Como o desmatamento da Amazônia interfere na saúde da população?
Covid-19 e outras doenças chegam
até nós como consequência da degradação ambiental
CartaMaior
A preservação do meio ambiente nunca
esteve tão em voga quanto ultimamente, o assunto é de extrema importância, não
só pela vida dos seres vivos que ali habitam, mas também para a saúde ambiental
do planeta e do ser humano.
A degradação ambiental ocorre há anos, e cada vez
mais vemos de perto como esse descaso com as florestas interfere diretamente na
vida da população. Estudos científicos já atestaram que o desmatamento gera uma
cadeia de acontecimentos complexos, criando meios para que diferentes patógenos
mortais se espalhem entre os humanos. Doença de Lyme e a malária, por exemplo,
surgiram a partir daí.
São 40 mil espécies de plantas, milhões de insetos
e 400 mamíferos que estima-se ter na Amazônia, floresta que ocupa sete milhões de quilômetros
quadrados e faz parte de nove países da América do Sul. O especialista em
Gestão de Resíduos Sólidos e fundador da Oceano Resíduos, Rafael Zarvos, alerta
a necessidade das pessoas entenderem que desmatamento e doenças estão
relacionados.
"Infelizmente, somos a única espécie capaz de
destruir e de ameaçar a nossa própria sobrevivência. A forma como a sociedade
está transformando o meio ambiente e reduzindo os habitats naturais, faz com
que animais silvestres e seres humanos se aproximem. Isso potencializa o risco
de transmissão de variados patógenos da espécie deles para a nossa",
explica Zarvos.
Doenças como a zika, que somada a dengue e
chikungunya contabilizaram um aumento de 248% do número de casos no ano de
2019, é exemplo de enfermidade que veio da cena rural para a urbana pelo avanço
do desmatamento em áreas florestais. "A destruição da natureza coloca em
risco a nossa própria existência. O coronavírus, por exemplo, responsável pela
pandemia que vivemos, é fruto do contato de humanos com morcegos", destaca
Rafael.
Em relatório da Organização das Nações Unidas
(ONU), é possível ver que a cada quatro meses o ser humano tem uma infecção
originária de problemas relacionados ao meio ambiente, e que 75% das doenças
são de origem animal. O consumo de carne crua de animais silvestres, o
desmatamento, as mudanças climáticas e o tráfico ilegal de animais silvestres
são fatores que contribuem para facilitar o contágio de seres humanos por
patógenos que vivem na natureza e nas espécies que ali habitam.
"Cientistas especulam que o vírus que
desencadeará a próxima pandemia já está em circulação, é só uma questão de
tempo até sermos atingidos. Isso prova que está mais do que na hora de
prestarmos atenção no consumo de produtos, além de pequenos hábitos do dia a
dia que podem ser cruciais para ajudar o meio ambiente e a nós mesmos",
diz o especialista.
Zarvo diz, ainda que "Meio ambiente, problema da destruição e pandemia. As pessoas
precisam ter em mente que uma coisa está relacionada com a outra. Infelizmente,
somos a única espécie capaz de de destruir e de ameaçar a nossa própria
sobrevivência. A destruição da natureza coloca em risco a sobrevivência da
espécie humana. A forma como a sociedade está transformando o meio ambiente e
reduzindo os habitats, faz com que animais silvestres e seres humanos se
aproximem. Isso potencializa o risco de transmissão de variados patógenos aos
seres humanos. Uma publicação recente da biblioteca nacional de medicina aponta
que existem cerca de 165 espécies de doenças capaz de causar algum dano ao ser
humano.
Relatório da ONU mostra que a
cada quatro meses a gente tem uma infecção originária de problemas relacionados
ao meio ambiente, sendo que 75% das doenças que temos são de origem animal. O
impacto no meio ambiente de maneira negativa, acaba trazendo essas
consequências que agora estamos vendo na pele, que é a pandemia originada pelo
novo coronavírus.
Em relação ao desmatamento,
florestas estão sendo derrubadas para pasto, agronegócio. Mudanças climáticas,
por conta da alteração da temperatura. Inclusive, uma publicação que saiu hoje
no jornal diz que a Groenlândia atingiu um ponto irreversível no degelo depois
de 40 anos, e resultará no aumento de um milímetro por ano nos oceanos. Parece
pouco, mas vai gerar impactos negativos a quem mora em ilhas e perto da costa.
Um milímetro faz muita diferença. A partir do momento que você tem mudanças
climáticas com o aumento da temperatura, os micróbios começam a ter uma
sobrevida maior. Tráfico ilegal de animais silvestres. Todos esses fatores contribuem,
além do consumo da carne crua dos animais silvestres. Em relação ao
coronavírus, por exemplo, tudo indica que a contaminação ocorreu pelo morcego
no mercado chinês (mas ainda não está comprovado).
Na história, para dar outro
exemplo com origem já comprovada, o HIV, o vírus da Aids. Tudo indica que ele
teria passado para o ser humano na década de 30 através de tribos africanas que
faziam caça e domesticação de chimpanzés e macaco verde. Passou-se todas essas
décadas, quando veio a explosão, e teoricamente, o marco zero teria ocorrido
nos anos 80 com um comissário americano que morreu nos Estados Unidos após
viagem. Posteriormente, descobriu-se que surgiu na verdade em 1959, com
registro de um rapaz no Congo que morreu de doença não detectada, mas que teve
seu sangue congelado para posterior avaliação. Ebola é outro exemplo de doença
originária de animais silvestres, pois veio através do morcego de fruta.
A gripe aviária, aqui no
Brasil a Zika e por aí vai. Meio ambiente e doenças estão correlacionados, é
preciso tomar cuidado. De acordo com o relatório da ONU, quanto maior a
diversidade entre as espécies, mais difícil fica essa contaminação, pois passa
de uma espécie para outra até chegar na gente. Se você elimina todas as
espécies, ou se encurta a distância entre elas, você tem o que estamos vivendo
agora: uma pandemia.
E a relação de lixo descartado
incorretamente e doenças? A Peste Negra é um exemplo de doença que veio da
falta de higiene. Se você descarta o lixo incorretamente, atrai vetores como o
rato, por exemplo, que vai se aproximar e é vetor de doenças. Saneamento básico
também". (*Publicado originalmente em 'Ecodebate')
.
Tema político, veja: Quem
avisa que vai melar o jogo com tanta antecedência bom sujeito não é https://bit.ly/2TUCwlA
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