Bolsonaro produz últimos factoides
em busca de fúria e atenção
Na reta final
do governo, capitão quer extinguir Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos
Bernardo Mello Franco, O Globo
O bolsonarismo
guardou um factoide para a reta final do governo. Quer extinguir a Comissão
Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, criada em 1995 pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso.
A ex-ministra Damares
Alves entregou o órgão ao advogado Marco Vinicius Pereira de Carvalho,
admirador do golpe e da ditadura militar. Ele convocou uma reunião para a
próxima semana com o objetivo de decretar o fim do colegiado.
A notícia, revelada pelo jornal O Estado de
S. Paulo, produziu as reações esperadas. A Comissão Arns recorreu ao Ministério
Público Federal contra o que classificou como uma ameaça ilegal. A Procuradoria
lembrou que o Brasil ainda não cumpriu suas obrigações com a Corte
Interamericana de Direitos Humanos, que determinou a busca e a identificação de
ossadas dos mortos na Guerrilha do Araguaia.
Na prática, a canetada de Carvalho terá
efeito limitado. Se for mesmo extinta, a comissão tende a ser recriada pelo
novo governo no início de janeiro. A intenção do bolsonarismo é outra: chocar a
opinião pública e provocar indignação na esquerda. O capitão vive disso desde
1991, quando debutou em Brasília como deputado do baixo clero.
No quarto mandato na Câmara, Jair Bolsonaro
mandou imprimir um cartaz com a inscrição “Desaparecidos do Araguaia: Quem procura
osso é cachorro”. A peça foi pendurada na porta de seu gabinete. Rendeu fotos
nos jornais e discursos inflamados na tribuna.
Há dois dias, o futuro ex-presidente usou o
Diário Oficial com o mesmo objetivo. Nomeou André Porciuncula, capitão da PM baiana,
como secretário especial da Cultura. O bolsonarista se notabilizou como um
provocador de extrema direita. Em março, tentou direcionar verbas do
audiovisual à produção de filmes e podcasts para incentivar a compra de armas.
Porciuncula foi o número dois do
ex-secretário Mário Frias, ex-galã de “Malhação” que reapareceu como bobo da
corte bolsonarista. O PM deixou o cargo para se candidatar a deputado, mas não
conseguiu se eleger. Ao resgatá-lo no apagar das luzes do governo, Bolsonaro
faz o deboche final com os artistas — e tenta atrair os últimos minutos de
fúria e atenção.
Um tempo novo no Brasil com o novo governo Lula: possível, sim; mas nada está previamente garantido https://bit.ly/3Y6nLZF
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