Reflexões
sobre o indigenismo
Eduardo
Almeida/Portal da Fundação Maurício Grabois
Esse
texto traduz apenas uma tentativa de reflexões pauteiras ligeiras, baseadas em
vivências, observações, conversas e alguma leitura, que possam atrair críticas,
reparos e provocar estudiosos e trabalhadores indigenistas a exporem suas
impressões. Trata-se, portanto, de uma proposta de colocar o indigenismo
em debate de modo público, num momento marcante para os povos indígenas no
Brasil e no mundo.
Para que indigenismo?
Todos nós temos ascendência indígena. Sim, 100% da população atual da Terra,
distribuída por variados países, descende de povos “originários”.
Daqueles coletivos humanos que de algum modo lograram deixar descendência,
escapando de genocídio cabal. Antes que surgisse entre as comunidades
humanas algum tipo de organização estatal, todas mantinham sistemas de vida e
organização típicas de caçadores-coletores, ou mesmo de agricultores e
criadores insipientes; provavelmente de modo não muito diverso dos povos
indígenas, “tribais”, autóctones ou aborígenes que conhecemos nos tempos atuais
ou recentes pelo planeta afora, considerados os mais distintos ambientes.
A
condição indígena ou autóctone certamente não se define apenas por ausência de
estado ou de vida sedentária. Outros fatores, inclusive relativos a
aspectos políticos de dominância, podem tornar povos sedentários e que tem ou
tiveram organização de tipo estatal própria como “indígenas”, às vezes
“minorias” nacionais, étnicas ou raciais.[2]
Assim,
num contexto planetário de oito a dez mil anos atrás, ainda que provavelmente
houvesse povos em expansão e povos em retração e algum tipo de
dominância/submissão sociopolítica de etnias sobre/ante outras, não haveria,
por hipótese, necessidade de indigenismo “político”, tal qual concebemos
hoje. Todos os agrupamentos humanos eram “indígenas”. Conviviam, se
aliavam, disputavam territórios, competiam por recursos e tal. Se a 8 ou
10 mil anos atrás, em escala planetária, os homo sapiens eram
100% indígenas, e o surgimento de nações-estado se deu de modo gradual,
bastante lento, e não linear, ao longo do tempo e espaço, há 150 anos (ou bem
menos!), em certos bolsões regionais de alguns continentes também predominavam
povos indígenas, sem, até então, presença permanente ou constante de Estados ou
Sociedades Nacionais que disputassem ostensivamente tais territórios, ainda que
os reclamassem como parte do território nacional.
Tentando
extrapolar o conceito clássico contemporâneo que se aplica a indigenismo
(político)[3], alguma prática de condução e
intermediação, pactuante ou impositiva, conveniente, entre os primeiros estados
nacionais e impérios, de um lado, e, de outro, os povos indígenas vizinhos ou
invadidos, englobados unilateralmente, “conquistados”, submetidos, ou ainda
objeto de projetos de conquista, começou a ser adotada desde tempos
remotos. Isso nos seduz a sugerir uma ideia de origem ancestral próxima
entre “indigenismo” e “diplomacia”. Relações exteriores, coloniais e
interiores, atreladas a alguma perspectiva geopolítica, pela vinculação de tais
posturas com as buscas e disputas das nações-povos por recursos naturais,
espaços vitais, escravos, estratégias de expansão ou defesa, ganhos comerciais,
tributos, etc. Os estados invasores, imperiais ou coloniais, muitas vezes
foram substituídos por outros, rivais, ou por novos estados nacionais que se
tornavam independentes, no mais das vezes continuadores, herdeiros, das
práticas colonialistas de esbulho, agressão, genocídio ou submissão opressiva
sobre os povos indígenas abarcados em seus pretensos territórios nacionais.
Então, como definir
indigenismo?
Em
linhas gerais, poderíamos definir indigenismo como uma atitude de condução do
trato conveniente entre estados/sociedades nacionais e povos indígenas, sob a
iniciativa e ponto de vista dos primeiros. Quando se apresentava conveniente
a condução poderia ser, pretensamente ao menos, pacífica, ou, no mais das
vezes, o recurso usado era o da guerra, do extermínio, da expulsão ou submissão
pela força. Ou uma mescla dessas duas estratégias. Na prática, em estados
e sociedades de tradição imperial-colonial, essa condução política serve, em
última análise, como instrumento de dominação, com uso muito frequente de
estratégias de assimilação e/ou integração, dos povos minoritários.
Assim, o indigenismo pressupõe, a nosso ver, uma situação de assimetria de
poder entre agrupamentos humanos etnicamente diversos, um dominante, geralmente
estatal, outros dominados. Por outro lado, registremos que a as
expressões indigenismo e indigenistassão compreendidas no senso comum, pelo
menos na América Latina, como relacionadas a atitudes pró povos
indígenas. Na verdade, bem sabemos, muito indigenismo e tantos
indigenistas, políticas ou pessoas, nem sempre foram ou são efetivos, coerentes
ou mesmo honestos na pretensão da solidariedade, apoio, promoção ou proteção
dos povos indígenas.
Se
há indigenismo, há também sua correspondência simétrica de iniciativa e ponto
de vista de algum povo indígena, tribal ou autóctone, em geral minoritário, com
território ou áreas de trânsito e sobrevivência abarcados por nações-estado
prepotentes. As posturas políticas desses povos serão invariavelmente de
resistência. De confronto e luta, mas também, em dadas circunstâncias, de
busca de acordos e pactuações de convivência pacífica[4]. Não tenho conhecimento de
um termo para a atitude de povos indígenas de condução pacífica, ou
pacificadora, “amansadora”, de suas relações com estados/sociedades nacionais
Tais atitudes são reais, bem documentadas pela antropologia. Poderiam
talvez ser chamadas de “estadismo”.
Impérios, colonialismo versus povos indígenas
Ao
longo do tempo e do espaço, história e geografia, ao sabor de circunstâncias,
conveniências, oportunidades, contatos, correlações demográficas e de força,
trocas e confrontos políticos e culturais, a atitude indigenista variou e se
transformou. A expansão mercantilista ocidental, o colonialismo como
fenômeno global, desembocando na revolução industrial e ascensão do capitalismo
até sua fase imperialista globalizada acentuaram enormemente a escala das
agressões, esbulhos, extermínios, submissões e opressões de povos indígenas,
facilitados pela continuada sofisticação da letalidade dos recursos bélicos e
repressivos das pretensas ou reais potências imperiais, seus Estados,
corporações econômicas e sociedades. Some-se a isto as desvantagens[5] dos povos indígenas
geograficamente isolados por longos tempos, no que tange à experiencia com
imunidades a epidemias de alta letalidade, no confronto com sociedades densas,
sedentárias, agromercantis e (depois) industriais, originadas sobretudo na
contígua Eurásia.
No
plano das ideias, as nações-estado imperiais, vivendo suas opulências, culturas
grafas, trocas e intensas contradições, experimentaram, a partir da Era
Moderna, construir, acumular e sofisticar conceitos filosóficos, políticos,
culturais, religiosos, jurídicos e ideológicos de justiça, paz, democracia,
tolerância, etc. Postulados novos ou ressignificados que abriam conflito,
de um modo ou de outro, com os processos opressivos costumeiros que prevaleciam
no trato com povos autóctones inseridos em seus domínios imperiais, influindo
assim no que poderíamos identificar como indigenismo político e social moderno
e, mais tarde, contemporâneo. Na América Latina independente dos séculos
XIX e XX esse processo ideológico ganha um componente importante a partir das
construções identitárias e culturais nacionais, onde seus povos originários,
indígenas, adquirem relevante papel simbólico, genético e sociocultural.
Assim, grosso modo, chegamos ao indigenismo republicano na América Latina do
século XX e suas inescapáveis contradições com o sistema político hegemonizado
por classes dominantes de mentalidade excludente e racista, herdeira renitente
das posturas eurocêntricas, colonialistas e escravocratas.
Indigenismo positivista
no Brasil
Inserido
nesse contexto, o indigenismo positivista do militar Cândido Mariano Rondon
representou, no Brasil do começo do século XX, um importante e sensível
instrumento e chamamento de solidariedade e amparo à resistência dos povos
indígenas. Um renovado ensaio de contraponto ideológico e de ética
humanitária às posturas tradicionais oportunistas, muito difundidas entre classes
dominantes e outros setores da sociedade, de agressão, guerra, escravização,
massacres, expulsão e conquista de povos indígenas, esbulho de seus territórios
e recursos naturais. Ensaios que efetivaram práticas construtivas que
geraram importantes acúmulos.
Não
surpreende, porém, que, apesar de seus expressivos impactos positivos, o
indigenismo rondoniano falhasse em estancar a lógica colonial etnocêntrica do
esbulho e genocídio. Como política de estado, sequer conseguiu prevalecer
transversalmente na ação do Poder Público; ao contrário. Ou mostrar capacidade
de atender à imensa demanda de situações a resolver. Povos indígenas de
contato mais antigo, com domínio da língua portuguesa e que adotavam hábitos da
população não-indígena regional eram frequentemente menosprezados pelo Serviço
de Proteção aos Índios. Se havia a novidade de um indigenismo
parcialmente protetor de forte discurso ético (“morrer se preciso for, matar
nunca”), o país e o mundo experimentavam também uma progressão crescente da
economia e suas demandas por recursos naturais e mercados. Resultado do
sistema capitalista insaciável, promotor de conflitos e desigualdades.
Além disso, o indigenismo rondoniano, carregava contradições que
comprometiam sua coerência enquanto projeto humanista pró-indígena. Um de
seus pressupostos básicos tinha natureza preconceituosa e etnocêntrica, na
medida que dividia os brasileiros em “civilizados” e “silvícolas” – este último
termo uma espécie de versão abrandada e romantizada do conceito de bárbaros.
Embutia mitos e uma incompreensão, hora ingênua, hora presunçosa, prepotente,
da igualdade biológica essencial absoluta entre todos os que compõem nossa
espécie, independente de raça, etnia, crenças ou tradição cultural.
Presumia superioridade do que entendiam, ou ainda entendem, por civilização,
vista como destino inexorável e salvação da humanidade. Com isso, adotava
o integracionismo, a negação de identidade de um grande de número de povos
resistentes, o assimilacionismo, a tutela e, consequentemente, a emancipação da
mesma, o que significava, nas definições oficiais, legais e ideológicas, o fim
da condição indígena. O próprio SPI – Serviço de Proteção aos Índios
(1910), em sua origem, destinava-se também à “localização de trabalhadores
nacionais” (SPILTN). O termo indígena era descartado em benefício do conceito
de índio, uma evidente racialização reducionista. Em suma, o indigenismo
rondoniano, conquanto trouxesse contribuições relevantes à causa da Resistência
Indígena e satisfizesse amplos segmentos pró-indígenas na sociedade, não fugia
de postulados centrais do universo ideológico da sociedade e estado
oligárquico-burgueses que o admitiam marginalmente. Um traço marcante
constante na história do SPI foi a escassez crônica de verbas e precariedade de
formação da maioria de seus servidores. O sentido salvacionista, a abordagem
“heroica”, ou “romântica”, a mentalidade paternalista, individualista e de
possessividade tutelista, as práticas de colonialismo interno, se faziam
presentes e sobreviveram até mesmo nas versões posteriores, mais evoluídas,
modernizadas, da prática indigenista rondoniana.
O
indigenismo inspirado no Marechal Rondon, em seu estado “puro”, genuíno, era
denso em boas intenções e produziu frutos generosos, sobretudo sob o
protagonismo de servidores públicos, alinhados aos princípios republicanos,
positivistas e cristãos de honestidade, retidão, devoção missionária e
idoneidade. Muitos desses indigenistas eram manifestamente nacionalistas
ou democratas e simpáticos a ideias socialistas-comunistas. Alguns também
integralistas. Os primeiros estados socialistas (1917, 1949) inauguraram
posturas democratizantes inéditas no reconhecimento de direitos e respeito a
povos indígenas e minorias étnicas em geral. Grandes nomes se
notabilizaram na prática indigenista do SPI, dentre eles, Francisco Meirelles,
“sertanista”, confesso simpatizante comunista. Francisco Meirelles,
ao lado de sua destacada entrega à causa indígena, defendia ideias
integracionistas, talvez por uma leitura sectária da concepção evolucionista em
voga na época, adotada por correntes marxistas, que já se chocava, desde os
anos 40 pelo menos, com novos conceitos científicos da etnologia. Ao
mesmo tempo, influências científicas surgiam no âmbito do Conselho Nacional de
Proteção do Índio – CNPI[6], criado em 1939, que atuou em
conjunto com o SPI, e novas vertentes de práticas indigenistas, também de
grande valor humanista, através da Fundação Brasil Central, criada em 1943,
onde despontaram os irmãos Orlando e Cláudio Villas-Boas, considerados também
“sertanistas”. Estes abdicavam do viés integracionista, mas se mantiveram
defensores da tutela. A tradição “sertanista” inaugurada por Rondon
e que se estende até os dias atuais, voltada para o trato com os povos indígenas
isolados, reflete, de algum modo um traço de herança colonial que remete a
“entradas e bandeiras”, que frequentemente preavam indígenas para escravização
pelos sertões.
Novas vertentes do
indigenismo versus Ditadura
As
práticas e as contribuições de cientistas sociais[7] propiciaram a que
indigenistas e indigenismo fossem se descolando dos vícios tutelistas,
integracionistas e “reservistas”, num processo de franco ajustamento de
posturas que iriam redundar, gradativamente, nas décadas seguintes, em
vertentes distintas mas confluentes em certas concepções de indigenismo
bastante modificadas, de maior efetividade e coerência.
No
entanto, quando da crise administrativa do SPI, já sob a Ditadura Militar, a
criação da Funai – então Fundação Nacional do Índio, em 1967 – e a promulgação
do Estatuto do Índio (Lei 6001), em 1973 – ainda se deram nos marcos da tutela,
do integracionismo e na prática do “reservismo”. A Funai, um órgão federal
instável e oscilante, operando quase sempre com verbas e servidores
insuficientes, pouquíssimos quadros qualificados, nesses aspectos uma
continuidade autêntica do SPI, amparado na heterogênea Lei 6001, teve momentos
de florescimento, mas também de retrocesso e autoritarismo. Apresentou
avanços, ora substanciais ora relativos, sobretudo nos campos dos direitos
territoriais (demarcação de terras indígenas), na expansão de serviços de
proteção legal, e na assistência de saúde. Na educação os avanços foram
mais lentos e difíceis[8]. Uma influência
significativa do indigenismo político dos EUA, potência capitalista à qual o
Brasil da Ditadura se alinhava, foi a de “reservar terras” (deslocamento, apartheid,
confinamento) ao invés de identificar e demarcar os territórios de ocupação
tradicional de um povo. Uma prática perversa, porém, muitas vezes adotada
pragmaticamente como única alternativa de momento “face à conjuntura
adversa”. Correspondia ao interesse das classes dominantes em desocupar
terras indígenas (limpeza étnica, esbulho territorial) em seu proveito próprio,
econômico e/ou político. Essa visão vem do SPI e sobreviveu, como
terminologia e conceito, às fases iniciais da Funai e se difundiu amplamente na
sociedade brasileira com ajuda da forte expansão cultural-propagandística
americana do pós-guerra no país. Vide, como exemplo, a “reserva” de Dourados
(MS), alguns “toldos” do Sul, o caso dos Kariri-Sapuyá na Bahia, entre outros
tantos casos. Ainda assim, difundiram-se a partir dos anos de Ditadura
Militar – e até hoje muito bradadas – as críticas reacionárias aos avanços no
Direito e nas políticas e práticas indigenistas, sobretudo no quesito do reconhecimento
dos territórios indígenas. As classes dominantes trataram de difundir motes do
tipo “o índio é obstáculo ao desenvolvimento” e [as terras demarcadas
significam] “muita terra para pouco índio”. A Ditadura Militar brasileira
se propôs a “tirar os índios do caminho” de seus projetos de “integração
nacional’, ocupação desornada da Amazônia, atração de investimentos
estrangeiros, etc. O autoritarismo arbitrário e bitolado agregou ainda na
política e prática indigenista do Estado as obsessões com “segurança nacional”,
“perigo comunista” e outros fanatismos e fantasias subalternos a serviço do
capital imperial internacional. A influência estadunidense, de certa
forma, contribuiu, em combinação com o autoritarismo do regime militar, para
uma alienação e despolitização da postura indigenista no Brasil.
Resistência Indígena (+
indigenismo) versus capitalismo
A
ideologia do primado da “civilização” – que no fundo se traduz, desde a
Antiguidade, na primazia dos sistemas de apropriação-exclusão-opressão-genocídio-etnocídio
– atravessa os tempos e adentra o século XXI como consorte do capitalismo e sua
lógica do lucro. As Resistências Indígena e Indigenista, o indigenismo
calcado em princípios democráticos e de direitos humanos, e a própria ideia de
democracia plural efetiva representam pedras no sapato do sistema baseado em
lucro e mercado. O indigenismo vive ao sabor das oscilações do poder
oligárquico-burguês entre avanços na maré da precária democracia liberal e os
retrocessos de autoritarismos geralmente subservientes aos interesses
oligárquicos e capitalistas imperiais.
Não
são pouca coisa, porém, os avanços políticos logrados pela Resistencia Indígena
nas últimas décadas de crescente articulação nacional, continental e
mundial. Um processo que se articula com outros em escala global:
emergência floral dos movimentos de afirmação étnica; combate ao racismo, a
etnocentrismos e a entulhos colonialistas; de desenvolvimento e engajamento das
ciências humanas; de ascenção de movimentos pró direitos humanos, surgimento de
ONGs de solidariedade internacionais; inserção da temática indígena entre as
pautas do Sistema da Organização das Nações Unidas – ONU, etc. Na América
Latina, Brasil incluído, ao longo dos anos 70, observa-se o avanço na postura
das pastorais missionárias cristãs, sobretudo na Igreja Católica (CIMI), e o
surgimento das ONGs indigenistas. Junto com a ascensão do Movimento
Indígena, são talvez um dos mais expressivos sintomas da decadência da velha e
contraditória democracia burguesa euroestadunidense. Imprimem marcas, junto a
outros fenômenos, no advento de uma nova ideia de democracia, de inspiração na
pluralidade, na diversidade, na sustentabilidade, na superação do
patriarcalismo, na prevalência dos interesses coletivos sobre os individuais –
ou seja, com um pé em fundamentos do socialismo. As lutas em torno das
emergências ambientais planetárias e as mudanças geopolíticas emparedam o
imperial capitalismo e confluem com a luta maior dos povos indígenas em escala
mundial.
A
repercussão desses fenômenos sobre as expressões de indigenismo no Brasil nos
anos 80 e 90 é, naturalmente, considerável. No entanto, as bases
ideológicas, como sabemos, são persistentes. De qualquer modo, o
indigenismo, agora mais diverso e cada vez mais supervisionado pelo Movimento
Indígena, avança na vivência de suas próprias contradições e de uma percepção
maior de como se dá sua inserção na ordem econômica, social e política
nacional, continental e mundial. O advento da redemocratização no Brasil
(1985) e, em sequência, a Assembleia Nacional Constituinte (1987 a 88,
culminando com a atual Constituição Federal), e a adoção pela Organização
Internacional do Trabalho – OIT de nova Convenção sobre Povos Indígenas e
Tribais, a de nº 169, em 1989, expressam a maturação de um processo rico de
contestações e debates das velhas políticas de forte cunho colonialista.
Não por acaso ou coincidência, em junho de 1987, por iniciativa coletiva de
indigenistas engajados no trabalho com povos indígenas isolados e sob a
coordenação de Sidney Possuelo, acontece, em Brasília, o I Encontro de
Sertanistas que resolve propor à FUNAI a política do “não-contato”[9], uma mudança substancial nas ações
do órgão, após a intensificação do alargamento das fronteiras econômicas do
país a partir dos anos 60 e uma sucessão de episódios traumáticos desastrosos
de “pacificação”.
Apesar
de suas vulnerabilidades políticas, tanto o Movimento Indígena quanto,
subalternamente, o indigenismo, adentram o século XXI com percepções mais
aguçadas em relação a suas contradições estruturais com o sistema capitalista e
a velha ordem oligárquica de herança colonial. Portanto, mais atentos a
seu vínculo essencial com as lutas gerais por democracia social e plural.
No Brasil o processo de construção democrática, embora tenha alcançado
patamares importantes, segue frágil e instável. Logicamente isso se deve
ao modo como o país se insere até aqui na ordem mundial vigente.
Analisando apenas dos anos 60 para os dias atuais, o indigenismo “oficial”
experimentou avanços, sim, em certas fases, mesmo com um marco legal atrasado,
integracionista, durante os anos de Ditadura, mas isso não impediu que
ocorressem crimes brutais contra os povos indígenas. Na fase da chamada
Nova República e após a CF88, também períodos bons se alternando a períodos de
retrocesso, e mesmo nos momentos bons ocorriam graves ataques contra povos
indígenas, muitas das vezes por consequências diretas ou indiretas de políticas
do próprio Estado. A FUNAI permaneceu um órgão instável, bastante visado
por setores retrógrados oficiais, adquirindo fama, inclusive, por abrigar
expressivo “entulho autoritário”. Quando a democracia parece
avançar entre 2003 e 2016, novamente instabilidades e políticas públicas
contraditórias e desalinhadas; e, na sequência, retrocesso democrático no país
com impactos negativos fortes sobre a política indigenista, que adota contornos
de franco genocídio oficial.
O
Movimento Indígena perdeu suas ilusões com discursos inconsistentes, e assim
parece também acontecer com o indigenismo, constantemente premido por
ambiências alienantes e desagregadoras. Acirram-se as contradições do
indigenismo democrático com o Sistema. Evidencia-se mais e mais a crise
crônica do indigenismo brasileiro. Crise de identidade e autorreflexão,
de capacitação orgânica e consistência ideológica, de reconhecimento no âmbito
do Estado, de insuficiência de quadros, capacidades e meios.
“Estadismo” e
indigenismo no século XXI
O
“estadismo” indígena – um reverso do indigenismo de estado e sociedade
envolvente – impõe a necessidade de um novo Estado, democrático pleno, plural,
e, naturalmente, promove um impacto forte sobre o indigenismo, mesmo o mais
sensato, consciente e coerente, de maior qualidade e melhores resultados, tal
qual conhecemos até aqui. Sepulta todo e quaisquer resquícios de
tutela, de soberba civilizacionista ou tecnológica, de sociedades e estados
opressivos. Em 2003, início do primeiro governo Lula, que se elegeu
explicitamente compromissado com a causa indígena, ensaia-se o desenho
participativo de uma “Nova Política Indigenista”, com ênfase na proposta de
realizar a primeira Conferência Nacional de Política Indigenista. Durante
três dias no mês de julho daquele ano a FUNAI realizou em Brasília o seminário
“Por uma nova política indigenista”, congregando lideranças e quadros
indígenas, organizações, movimentos e uma ampla representação indigenista,
traçando um plano base para a construção da 1ª Conferência Nacional de Política
Indigenista pensada para realizar-se ainda em 2003 ou no ano seguinte por um
processo de conferências preparatórias por todo o país. O projeto foi
desativado pelo governo e tal conferência só veio a se realizar em fins de 2015,
ainda assim com resultados de pouco impacto real face à conjuntura golpista que
já se instalava no país.
Se
o Estado assume, ou ensaia assumir, contornos “plurinacionais” de democracia
social inclusiva, mudam necessariamente as premissas de sua ação indigenista.
O processo é mundial. A própria ONU inaugura, em 2002, seu Foro
Permanente de Assuntos Indígenas – PFII na sigla em inglês, com composição
paritária de membros entre representantes de povos indígenas e de estados
nacionais. Quadros indígenas tendem a assumir a formulação e condução da
política indigenista em consulta com as representações étnicas. Não há
mais lugar (já não havia) para indigenismos personalistas,
possessivistas-tutelares ou paternalistas. Mas, sem dúvida, o indigenismo
segue necessário. Continua a necessidade de políticas e atitudes de
estado em relação às nações indígenas.
No
Brasil, as novidades de 2022/23 são muito importantes, indiscutivelmente.
Já em 2018, em meio a um processo golpista de ascensão da extrema direita
racista, o país vê ser eleita, com voto indígena de base e outros apoios, sua
primeira deputada federal indígena, Joênia Wapixana. Registre-se também
que, na mesma eleição, por primeira vez, o país viu uma líder indígena, Sonia
Guajajara, Coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB,
figurar como vice numa chapa à Presidência da República. Ao mesmo tempo,
em evidente ação golpista orquestrada por alas ultradireitistas de setores
capitalistas internacionais, o país elege um chefe de estado nitidamente
fascista, racista, negacionista, militarista e anti-indígena que instala um
retrocesso considerável na política indigenista, aparelhando a FUNAI para
interesses etnocidas e genocidas, fomentando invasões e violências e
paralisando as demarcações de terras. Um governo explicitamente
neoliberal e dócil ao capitalismo imperial de natureza mais crua e selvagem.
Não
obstante, na eleição de 2022, a extrema direita é derrotada no pleito
presidencial, com o retorno das forças políticas de centro-esquerda, Luís
Inácio Lula da Silva à frente, que, dessa vez, assume compromissos mais
explícitos, embora apenas verbais, com a causa indígena, incluindo a criação do
Ministério dos Povos Indígenas. Nessa mesma eleição o país vê a vitória
de duas deputadas federais (ou 4, ou 5[10]…), desta vez majoritariamente por
votos não indígenas. “Aldeiar a política”, um movimento liderado pela
APIB e sua dirigente Sônia Guajajara, uma das deputadas agora eleitas e hoje
ministra de estado, promoveu um aumento expressivo de candidaturas indígenas
por todo o país, com votações inéditas. Uma mostra mais que cabal que para a
opinião pública brasileira a causa indígena importa.
Avanços
relevantes, creditáveis amplamente à luta persistente do Movimento
Indígena. Vale lembrar que em 2002, Lula, apoiado por amplas forças,
também se elegeu com compromissos formais assumidos com os povos
indígenas. No entanto, tais “Compromissos” não foram efetivamente
cumpridos em pontos cruciais. Inclusive o documento que os formalizou
chegou a ser queimado em manifestação pública liderada pela COIAB, em
Manaus. Por trás da frustração, o mítico argumento da
“governabilidade”. Políticos institucionalistas (“tradicionais”, “velha
política”, “democracia consentida” pelas classes dominantes) da aliança de
centro-esquerda mostraram-se sensíveis, na prática, ao mito difundido pelas
forças reacionárias influentes no Congresso Nacional de que os povos indígenas
representavam “obstáculo ao desenvolvimento” e risco à “segurança
nacional”. Travas foram impostas aos vários avanços reclamados, vacilos
criados no enfrentamento de questões cruciais, como a demarcação da TI Raposa
Serra do Sol e as graves situações da região Guarani Kaiowá do Mato Grosso do
Sul, entre inúmeros outros casos crônicos. Ainda no primeiro governo
Lula, alianças com o velho indigenismo rondoniano conservador foram
estabelecidas. Nenhuma iniciativa persistente importante foi tomada visando
dotar o país de uma lei ordinária central que regulamente a Constituição
Federal de 1988. O PL do Estatuto dos Povos Indígenas mofa, entre idas e
vindas, nas gavetas do Legislativo desde 1991. A ausência de legislação
ordinária essencial fragiliza a ação indigenista democrática em qualquer
plano. Enquanto o Movimento Indígena avançava em todo o mundo, no Brasil
o sistema político fortemente influenciado por forças retrógradas e corruptas,
consegue impor um clima de defensiva no parlamento, onde um grande número de
PLs e PECs tentam suprimir direitos indígenas em benefício de interesses do
grande capital, da destruição ambiental, de atividades ilícitas e de
politicagens regionais. É imperioso lembrar que os expressivos avanços,
inclusive legais, da causa indígena no Brasil ao longo de muitas décadas nunca
contaram com correlações de forças rigorosamente “favoráveis” no parlamento
nacional ou Assembléias Constituintes. Outros fatores, vinculados à luta
de resistência dos povos indígenas, ao apoio popular a essas lutas e à luta
ideológica ampla, esses sim, explicam as conquistas alcançadas. Insere-se
ainda nesse ciclo de surto retrógrado, o surgimento da absurda tese do “marco
temporal” no Judiciário Brasileiro.
Nesse
início de 2023 o Brasil ganha um Ministério dos Povos Indígenas, preponderância
de protagonismo indígena na condução dos órgãos que exercem a política indígena
(FUNAI – agora não mais “do Índio” mas dos Povos Indígenas, mais as políticas
públicas específicas de saúde e educação nos seus respectivos ministérios),
expectativa de reativação do Conselho Nacional de Política Indigenista – CNPI,
da retomada das demarcações de terras e proteção efetiva das áreas de
incidência de povos indígenas em isolamento voluntário e de recente contato, da
desintrusão de invasores, sobretudo garimpeiros, madeireiros, grileiros,
especuladores e agricultores, e de enfrentamento, sem impunidade, das práticas
racistas, ameaças, agressões e assassinatos de lideranças e cidadãos indígenas
(e indigenistas) em todo o país. Surgem esperanças também de que seja
reativado o processo de mobilização da Conferência Nacional de Política
Indigenista e, em paralelo, de um amplo trabalho político no Congresso e em
todo o país para aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas, consagrando o patamar
de democracia ampla e plural que o país reclama. Com sorte o Brasil
poderá conquistar uma PEC que estabeleça representações institucionais para
povos indígenas e outras minorias no Congresso Nacional e no Judiciário, além
de galgar o patamar de país plurinacional e multiétnico em sua carta magna.
Os
desafios postos à política indigenista no Brasil de 2023 são portentosos.
Nunca o movimento indígena brasileiro mostrou-se tão forte, poderoso e tão
explicitamente apoiado pela sociedade civil. Por outro lado, os setores
anti-indígenas reacionários mostram nível elevado de radicalização e
articulação, bancados por uma ultradireita ousada, golpista de nítidos
contornos fascistas. As situações de conflito, insegurança e violência
que vitimam os povos indígenas no Brasil seguem sendo muitas, persistentes e,
em muitos casos, agravadas. Impõem-se determinação, coragem, lucidez e
habilidade política.
Indigenismo em
perspectiva
Em
vista do panorama histórico e da dinâmica de conflitos do presente, o
indigenismo democrático e os indigenistas têm diante de si o desafio de
refletir e reavaliar concepções e posturas. Entender o imperativo de colocarmos
o indigenismo ajustado à tarefa de conquistar e consolidar direitos e espaços
de participação cidadã plena dos povos indígenas no Estado-Nação Brasileiro em
todas as instâncias. Assumir consciência:
- da relação intrínseca entre a
Resistência Indígena e as lutas democrática plural inclusiva e pelos
direitos humanos no país e no mundo; portanto,
- acolher o primado democrático dos
direitos coletivos e difusos sobre os individuais, e
- sem vinculação com as lutas
democráticas populares e antifascistas não pode haver indigenismo
estruturalmente coerente e consequente;
- que os avanços legislativos e
institucionais são fundamentais para não sujeitar a política indigenista e
o indigenismo como um todo às instabilidades políticas a que o país tem se
sujeitado nos últimos anos – não temos garantias absolutas que o país não
venha a sofrer golpe de estado de ultradireita nem que esses segmentos
racistas não voltem a vencer eleições nacionais em 2026;
- da natureza antissistêmica do
indigenismo nos marcos do sistema imperial-capitalista neoliberal que,
inequivocamente, conspira contra e nega regimes democráticos plurais e
inclusivos;
- do papel indissociável da luta
indígena e indigenista das lutas pela paz e a sustentabilidade no planeta;
- da necessidade de agregar
amplamente apoios e solidariedade nos processos das lutas pelos direitos
democráticos dos povos indígenas e isolar os polos contrários que tentam
negar esses direitos;
- quanto à importância de absorver,
registrar e sistematizar conhecimentos acumulados por vivências e práticas
do indigenismo, assim como da manutenção indispensável de elos estreitos
com a produção científica nos campos afins das ciências sociais, sobretudo
da antropologia;
- de que o indigenismo não é
monopólio do estado, pode e deve ser exercido pela sociedade civil.
E, no Estado, precisa se mostrar transversal e coerente, nos três poderes:
Executivo – em suas várias políticas públicas e órgãos, no Judiciário e no
Legislativo; e em todas as esferas administrativas – ou seja, incluindo
estados e municípios.
Enquanto
atividade profissional, o indigenismo precisa de um reconhecimento devido,
amparo e valorização. Conquistar reconhecimento e respeito efetivo, geral
e institucional, não será algo fácil nem natural num ambiente social, político
e ideológico adverso como o que temos tido sob a ordem do capital e das
heranças colonialistas e racistas. Exige afirmação, luta política e
ideológica, imposição democrática. Vale lembrar que o indigenismo e
muitos indigenistas foram alvos de ataques e perseguição política. Um
capítulo a destacar foi a perseguição, pela Ditadura Militar, em 1980, à SBI –
Sociedade Brasileira de Indigenistas, então recém fundada, com a exoneração
sumária, pelos coronéis da FUNAI, dos seus dirigentes e fundadores. Mais
tarde, em 1993, os perseguidos foram “beneficiados” com ato de anistia. A
anistia aos indigenistas, porém, não significou, na prática, reparação devida
aos prejuízos marcantes que a maioria dos perseguidos sofreu em suas vidas.
A
função indigenista requer, sem dúvidas, vocação, postura, preparo, formação,
treinamento, atitudes de diálogo e consultas, sobretudo aos povos indígenas e
suas representações, e constantes reciclagens. Reivindica um código de ética.
Pede atitude de entrega, engajamento, desprendimento, espírito de militância e
“sacerdócio”. Requer também coragem ante a ferocidade irracional do
racismo fascista, a frequente falta de escrúpulos do capital ganancioso e a
bandidagem corrupta associada. Indigenismo não se encaixa bem com
voluntarismos, posturas presunçosas, antiéticas e dolosas, preconceitos
étnicos, estreitismos políticos, vaidades exacerbadas, possessivismos,
grupismos, negacionismos e tais. Que o indigenismo signifique uma Nova
Mulher e um Novo Homem, senhas para um planeta resgatado em sua plenitude.
Eduardo A. Almeida – indigenista.
Itanagra, BA, Março 2023.
Foto
disponível em:
https://www.camara.leg.br/radio/programas/756054-povos-indigenas/
[1] Em suas versões iniciais esse
texto foi franqueado a indigenistas e lideranças indígenas de notória
experiência e vivência. Agradecemos as críticas, sugestões e incentivos
de vários deles e delas. Muitas das ricas sugestões foram incorporadas ao
artigo. Convém registrar, de modo especial, as contribuições à maturação
das ideias do texto vindas de Cristina Ribeiro, Susana
Grillo, Antenor Vaz, Armando
Soares e Frederico Oliveira.
Frederico Oliveira nos franqueou acesso ao trabalho de Carlos Augusto da Rocha
Freire, Sagas
sertanistas: práticas e representações do campo indigenista no século XX,
obra de grande valia para uma compreensão histórica do indigenismo no Brasil
republicano.
[2] Embora o foco dessas
reflexões esteja no indigenismo brasileiro, consideramos essencial sempre ter
em mente que o indigenismo político é um fenômeno mundial.
[3] Um dos primeiros registros da
expressão indigenismo como conceito político vem do Congresso Indigenista
Interamericano realizado em 1940 na Cidade do México.
[4] Ver, entre outros, Pacificando
o branco, cosmologias do contato no norte amazônico, organizado por
Bruce Albert e Alcida Ramos.
[5] Conforme me lembra Antenor
Vaz, convêm evitar falar em vulnerabilidades, pois estas não seriam absolutas
nem constantes, mas relativas ou circunstanciais.
[6] Não confundir com outro CNPI
– Conselho Nacional de Política Indigenista, proposto no Compromisso com os
Povos Indígenas (2002) e criado em fins de 2015 com duração efêmera. O
Conselho Nacional de Proteção do Índio contou com a antropóloga Heloisa Alberto
Torres como conselheira desde sua fundação.
[7] Vários etnólogos, brasileiros
e estrangeiros, contribuíram expressivamente, apesar das dificuldades que
encontravam, para o amadurecimento científico, ideológico e jurídico do
indigenismo no Brasil desde os tempos do SPI e depois na instituição da
FUNAI. Dentre esses, forçoso citar Heloisa Alberto Torres, Eduardo
Galvão, Darcy Ribeiro, Carlos
Moreira Neto, Olímpio Serra e Manuela
Carneiro da Cunha. Vide ainda a histórica Declaração [do
Encontro] de Barbados, 1971, em que o Brasil esteve representado por quatro
destacados antropólogos: Darcy Ribeiro, Carlos
Moreira Neto, Silvio Coelho dos Santos e Pedro
Agostinho da Silva.
[8] Normas da própria FUNAI
preconizavam, ainda na década de 1980, conteúdos integracionistas e alienantes,
colonizadores mesmo, na educação escolar ministrada pelo órgão nas aldeias.
[9] Ver Isolados
no Brasil – política de estado: da tutela para a política de direitos – uma
questão resolvida?, Antenor Vaz, Informe IWGIA 10, 2011.
[10] Sonia Guajajara (PSOL,
SP), Célia
Xakriabá (PSOL, MG), Juliana Cardoso (PT,
SP), Paulo
Guedes (PT, MG) e Silvia Wayampi (PL,
AP). As duas primeiras foram eleitas com bandeiras nítidas do Movimento
Indígena. A última, militar de carreira, está ligada a um partido de
extrema direita notoriamente opositor dos direitos indígenas.
Ver,
compreender e agir https://bit.ly/3Ye45TD
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