Belos lances do futebol
têm a ver com o desejo que está antes do pensamento
O craque, em uma fração de segundo, não pensa, faz;
ele sabe, mas não sabe que sabe
Tostão, Folha de S.Paulo
Na
eliminação do Fluminense na Libertadores, para o Olimpia, do Paraguai, o
gramado parecia muito maior do que o máximo permitido. Os espaços eram enormes
para as duas equipes, uma afronta ao futebol moderno, como se fosse uma pelada
oficial.
O
Fluminense não marcou com oito ou nove jogadores próximos à área para
contra-atacar, como fez o América, com sucesso, contra o Barcelona de
Guayaquil, nem pressionou para tentar recuperar a bola antes do gol. Não foi
ativo nem reativo.
O Fluminense jogou com três zagueiros, com Felipe Melo,
dentro da área, marcando o goleiro Fábio, dois alas encostados à lateral, três
na frente e apenas dois jogadores no meio-campo, para preencher um grande
espaço. Não havia aproximação dos atletas. O time perdia facilmente a bola.
Os
erros são do técnico e dos jogadores, assustados, paralisados com a pressão
paraguaia, mas nenhuma decepção justifica a violência dos torcedores do
Fluminense.
Já
no clássico entre Palmeiras e Corinthians, o gramado parecia pequeno, pela
pressão para recuperar a bola, especialmente feita pelo Palmeiras. Abel Ferreira e
os jogadores não deixaram o Corinthians ter a bola, como Vítor Pereira
planejava. O volante Danilo marcava Renato Augusto de perto, de uma
área à outra. A marcação do Palmeiras era individual, mas respeitando os setores.
Gosto
muito das estratégias, mas o que mais me encanta são os lances bonitos,
imprevisíveis, como o passe dado por Renato Augusto, por cima do zagueiro, para
Fagner, que perdeu o gol, na única vez em que Danilo deixou Renato Augusto em
paz.
Mas
o lance mais bonito da semana foi o do jovem meio-campista Pedri, do Barcelona,
na vitória sobre o Galatasaray, quando, sem tocar na bola, driblou um zagueiro,
depois outro, deixando os dois no chão, para tocar no canto. O treinador Xavi
sorriu. Deve ter se lembrado do companheiro Iniesta.
A
ucraniana Clarice
Lispector, craque da literatura, era obcecada pelo que havia antes
do pensamento, antes da palavra. Ela disse: "Escrever é o modo de quem tem
a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa
não-palavra –a entrelinha– morde a isca, alguma coisa se escreveu".
A
improvisação e a execução de belos lances do futebol têm a ver com o desejo que
está antes do pensamento. O craque, em uma fração de segundo, não pensa, faz.
Freud diria que é um saber inconsciente, pré-consciente. Ele sabe, mas não sabe
que sabe.
O
mestre, jornalista Armando Nogueira,
falava que esses espetaculares lances ocorrem por um reflexo medular, sem
passar pelo cérebro, pela consciência. Os atuais neurologistas dizem que é uma
inteligência espacial, cinestésica. Os craques, sem pensar, percebem tudo o que
está à volta e calculam a velocidade da bola, dos companheiros e dos
adversários.
O
poeta Fernando Pessoa falaria que muitas coisas não têm explicação, têm
existência. O craque é.
LIGA DOS CAMPEÕES
Dos
oito times classificados para as quartas de final, apenas Benfica e Villarreal
não estão entre os candidatos ao título. Em jogos mata-mata, pode haver
surpresas. O Atlético de Madrid não tem o brilho dos mais festejados, mas sabe
jogar na defesa e contra-atacar. A eliminação do
Manchester United pelo Atlético de Madrid não foi surpresa.
HOMENAGEM
Parabéns
a Formiga, grande jogadora da seleção brasileira, presente em sete Copas do
Mundo, imortalizada na calçada da fama do Mineirão. Estou contente de estar ao
lado dela.
.
Veja: Por que Sérgio Moro não decola? https://bit.ly/3Ip1ywJ
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