O encanto das palavras
Luciano Siqueira
Neste 15 de novembro marcado pela loucura climática no Brasil e mundo afora, li pela primeira vez a palavra espanejar. Precisamente "espanejar-se", numa crônica de Cecília Meireles.
Já removi o pó sobre o meu próprio corpo, sobre os livros da biblioteca ou móveis diversos da casa em ocasionais faxinas, assim como contemplei muitas vezes a graça de um pequeno pássaro agitar suas penas para se livrar de gotículas d'água da chuva.
Mas não sabia que isto é espanejar-se. Soube agora, repito.
Gosto, admiro e até me orgulho da língua portuguesa brasileira pela sua riqueza de termos e sentidos e sua fascinante musicalidade.
Talvez por isso mesmo é sempre um prazer sem limites encontrar palavras por mim jamais lidas ou pronunciadas.
A cada descoberta, a consciência de que falamos e escrevemos na língua que, em constante formação, ora faz ressurgir palavra antiga e quase em desuso, ora incorpora novas palavras como expressão da experiência coletiva.
Como todo amor tem suas contradições e insuficiências — nada é perfeito —, ao longo dessa vida que já percorre a sétima década, jamais dominei a gramática, suas regras e contingências.
Vergonha e remorso entretanto não sinto, pois figuras ilustres padecem ou padeceram da mesma deficiência. Como Fernando Sabino — extraordinário cronista —, que não se pejava por admitir publicamente que escrevia tendo à mão um dicionário e uma gramática, para corrigir em tempo real lagunas e equívocos.
Produtivos lapsos de insônia https://bit.ly/3y3TPAS
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