Luzes do Rio
Odimariles Dantas*
O Rio Capibaribe corre lento e caudaloso no bairro das Graças “beira rio”. No entardecer do Recife, sobre a Ponte da Capunga, olho a margem oposta, através do seu leito, percorro o manguezal que o abraça, protegendo-o do asfalto que qual monstro voraz já engoliu boa parte de seu habitat, assim como do intenso e poluente tráfico que ali circula.
Olhando através do mangue, vejo pontos luminosos e pisca-piscas que parecem vagalumes vermelhos, brancos e amarelos, iluminando vez por outra a margem interna do rio, dando uma visão lindamente paradoxal. Imagem linda de um rio que pede socorro, seu leito poluído impede que a vida floresça. Esgoto da cidade, longe dali lixo em abundância, sofás, colchões, eletrônicos, plásticos e tantas coisas mais.
Rio depósito de lixo, rio esgoto, rio descuidado. Rio que faz Recife ser chamada a Veneza Brasileira, banhando a cidade quando entrecruza suas pontes ligando os bairros da Boa Vista e Santo Antônio.
Recife linda, Recife linda e resistente, Recife que luta, Recife que se banha nas águas de seus rios.
Que as águas do Rio renovadas em seus 240 km, de sua nascente na Serra do Jacarará no Município de Poção, estado de Pernambuco até sua Foz quando deságua no Oceano Atlântico nos traga esperança esperançante e lave todas nossas agressões ao Rio da Beira Rio. Rio que serpenteando Recife me faz lembrar a música do Bloco da Saudade, cantada e encantada por Maria Betânia: “Vejo o Recife prateado. A luz da lua que surgiu. Há um poema aos namorados. No céu e nas águas dos rios...
[Ilustração: Louis Schlappriz]
*Médica, professora e cronista
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