28 junho 2024

Enio Lins opina

O jornalismo investigativo, livre e solto, e sua relevância para a humanidade
Enio Lins

Depois de cinco anos preso na Inglaterra, por exigência dos Estados Unidos, o jornalista australiano Julien Assange foi finalmente liberado em decorrência de um acordo, no qual o jornalista foi obrigado a mentir e assumir a inverdade de que seria “espião”. O resultado prático dessa mentira pessoal foi libertação do próprio declarante, vítima de uma prisão injusta e imposta como forma de aterrorizar quem ouse denunciar, especialmente com base em documentos oficiais, crimes de uma superpotência econômica e militar.

LIBERDADE DE IMPRENSA

No Brasil, disse a Federação Nacional dos Jornalistas: “A retirada de 17 das 18 acusações contra o fundador do WikiLeaks é uma vitória dos jornalistas em todo o mundo, do direito de informar e ser informado e representa importante impulso à liberdade de imprensa” e que “a libertação de Assange contribui para evitar a criminalização das práticas jornalísticas e encoraja as fontes a partilharem confidencialmente provas de irregularidades, criminalidade e outras informações de interesse público”. Conclui a FENAJ: “Embora mais de 500 jornalistas continuem na prisão em todo o mundo, segundo levantamento da FIJ [Federação Internacional dos Jornalistas], o acordo judicial que colocou Assange em liberdade elimina parte das ameaças que recaem sobre jornalistas nas coberturas de questões de segurança nacional, op erações militares, criminalidade de agentes públicos e corrupção em todas as esferas de poder”.

JORNALISMO INVESTIGATIVO

É o jornalismo investigativo uma das missões mais importantes na sociedade moderna, posto atuar como elemento indispensável no acesso público à informação qualificada, e como instrumento de desvendamento de realidades que alguns querem manter escondidas. A divulgação de documentos considerados pelo governo americano como secretos, atribuída a Julien Assange, através do WikiLeaks, é um dos momentos mais importantes da história contemporânea, quando foi exposto ao mundo um rosário de crimes de guerra cometidos pelas forças armadas estadunidenses. Publicização irrefutável – por serem fatos documentados pelos próprios criminosos. Um escândalo global que Washington preferiu abafar com a perseguição implacável às pessoas responsáveis pelo vazamento e divulgação daqueles dados criminosos.

LEGITIMIDADE

Apenas quem carimba seus documentos como “top secret” é responsável por eles. Se vazar, vazou. São informações de grande relevância e enorme interesse público. Os dados divulgados pelo WikiLeaks, ao contrário do alardeado pela Casa Branca, jamais colocaram em risco seus agentes secretos, suas instalações e/ou ações militares e de intelegência. Tão-somente comprovaram crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos. Saber disso é essencial, em primeiro lugar, para a própria democracia americana (tão alardeada como exemplar). Divulgar aqueles documentos foi um ato legítimo de jornalismo e um gesto corajoso de cidadania internacional.

São, tanto o jornalismo investigativo quanto cobertura das guerras, trabalhos de enorme risco. Entre outubro de 2023 e março de 2024, durante a atual agressão à Gaza, foram assassinados pelo exército israelense 103 jornalistas palestinos (91 homens e 12 mulheres), numa comprovação cruel de como essa profissão é alvo preferencial. A libertação de Julien Assange, depois de 1.901 dias de cadeia, é uma vitória da coragem contra a covardia, é uma reafirmação do direito inalienável do povo ter acesso às informações que os poderosos querem manter escondidas.

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