveriam percorrido
minha fronte e a cintura?
Sua maciez chegava
balançando sobre o tempo,
sobre o mar, sobre o fumo,
e sobre a primavera,
e quando colocaste
tuas mãos em meu peito,
reconheci essas asas
de paloma dourada,
reconheci essa argila
e a cor suave do trigo.
A minha vida toda
eu andei procurando-as.
Subi muitas escadas,
cruzei os recifes,
os trens me transportaram,
as águas me trouxeram,
e na pele das uvas
consegui que te tocava.
De repente a madeira
me trouxe o seu contato,
a amizade me anunciou segredos importantes
até que as suas mãos
envolveram meu peito
e ali como duas asas chegaram ao fim a sua viagem.
[lustração: Amedeo Modigliani]
Leia também: "Tomara", um poema de Vinícius de Moraes https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/08/palavra-de-poeta_10.html
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