Serão normais os psicopatas?
Luciano Siqueira
Jamais me considerei autorizado a
questionar descobertas científicas — mesmo quando me incomodam ou sobre elas
alimento sérias dúvidas.
Se é trabalho científico divulgado em
revistas reconhecidamente competentes, após o que se costuma chamar de exame de
pares (cientistas da mesma área que se dispõem a dar o aval ao que está sendo
comunicado), mais ainda.
Quer um exemplo de descoberta que me
desagrada?
Essa que hoje é divulgada como algo
sério e consistente, de que a psicopatia não seria propriamente uma
enfermidade, mas produto da adaptação do ser humano ao ambiente em que vive.
O oportunismo e a insensibilidade que
caracterizam a personalidade psicopata seriam expressão dessa adaptação.
Cientistas envolvidos no estudo
consideram, por exemplo, que traços de personalidade próprios de um psicopata —
insensibilidade, ausência de empatia ou remorso, manipulação das pessoas — são
comuns entre executivos de grandes empresas.
Pode ser.
Em defesa desses executivos pode-se até
argumentar com a lógica própria do sistema, que desconhece qualquer
conveniência humana na ânsia do lucro máximo e da acumulação do capital a
qualquer custo. Inclusive de vidas humanas.
Nos primórdios desse sistema hoje
dominante, jornadas de 14 a 16 horas diárias eram comuns na exploração do
trabalho de homens, mulheres e crianças.
A muito custo a classe operária
alcançou direitos, inclusive a redução da jornada de trabalho diária para 8 horas.
E a labuta semanal para 40 horas em alguns países.
Hoje, a perversidade do sistema se
refaz em toda linha com o que se tem chamado de uberização das relações de
trabalho, em muitos aspectos um retorno à primeira revolução industrial.
O sistema é operado por quadros
dirigentes, proprietários diretos do capital ou prepostos.
O modo de pensar e de agir próprio do
psicopata bem se presta a gestores da superexploração do trabalho humano e da
negação de direitos fundamentais.
Seria essa uma das razões para se
afirmar "cientificamente" que psicopatia não é propriamente uma
doença e sim o exercício de traços de personalidade dos que se adaptam a
funções de mando no sistema econômico socialmente tão injusto?
.
Veja:
Por que
Sérgio Moro não decola? https://bit.ly/3Ip1ywJ
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