25 novembro 2023

Minha opinião

Governo Lula 3 sobre terreno minado*

Luciano Siqueira

Os que leram o instrutivo tratado "Sobre a guerra", de Carl von Clausewitz, terão apreendido que uma condição essencial a um bom estrategista é o conhecimento o mais completo possível do terreno em que se dá a batalha.

Esse é um elemento a considerar no balanço do primeiro ano do governo Lula 3, a se fazer nos próximos dias.

A aprovação pelo Senado da PEC que limita os poderes do STF, agora encaminhada à Câmara, é sinal expressivo de quão minado é o terreno em que o governo opera. O conflito entre o legislativo e o judiciário, que tende a se acirrar, é sinal de algo mais complexo, diz respeito ao desmonte paulatino do Estado nacional concebido na Assembleia Constituinte de 1988.

Hoje, sobretudo após os desastres de Temer e Bolsonaro, um cipoal jurídico-formal torna cada vez mais disfuncional o Estado brasileiro, vale dizer uma máquina pública que dificulta a todo instante todo e qualquer passo adiante em termos minimamente progressistas.

Um elemento que pesa na real consideração da correlação de forças entre o "novo", representado pelo governo Lula 3, e o "velho", as forças políticas e sociais derrotadas no último pleito presidencial — que é preciso examinar em sua devida complexidade, para muito além do que a luta pela formação de uma maioria quantitativa na Câmara e no Senado.

Tudo parece conspirar contra a plena execução da agenda de reconstrução nacional empunhada pelo governo. 

Não apenas a retomada das políticas públicas socialmente compensatórias, mas sobretudo o incremento da economia do país com base em investimentos públicos e privados de grande dimensão na infraestrutura e em atividades industriais têm pela frente esse enorme dique de contenção — cujos principais patrocinadores estão no rentismo e no poderoso agronegócio exportador, articulados com o capital financeiro externo.

Daí a absoluta necessidade de proceder a avaliação do primeiro ano do governo Lula 3 não apenas exaltando as corretas e boas intenções do presidente, à testa da frente democrática que com ele governa, mas igualmente considerando a complexidade dos obstáculos que a elas se opõem.

E levar o debate à base da sociedade, que devidamente esclarecida pode produzir a mobilização necessária com a qual o governo ainda não conta.

*Texto da minha coluna semanal no portal Vermelho 

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