Enio Lins opina

Não existem povos superiores, nem perfeitos
Enio Lins*

 

Vamos a questão lançada na edição de ontem: É possível ser judeu e nazista? 1) Judeu é um povo e/ou uma condição étnica, e/ou uma religião. 2) Nazista é quem defende a superioridade racial, e que os mais fortes devem eliminar ou subjugar os mais fracos, defende o extermínio em massa de grupos que considere hostis, e considera seu direito inalienável a um “espaço vital” contra todos e contra tudo. 3) O que impede somar 1+2?

EXCLUSIVIDADE ALEMÃ?

Nessa definição de nazistas se enquadram os militaristas japoneses que não eram germânicos nem tinham judeus como alvos principais, mas massacraram chineses, coreanos – até americanos – e quem mais consideravam como raças inferiores que “ocupavam indevidamente” o “espaço vital nipônico” (quase tudo banhado pelo Oceano Pacífico). Praticaram impiedosamente o nazismo, em versão japonesa, até engolirem duas bombas atômicas (americanas), em Hiroshima e Nagazaki.

FATOS CONTRA SOFISMAS

Não existe povo uno, capaz de pensar ou agir como se fosse uma só pessoa. O povo judeu, como o povo americano, ou russo, ou árabe, ou europeu, ou tupinambá, é diverso. Para usar vocábulos em moda, existe judeu do bem e existe judeu do mal. Existem judeus de esquerda, de direita, de centro e de todos os posicionamentos éticos, ideológicos, políticos. Judeus são humanos, assim qualquer “gói”. E mais: Israel não é sinônimo de "povo judeu", pois inúmeros góyim, sem quaisquer ligações étnicas com o povo hebreu, optaram pela cidadania israelense e, sionistas por adesão, podem exercer funções importantes.

CANHOTA JUDAICA

Judeus comunistas nunca foram novidade: Marx, Rosa de Luxemburgo, Trotsky, Zinoviev, Kamenev, Radek, Litvinov, Piatnitski, Kaganovich, Iezhov, Lozovski, e tantos outros, assombraram o mundo capitalista. No Brasil não foi diferente, com destaques para Leôncio Basbaum, Jacob Gorender, Maurício Grabois, Clara Sharf, Iara Iavelberg, Vladmir Herzog, Salomão Malina, só para citar alguns nomes, além de Olga Benário, judia alemã, que faz parte da história europeia e brasileira.

JUDEUS CAPITALISTAS

Taí uma lista do tamanho do bonde! Para resumir, sugiro a leitura da obra “Os Judeus, o Dinheiro e o Mundo” (apenas 648 páginas), de Jacques Attali, banqueiro modesto e intelectual exuberante, judeu francês de naturalidade argelina. Detalhe: na lista de Attali sobre grandes financistas na história, está Yitzchak ben Yehuda Abravanel (nascido em Lisboa, 1437, e morto em Veneza, 1508) – que entre seus descendentes figura um brasileiro, Senor Abravanel, que fez fortuna no ramo da comunicação, e confunde a cabeça alheia que não entende como “um camelô” teria virado milionário.

JUDEUS NAZISTAS?

Segundo o pesquisador americano Bryan Mark Rigg, em seu livro “Os Soldados Judeus de Hitler”, ao mesmo tempo em que milhões de hebreus (nos diversos níveis de "mestiçagem" definidos pelas normas alemãs) eram exterminados em massa na Alemanha e nos países ocupados, existiu uma condição especial – o Deutschblütigkeitserklärung, certificado pessoalmente assinado pelo Führer, autorizando a aceitação de militares de origem judaica nas forças armadas nazistas, considerando-os "mestiços". 

Rigg, em sua publicação de 524 páginas, apresenta farta documentação sobre pessoas de ascendência hebraica - (cerca de 150 mil no total) que chegaram a alcançar patentes superiores na Wehrmacht e até teriam ocupado cargos relevantes no Partido Nazista. Essa condição não deve ser confundida com a tristemente famosa Jüdischer Ordnungsdienst (Gheto Polizei), polícia (formada por judeus) que trabalhava para os nazistas nos guetos e campos de concentração.

Chocou-se? Por ora, fiquemos por aqui. Um intervalo: os próximos dias abordaremos outros temas, mas a coluna terá de voltar a essa pauta horrorosa, pois o terror nazi-sionista não vai interromper o holocausto de palestinos na Faixa de Gaza nem na Cisjordânia - a pelo menos até Israel ocupar 100% daqueles territórios palestinos que os sionistas consideram o “espaço vital israelense”- e essa denúncia não pode ser calada.

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