03 julho 2024

Limites da indústria brasileira

Alimentos lideram o setor industrial no Brasil, aponta IBGE
Força do setor também impõe limites ao desenvolvimento nacional pelo que representa em desigualdade regional e falta de diversidade industrial
Cezar Xavier/Vermelho  

A fabricação de produtos alimentícios se destacou como a principal atividade industrial no Brasil em 2022, de acordo com a Pesquisa Industrial Anual — Empresa, divulgada nesta quinta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este segmento foi responsável por 22,5% da Receita Líquida de Vendas (RLV), consolidando sua liderança no setor.

Além de sua expressiva contribuição econômica, a indústria alimentícia também se destacou como a que mais emprega no Brasil. Em 2022, o setor industrial brasileiro empregava 8,3 milhões de pessoas, sendo que 22,8% desse total — aproximadamente 1,9 milhão de pessoas — estavam ocupadas na fabricação de produtos alimentícios. Notavelmente, este foi o único segmento a aumentar sua participação na força de trabalho industrial em comparação a 2013, com um crescimento de 3,7 pontos percentuais.

No aspecto financeiro, o setor industrial gerou R$ 6,7 trilhões em RLV em 2022. Desse montante, R$ 436,8 bilhões vieram das indústrias extrativas e R$ 6,2 trilhões das indústrias de transformação. O Valor de Transformação Industrial (VTI) atingiu R$ 2,5 trilhões, com 89,3% oriundos das indústrias de transformação. A região Sudeste teve destaque nesse recorte, com 61,1% de participação, o maior nível registrado em dez anos.

Para a gerente de Análise Estrutural do IBGE, Synthia Santana, os resultados da pesquisa refletem um contexto de recuperação da indústria brasileira, impulsionada pela retomada do crescimento econômico e o arrefecimento da inflação.

Entre 2013 e 2022, a fabricação de produtos alimentícios apresentou a maior variação positiva na RLV, avançando 3,6 pontos percentuais. Por outro lado, a fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias sofreu uma redução de 3,4 pontos percentuais no mesmo período.

A pesquisa também revelou que cinco atividades concentraram 46,5% da mão-de-obra industrial em 2022, com destaque para a indústria alimentícia (22,8%). A indústria de vestuário ocupou o segundo lugar, com 7,0%.

O estudo mostrou que, embora a quantidade de pessoal ocupado na indústria tenha aumentado em relação a 2021, houve uma queda de 8,3% quando comparado a 2013. Dos 8,3 milhões de pessoas ocupadas na indústria em 2022, 97,3% atuavam nas indústrias de transformação e 2,7% nas indústrias extrativas.

A remuneração média mensal também caiu em 19 das 29 atividades industriais entre 2013 e 2022. No geral, o salário médio na indústria reduziu de 3,4 para 3,1 salários mínimos no período.

Geograficamente, a participação do Sudeste no VTI atingiu 61,1% em 2022, o maior nível em dez anos, impulsionada principalmente pela elevação da participação de São Paulo. Em termos de atividades, a fabricação de produtos alimentícios se destacou em 13 das 27 unidades da federação.

Potencial da indústria alimentícia

A fabricação de produtos alimentícios tem demonstrado um potencial significativo para impulsionar o desenvolvimento econômico e social do país. No entanto, para maximizar esse potencial, é necessário enfrentar os desafios relacionados à dependência de commodities, inovação tecnológica, infraestrutura e qualificação da mão-de-obra. Com políticas públicas adequadas e investimentos estratégicos, o setor alimentício pode continuar a ser um motor de crescimento e desenvolvimento para o Brasil. 


Geração de Empregos: Em 2022, o setor empregava cerca de 1,9 milhão de pessoas, representando 22,8% do total de trabalhadores na indústria. Esse número é significativo, pois não apenas proporciona renda a milhões de famílias, mas também dinamiza a economia local em diversas regiões do país.

  1. Crescimento Sustentável: A indústria alimentícia foi o único segmento que aumentou sua participação na força de trabalho do setor industrial em comparação a 2013, com um crescimento de 3,7 pontos percentuais. Esse crescimento contínuo indica um setor resiliente e com potencial de expansão, mesmo em momentos de crise econômica.
  2. Diversificação Regional: A fabricação de produtos alimentícios está distribuída por todo o Brasil, o que promove o desenvolvimento regional equilibrado. Em 13 das 27 unidades da federação, esse segmento foi o destaque em termos de receita líquida de vendas, contribuindo para a descentralização industrial e redução das desigualdades regionais.
  3. Retomada Pós-Pandemia: A indústria brasileira alcançou o maior volume de empresas da série histórica iniciada em 2007, com 346,1 mil empresas ativas. O setor alimentício, em particular, se beneficiou dessa recuperação, evidenciando sua capacidade de adaptação e crescimento em cenários adversos.

Limites da indústria alimentícia

  1. Dependência de Commodities: A volatilidade no mercado de commodities, como oscilação nos preços de insumos agrícolas, pode afetar a estabilidade do setor alimentício. Essa dependência torna o segmento vulnerável a flutuações econômicas globais e a crises como a guerra entre Rússia e Ucrânia.
  2. Inovação e Tecnologia: Apesar de sua relevância, o setor alimentício ainda enfrenta desafios na incorporação de tecnologias avançadas. A falta de investimentos em inovação pode limitar a competitividade global da indústria brasileira de alimentos, impactando sua capacidade de exportação e crescimento sustentável a longo prazo.
  3. Infraestrutura e Logística: Problemas estruturais, como a precariedade da infraestrutura de transporte e logística, afetam negativamente a eficiência da cadeia produtiva do setor alimentício. Melhorias nessas áreas são essenciais para reduzir custos e aumentar a competitividade do setor.
  4. Qualificação da Mão-de-Obra: A expansão do setor exige uma mão-de-obra cada vez mais qualificada. Investimentos em educação e treinamento técnico são fundamentais para assegurar que os trabalhadores estejam preparados para operar tecnologias modernas e atender às demandas de um mercado globalizado.

Limites comparativos com países desenvolvidos

A análise da dependência econômica nacional da indústria de alimentos revela tanto potenciais quanto limitações quando comparada aos países mais desenvolvidos do mundo.

Apesar da importância da indústria alimentícia, o Brasil enfrenta desafios significativos quando comparado aos países mais desenvolvidos. Nos países industrializados, a diversificação industrial é uma característica marcante, com setores de alta tecnologia e inovação desempenhando papéis essenciais no crescimento econômico. A dependência excessiva de setores como o alimentício pode limitar o potencial de desenvolvimento de novas indústrias e tecnologias emergentes no Brasil.

Desigualdade regional e setorial

A concentração da produção industrial na região Sudeste, que representou 61,1% do Valor de Transformação Industrial (VTI) em 2022, aponta para uma disparidade regional que precisa ser abordada. Enquanto São Paulo lidera com 34,8% do VTI, outras regiões como o Norte e o Nordeste apresentam menor participação, limitando o desenvolvimento equilibrado do país. A falta de diversificação setorial e a concentração regional podem perpetuar desigualdades econômicas e sociais.

Redução de postos de trabalho e salários

Embora tenha havido um aumento na ocupação industrial em 2022, o setor ainda não recuperou as perdas dos últimos dez anos, com um déficit acumulado de 745,5 mil postos de trabalho desde 2013. Além disso, houve uma redução na remuneração média mensal em 19 das 29 atividades industriais, refletindo uma desvalorização do trabalho industrial e afetando negativamente a qualidade de vida dos trabalhadores.

A indústria alimentícia no Brasil, com sua capacidade de produção e geração de empregos, desempenha um papel fundamental no desenvolvimento econômico do país. No entanto, para alcançar níveis de desenvolvimento comparáveis aos países mais avançados, o Brasil precisa enfrentar desafios estruturais como a diversificação industrial, a redução das desigualdades regionais e a valorização do trabalho. Investimentos em inovação, educação e infraestrutura são essenciais para transformar a base industrial brasileira e promover um crescimento sustentável e inclusivo.

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