Equador: violência e dolarização
Um território com um estado ausente torna-se terra de ninguém, como também o demonstra o domínio do narcotráfico da Amazônia brasileira
Luis Antônio Paulino/Vermelho
Essa narrativa, embora aponte as causas imediatas da atual onda de violência, falha em explicar suas causas mais profundas que é o desmonte do Estado equatoriano ao longo dos anos. O Equador vem passando por um processo de privatização das funções do Estado há anos. Na área de segurança, por exemplo, o contingente de pessoas empregadas na segurança privada já é superior ao das forças públicas. Um território com um estado ausente torna-se terra de ninguém, como também o demonstra o domínio do narcotráfico da Amazônia brasileira.
No caso do Equador, até de sua moeda nacional o país abriu mão quando decidiu enterrar o sucre, sua moeda local, cujo nome homenageava o general Sucre, libertador do Equador durante as campanhas lideradas por Bolivar no século 19, trocando-o pelo dólar norte-americano. Muitos poderiam se perguntar: o que tem a dolarização do país, realizada há mais de 20 anos, a ver com o aumento da violência?
Tem tudo, não apenas pelo abandono de sua própria moeda, mas sobretudo pelo que isso representa: a renúncia de sua elite política e econômica de dirigir seu próprio país, de ter um projeto de nação que atenda aos interesses coletivos e ao desenvolvimento nacional. Ao hipotecar parte importante de sua soberania ao banco central dos Estados Unidos a elite equatoriana deixou clara sua traição aos interesses nacionais e mandou o recado a todos que quisessem se aproveitar do país: venham, aqui é terra de ninguém, não existe Estado, tudo está à venda, inclusive o próprio país.
A adoção do dólar como moeda local tornou o país um local ideal para a lavagem de dinheiro do tráfico internacional. Estima-se que cerca de 3% do PIB equatoriano, o equivalente US$ 3,5 bilhões, são provenientes da lavagem de dinheiro do narcotráfico (O Globo, 20/11/2023). Como destacou a matéria do Globo, “Além da lavagem de dinheiro, os ajustes neoliberais adotados primeiro pelo governo do então presidente Lenín Moreno e depois pelo atual governo de Guillermo Lasso — ambos seguindo as recomendações de um acordo firmado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) —, promoveram medidas que levaram a um processo sistemático de cortes na área de segurança. Além disso, a percentagem de pessoas em situação de pobreza aumentou gradativamente nos últimos anos, e passou de 21,9%, em 2019, para 25,5%, em 2022 (…) Ho je, 5 milhões de pessoas vivem com apenas US$ 3 por dia, e 2 milhões com menos de US$ 1,70. Essa situação de pobreza e miséria, abre espaço para que muitos acabem se envolvendo com o tráfico”. Infelizmente a Argentina está indo para o mesmo caminho.
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