Arte não é lugar
para machismo
Cida Pedrosa*,
www.pcdob.org.br
Neste mês dedicado a lembrar e reforçar a luta das
mulheres, precisamos falar não somente das violências que nos afligem dentro e
fora dos nossos lares.
Por
Cida Pedrosa*
Também
é preciso discutir, e pôr em evidência, a desigualdade de gênero que nos impede
de alçar voos mais altos nos mais distintos setores da sociedade. Sempre que
tentamos ocupar posições e espaços que, historicamente, foram reservados aos
homens, a máquina opressiva do patriarcado é acionada para barrar os nossos
esforços. Quando não consegue evitar nossa “intromissão”, tenta tolher a nossa
ascensão para manter a condição de subordinação das mulheres em relação aos
homens. Isso ocorre na política, na ciência e até nas artes.
Mesmo
sendo um meio no qual predomina a ideia de liberdade, criatividade,
inclusão, o setor cultural não foge à regra quando a questão é a desigualdade
de gênero. Uma pesquisa realizada pelo IBGE (2018) mostrou que as mulheres que
atuam no campo da cultura ganham, em média 67, 8% do salário dos homens para
desempenhar atividades semelhantes. Só para se ter uma ideia do tamanho da
discrepância, em outros setores essa média fica em torno de 82%. E o problema
não se resume a uma questão salarial. Também falta reconhecimento.
A
representatividade das mulheres nos espaços dedicados à arte é insignificante
em comparação aos homens. Basta ver a quantidade reduzida de trabalhos de
mulheres nas coleções de museus e galerias em comparação aos de homens. Elas só
são maioria nas telas que expõem a sua nudez pela ótica masculina.
No
Recife, temos um exemplo concreto dessa desigualdade, que pode ser visto em um
passeio pela cidade. O Circuito da Poesia, um roteiro cultural composto
por esculturas em tamanho real de grandes nomes da literatura e da música
pernambucana, tem 19 homenageados. Apenas três são mulheres. A última, Janice
Japiassu, foi instalada neste mês de março nas celebrações pelo Dia
Internacional da Mulher.
Para
tentar igualar esses espaços, aprovamos um requerimento com indicação ao
prefeito João Campos (PSB) para que sejam homenageadas apenas mulheres até que
a paridade de gênero seja alcançada no Circuito, que existe desde 2005.
É
importante a população saber que, apesar da baixa representatividade, temos
muitas escritoras premiadas e reconhecidas nacionalmente pelas suas obras de
grande valor social e cultural. Dar visibilidade à produção dessas mulheres,
além de valorizar seu trabalho, contribui para demolir estereótipos arcaicos e
perversos que, por muito tempo definiram que a criatividade era patrimônio
exclusivamente masculino.
__
*Advogada, vereadora do Recife pelo PCdoB, escritora e foi vencedora do Prêmio Jabuti 2020 na categoria Poesia.
(Artigo
publicado originalmente no Brasil de Fato)
.
Veja: Fato novo nas eleições de outubro https://bit.ly/3MCkYl9
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