PCdoB defende a urgência de um projeto nacional para além de 2026
Debate propõe a construção de um novo plano nacional de desenvolvimento, liderado pela classe trabalhadora e sustentado por amplas alianças
Davi Molinari/Vermelho
Em um momento de encruzilhada histórica, o Brasil enfrenta o desafio de consolidar um projeto de transformação que combine soberania nacional, crescimento econômico equitativo e participação popular. Esse é o tom do debate promovido pela Fundação Maurício Grabois, na terceira mesa do ciclo de debates do PCdoB, realizado em Salvador, nesta segunda-feira (11), com o objetivo de aprofundar as Propostas de Resolução para o 16º Congresso do partido, marcado para outubro.
Mediado pela deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA), o encontro reúne figuras como José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, Diogo Santos, economista, e Aloisio Barroso, médico, dirigente do PCdoB, doutor em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp e diretor de Estudos e Pesquisas da Fundação Maurício Grabois. A discussão gira em torno da necessidade de um projeto nacional liderado pela classe trabalhadora, capaz de superar a dependência econômica e a dominação do capital financeiro.
Reconstruir o papel do Estado
A soberania nacional emerge como pilar central, com os palestrantes destacando a necessidade de recuperar o controle estatal sobre instrumentos econômicos estratégicos. José Sérgio Gabrielli contextualiza a perda de autonomia da burguesia nacional, que, na década de 1950, impulsionava a industrialização ao lado de uma classe trabalhadora combativa, especialmente nos setores metalúrgico e petroleiro. “A burguesia nacional se integra ao circuito financeiro globalizado, enfraquecendo o projeto nacional”, analisa. Ele defende que o Estado reassuma o protagonismo no desenvolvimento, como ocorria no passado.
Aloisio Barroso reforça que a soberania exige controle estatal sobre câmbio, política monetária e conta de capitais. “Sem isso, permanecemos reféns do mercado financeiro internacional”, alerta. Diogo Santos complementa, enfatizando que a democratização do Estado é ferramenta essencial para atender demandas populares, como saúde, mobilidade e saneamento, conectando o desenvolvimento estratégico às necessidades concretas da população.
Combate à financeirização e as reformas estruturais para o desenvolvimento
A financeirização da economia é apontada como obstáculo central ao progresso do Brasil. Adalberto Monteiro, secretário nacional de Formação e Propaganda do PCdoB, destaca que “a financeirização aprofunda a desvalorização do trabalho, a desigualdade social e regional”. Ele critica entraves como a autonomia do Banco Central e o teto de gastos, que classifica como “montanhas” que travam o desenvolvimento. Monteiro também lembra os ciclos regressivos da história recente, como a ditadura militar, o neoliberalismo dos anos 1990 e o golpe de 2016, que interromperam avanços sociais e econômicos.
Aloisio Barroso aprofunda a crítica, apontando o domínio do “capital fictício” — dinheiro desvinculado da produção — e um sistema bancário privado voltado à especulação e ao curto prazo. Para ele, uma reforma financeira que devolva ao Estado o controle sobre câmbio e política monetária é urgente, especialmente diante da influência de fundos internacionais como a BlackRock. Diogo Santos corrobora, afirmando que “a independência do Banco Central e as privatizações retiram do Estado instrumentos essenciais para dirigir o desenvolvimento”.
Protagonismo da classe trabalhadora: mobilização e alianças
A liderança da classe trabalhadora é consenso entre os debatedores. Monteiro destaca que, desde os anos 1980, a burguesia brasileira perdeu a capacidade de liderar um projeto nacional, cabendo agora à classe trabalhadora, em aliança com setores progressistas, assumir esse papel. “A mobilização popular é fundamental para alterar a correlação de forças no Congresso e na sociedade”, afirma, apontando as eleições de 2026 como momento estratégico.
Gabrielli analisa a evolução da classe trabalhadora, que, majoritariamente metalúrgica e petroleira nos anos 1950, hoje se expande em setores como educação, saúde e segurança. Ele defende que investimentos em ciência e tecnologia fortalecem essa classe, lamentando a ausência de um projeto estratégico claro.
Alice Portugal, mediadora, reforça que bandeiras concretas, como o fim da jornada 6×1, mobilizam o povo e garantem conquistas tangíveis. Em resposta a uma pergunta de Deivison Magalhães, que estava na plateia, sobre como enfrentar desafios estruturais em contextos de regressão, os palestrantes destacam que a mobilização popular, aliando lutas imediatas a uma visão estratégica de longo prazo, é o caminho.
Perspectivas para 2026: desafios conjunturais e estratégicos
O cenário eleitoral de 2026 é abordado como batalha crucial. Monteiro alerta que a vitória exige ampla aliança com forças populares e setores progressistas, citando a aprovação da Lei da Reciprocidade como oportunidade para ampliar a base de apoio ao governo Lula. Contudo, ele enfatiza que “as mudanças estruturais demandam tempo e luta contínua”.
Gabrielli aponta o “tarifaço” como tentativa de setores ligados ao governo norte-americano para inviabilizar Lula, alertando também para o papel das forças religiosas pentecostais como obstáculo político.
Diogo Santos destaca que sinergias com países do Sul Global, como a China, fortalecem a soberania, e defende que “a reconstrução do estado nacional é a mãe de todas as reformas”.
Um plano nacional de desenvolvimento liderado pelos trabalhadores e sustentado por amplas alianças
O debate realizado em Salvador reforça a urgência de um projeto nacional que vá além das disputas eleitorais, articulando soberania, combate à financeirização e protagonismo popular. A construção de um novo plano nacional de desenvolvimento, liderado pela classe trabalhadora e sustentado por amplas alianças, é apontada como o caminho para superar a dependência e a dominação financeira. Com as eleições de 2026 no horizonte, o desafio é combinar mobilização imediata com uma visão estratégica de longo prazo, capaz de reposicionar o Brasil como nação soberana e socialmente justa.
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