01 abril 2024

Enio Lins opina

31 de março de 1964: mais uma tentativa de golpe, sem sucesso no dia

Há exatos 60 anos, em Minas Gerais, tropas do Exército se mexeram para um golpe, mas dormiriam na estrada, sem alcançar seu objetivo
Enio Lins



Mineiro de Diamantina, Olímpio Mourão Filho nasceu em 1909, filho de um deputado e de uma professora. Expulso do Colégio Diocesano, passou pela Faculdade de Engenharia, antes de se fixar como aluno da Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, aos 18 anos. Dali seguiu carreira no Exército. Em 31 de março de 1964, então comandante da IV Região Militar, sediada em Belo Horizonte – incentivado por Magalhães Pinto, então governador de Minas Gerais – resolve dar um golpe de Estado por conta própria, se antecipando aos planos dos demais conspiradores.

ISOLADO NA ESTRADA

Nenhum dos outros oficiais golpistas se mexeu para apoiar efetivamente sua iniciativa. Mourão não contava com a simpatia dos parceiros de sedição– que brigavam entre si para ver quem comandaria o motim, numa indefinida guerra intestina, com cada “astro” querendo se aboletar na cadeira presidencial. Segundo os comentários, desde 29 de março o grupo do general Castelo Branco teria proposto 2 de abril como a data para o bote final da direita contra o Estado de Direito. Aí, o “general do pijama vermelho” tentou sair na frente, mas foi “estacionado” no meio da estrada.

POPEYE SEM ESPINAFRE

Com seu movimento atrevido, o general Mourão virou a unanimidade “do contra” entre os grupos subversivos da extrema-direita: além de Magalhães Pinto, ninguém de peso militar e/ou político o acompanhou, o acudiu, em seu gesto açodado naquela terça-feira, 31 de março. Sua “Operação Popeye” assim batizada por ele mesmo em homenagem ao próprio hábito de fumar cachimbo, não recebeu nem uma folhinha de espinafre dos colegas. Suas tropas amotinadas viraram a noite em isolamento, sem Olívia e sem palito, e viram raiar o primeiro dia de abril longe do poder desejado.

OPERAÇÃO BROTHER SAM

Enquanto isso, em águas caribenhas, navios de guerra da Segunda Frota Naval americana começavam a se mexer, surpreendidos com a precipitação. Diz a Wikipédia: “às 13:50 [de 31/3/1964] o contra-almirante John L. Chew determinou o envio da força-tarefa com o porta-aviões USS Forrestal e dois destroieres com mísseis teleguiados para as vizinhanças de Santos [São Paulo], onde poderia receber novas ordens”. Através do embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, os golpistas eram monitorados e orientados pelo Pentágono. Evidências de que os conspiradores receavam os setores democráticos e temiam a reação da parte sã das forças armadas.

GOLPISTA GOLPEADO

Dias depois, com o golpe enfim vitorioso, Magalhães Pinto, mineiramente, reconheceu o revés e se enquadrou, “batendo continência”. O general Mourão teve negadas todas as suas aspirações e, excluído da mesa dos comensais da morte da Democracia, sequer foi atendido em sua última pretensão de ser comandante do I Exército. Como “prêmio de consolação”, seus camaradas o arquivaram no Superior Tribunal Militar, posição figurativa e definitivamente longe do comando de quaisquer tropas. No ostracismo, morreu em 1972, criticando o regime militar ajudara a implantar.

MEMÓRIAS A RESGATAR

Laurita Mourão, filha e memorialista, publicou em 2002, o livro “Mourão, o general do pijama vermelho”, onde defende a memória do pai e o avalia como “incompreendido” em dois momentos históricos nos quais se destacou: em 1937, “serviu de bode expiatório e foi enganado” (no episódio do “Plano Cohen”, documento falso atribuído a ele, e usado como uma das justificativas para o golpe do Estado Novo) e em 1964, pois “nunca foi a favor do fechamento do Congresso”.

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