UMA GERAÇÃO DE BRAÇOS CRUZADOS
Thallys
Braga e Renata Buono, revista piauí
O
Brasil
tinha, em meados de 2021, mais de 11 milhões de jovens nem-nem — rapazes e
garotas de 15 a 29 anos, que não estudam nem trabalham. O grupo de jovens sem
perspectiva de estudo nem trabalho já era expressivo antes da pandemia, mas o
isolamento social aumentou o problema, e os nem-nem chegaram a 24% da população
jovem do país. Com receio de violar as regras de distanciamento social, um
terço deles sequer tentou encontrar trabalho. O problema se estendeu de tal
maneira que, no terceiro trimestre do ano passado, a cada 100 brasileiros
desempregados, 37 eram jovens. A desocupação total na juventude, fase
fundamental para definir a carreira de uma pessoa, pode deixar marcas
permanentes na trajetória de ascensão social de toda uma geração. A conclusão é
de uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV). O =igualdades desta semana ilustra o perfil dos jovens nem-nem.
No terceiro trimestre de 2021, o Brasil tinha
49,3 milhões de jovens de 15 a 29 anos, e um quarto estava sem estudar ou
trabalhar. Ao todo, 11,7 milhões de moças e rapazes eram considerados nem-nem —
o equivalente a 24% da juventude do país.
A quantidade de jovens brasileiros nem-nem
supera a população de alguns países. É o dobro, por exemplo, da população da
Dinamarca, que tem 5,9 milhões de habitantes. Se todos os rapazes e moças
brasileiros que não trabalham e não estudam migrassem para o território
dinamarquês, metade teria de ficar de fora.
O Maranhão tem a maior proporção de nem-nem. No
intervalo de julho a setembro de 2021, mais de 675 mil jovens maranhenses
estavam fora da escola e do mercado de trabalho, o equivalente a 36% da
população de 15 a 29 anos do estado. É quase o triplo da taxa observada em
Santa Catarina, estado com a menor proporção de nem-nem, que tinha cerca de 205
mil jovens nessas condições no mesmo período.
O risco de ficar sem trabalho e estudo afeta
desigualmente as meninas. No segundo trimestre de 2020, início da pandemia de
Covid, 32 a cada 100 moças brasileiras eram consideradas nem-nem. Entre os
meninos, a proporção era de 19 a cada 100.
Por contraditório que possa parecer, a pesquisa
mostra que jovens que concluem o ensino superior estão mais propensos a ficar
sem nenhum tipo de ocupação. Em meados de 2021, 16 a cada 100 moças e rapazes
com diploma universitários eram nem-nem. O número é maior do que o observado
entre aqueles que desistiram da graduação: 6 a cada 100 deles estavam sem
trabalhar nem estudar no mesmo período.
O Brasil tinha 13,4 milhões de pessoas
desempregadas no terceiro trimestre de 2021. Um terço delas — cerca de 5
milhões — pertencia ao grupo etário de 14 a 24 anos. São jovens considerados em
idade produtiva pelo IBGE, mas que não colaboraram de maneira alguma com o
mercado de trabalho.
disponíveis,
mas desistiram de procurar trabalho. As razões que levam à desistência podem
variar. No segundo trimestre de 2020, período seguinte à chegada da Covid ao
Brasil, o distanciamento social foi o que desmotivou um terço dos jovens
brasileiros desalentados a não buscarem trabalho.
*
Fontes: iDados; Danmarks
Statistik; IBGE/PNAD Contínua; Fundação Getulio Vargas; Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada.
.
Pesquisas eleitorais revelam
tendências que devem ser estudadas https://bit.ly/3Ixrze0
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