Mórbida precisão científica
Luciano Siqueira
Cientistas calculam tudo. O que é imprescindível e o que nem importa tanto assim.
Essa é a minha impressão, modesto leitor sobre o assunto.
Agora mesmo fico sabendo, através de matéria publicada n'O Globo, que a tripulação do Titan percebeu o desastre mortal entre 48 e 71 segundos antes da implosão.
O submersível, que desapareceu no último dia 18 durante em expedição para visitar os destroços do Titanic, teria afundado em "queda livre" antes do seu inesperado fim.
Como terá sido feito o cálculo não me interessa. É detalhe para estudiosos.
Inesperado fim digo eu, que estou há anos luz de entender do assunto. Pode até ter sido um risco calculado pelos aventureiros que encararam a empreitada.
Porque esse é um fenômeno sobretudo deste atribulado século XXI. Multimilionários provavelmente entediados porque, a seu juízo, conseguiram tudo e quedaram em monotonia exasperante, inventam aventuras o máximo possível arriscadas.
Desejam experimentar o frisson do que imaginam o instante preciso entre a vida e a morte.
Para contarem a aventura posteriormente, se sobreviverem, em tom triunfal e se possível lucrativo.
Os aventureiros do Titan se deram mal. Mas não significa que outros não tentem empreitadas semelhantes.
Cá com meus modestíssimos botões, considero que a vida em si mesma já é uma imensa aventura.
Maravilhosa e emocionante aventura. Plena de possibilidades e de riscos.
E não me interessa nenhum cálculo que diga respeito à morte. Que ela venha quando eu já não puder, em limite extremo, sobreviver.
Aliás, o único cálculo que de fato me agrada é o de que em caso de queda de avião — meio de transporte que me dá muito prazer —, com a despressurização, em 10 segundos o passageiro perde os sentidos.
Ou seja, se for o caso, nem saberá que morreu.
Fora disso é tocar a vida, que como ensina Gonzaguinha, "...é bonita/E é bonita.../Viver!/E não ter a vergonha/De ser feliz."
"O custo de um pequeno gesto" - uma crônica sobre a indiferença https://tinyurl.com/27mvmzdw
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