Existem muitas opções
estratégicas; a melhor é a mais bem executada
Treinadores portugueses do
Brasil estão mais atentos ao que acontece no mundo
Tostão, Folha de S. Paulo
Na
véspera da final da Copa do Mundo de
2002, jornalistas alemães presentes na sala de imprensa me disseram
que era a pior seleção da Alemanha dos últimos anos. Isso não diminui a
brilhante conquista brasileira, mas serve para lembrar que, na época, o jogo
coletivo estava estagnado, chato, pragmático e previsível.
Depois
do Mundial, o futebol começou a mudar para melhor, progressivamente. O
Barcelona, dirigido por Guardiola,
iluminou o espetáculo, que se espalhou pela Europa, criando muitas variações da
maneira de jogar e de comportamento.
Alguns
craques baixinhos, meio-campistas, como Xavi, Iniesta e outros, voltaram a ser
badalados. O Brasil não acompanhou essa evolução e, só recentemente, após o 7 a 1 e a chegada de vários treinadores,
estrangeiros e brasileiros, começou, aos poucos, a jogar um futebol mais
moderno e eficiente.
O
jogo, especialmente na Europa, está muito mais intenso, com menos espaços entre
os setores, com mais pressão para recuperar a bola, com variação da marcação
mais adiantada e da mais recuada, com mais troca de passes e triangulações e
tantos outros detalhes.
Individualmente,
houve também evolução da parte técnica. Os goleiros aprenderam a jogar fora da
área e, junto com os zagueiros, desenvolveram um melhor passe. Há mais
jogadores capazes de atuar de uma intermediária à outra. Os cruzamentos das
laterais são mais fortes e mais difíceis para a defesa. Os goleiros são mais
altos e rápidos, uma das razões da diminuição do número de gols de falta.
Os
treinadores que gostam de atuar com três zagueiros usam, cada vez mais, pelos
lados, pontas hábeis, dribladores e velozes no lugar de laterais com funções de
alas. Os times pressionam, deixam quatro jogadores no próprio campo (três
zagueiros e um volante) e atacam com seis. O Bayern atua quase sempre
dessa forma. Outros clubes europeus fazem o mesmo.
O Palmeiras também tem usado meias ofensivos, como Scarpa,
como alas. O Flamengo coloca o meia Everton Ribeiro ou mesmo um atacante, como
Vitinho, como ala esquerdo. Os treinadores portugueses que atuam no Brasil
estão mais atentos ao que acontece no mundo.
Existem
muitas opções estratégicas. A melhor é a mais bem executada, no momento certo e
de acordo com o adversário. Entre as tantas histórias do futebol, verdadeiras
ou inventadas, uma deliciosa é a de Garrincha, após a preleção de Vicente
Feola, antes do jogo contra a Rússia, na Copa de 1958, quando Mané perguntou ao
treinador: "Já combinaram com os russos?".
O CRIADOR E A CRIATURA
O Galo Doido, personagem símbolo da torcida do Atlético, foi
suspenso por um jogo porque pressionou o jogador do Cruzeiro que comemorava o
gol. O criador, a pessoa que estava dentro da vestimenta de Galo Doido, é quem
deveria ser punido.
Isso me faz lembrar que, na vida, muitas pessoas usam a
personagem para se proteger de atitudes ilegais, absurdas, imorais, como o deputado que ofendeu
as ucranianas e todas as mulheres do mundo. Ele se justificou
dizendo que era um áudio privado, uma conversa com amigos, como se o
responsável fosse a personagem, não ele.
No mundo, é frequente pessoas criarem personagens para viver, conviver em sociedade, o que é compreensível, desde que não façam grandes besteiras. "Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi ao espelho, já tinha envelhecido (Fernando Pessoa).".
Veja: Onde a luta encontra a poesia https://bit.ly/3E95Juz
Nenhum comentário:
Postar um comentário