Arquivo Público de Pernambuco sob o fogo invisível do tempo
Sidney Rocha*/Jornal do Commercio
Enquanto essas conquistas são celebradas, há ainda espaços de inestimável valor histórico que continuam a clamar por atenção. O Arquivo Público de Pernambuco, um dos mais antigos do Brasil, enfrenta condições de extrema precariedade e vulnerabilidade. A não solução de problemas estruturais e de conservação, de longa data, vem colocando em risco o seu vasto acervo.
A restauração, conservação e manutenção do patrimônio pernambucano precisa ser uma missão contínua e inclusiva. Onde todos os espaços de cultura recebam a atenção que merecem, a proteção, a valorização. A começar pela própria Memória/História do Arquivo Público Estadual. Que carece e suplica, com urgência e emergência, prioridade de olhares e de ações.
Pernambuco não pode permitir que o espaço por excelência de sua História fique abandonado à selva selvagem, enquanto outros edifícios renascem. Estamos em plenos 200 anos da Confederação do Equador, com preciosos documentos no Arquivo.
Ironicamente, a precariedade do Arquivo é já histórica. Nenhum governo, nas últimas décadas, fez nada, ou quase nada, até hoje, para sua valorização. O governo de Raquel Lyra tem a chance, também histórica, de salvar a memória secular de Pernambuco. De fazer viver o Arquivo, com saúde e dignidade.
O Arquivo Público de Pernambuco preserva documentos que remontam ao século XVI, essenciais para entender a história não apenas de Pernambuco, mas do Brasil. Sem esses documentos, parte da memória pernambucana e brasileira se perderá para sempre. Sem o devido cuidado, não sobreviverá para contar a História.
A importância do Arquivo vai além da pesquisa histórica acadêmica: ele é um instrumento vivo de cidadania, acessado por estudantes, genealogistas e cidadãos que buscam conhecer sua própria história. Mais que isso, o Arquivo Público é responsável pela guarda e conservação de milhões de documentos de todas as áreas administrativas do Estado. Por isso precisa ser tratado como política pública permanente.
Ainda bem que a governadora Raquel Lyra, através da Secretaria de Comunicação, tem demonstrado preocupação com a situação do Arquivo. Tentando sanar problemas que herdou e, como dissemos, de décadas. O governo está comprometido em preservar a memória de Pernambuco e garantir condições adequadas para os seus principais repositórios de história, como o Arquivo Público.
Essa atenção especial é necessária porque o Arquivo não enfrenta apenas desafios físicos, mas também tecnológicos. A digitalização de documentos é uma demanda urgente. Estamos andando nesse sentido, mas é preciso uma ação sistêmica, integrada, contínua, ágil, que não demore a apresentar resultados. O Arquivo tem buscado parcerias com instituições, universidades, redes e empresas para viabilizar vários projetos. Mas é preciso muito mais.
Ao abordar a preservação do Arquivo Público, o governo Raquel Lyra também busca integrar a sociedade nesse esforço. Afinal, o patrimônio histórico não pertence apenas ao governo, mas a todos os pernambucanos.
Nosso próximo passo será buscar apoio para transformar o Arquivo Público em uma autarquia, com orçamento próprio, a exemplo de outros arquivos estaduais. Para evitar que o Arquivo Público seja sempre essa instituição “passando o pires”, pedindo socorro, chorando sua desdita, como tem sido ao longo do tempo. Temos, portanto, o dever histórico de consertar os rumos do nosso Arquivo. Isto marcará um feito histórico para o governo atual, sobretudo fazendo com que o Arquivo seja, dentro das políticas públicas, um compromisso do Estado. Inadiável.
Nossa ideia é a criação de um espaço cultural interativo dentro do Arquivo Público. Que seja: mais do que um local de armazenamento de documentos. Um centro de difusão cultural e histórica. Esse espaço será dedicado a exposições temporárias e permanentes sobre a história de Pernambuco, utilizando os documentos arquivados como base. Será outra forma de aproximar a população da sua história, permitindo que o Arquivo seja mais frequentado e valorizado.
Isso já estamos fazendo, com eventos ligados à educação, que pretendemos ampliar em 2025, quando o Arquivo completa 85 anos. Sob nossa gestão, o Arquivo se tornou uma casa de pensamento: retomamos seu braço editorial, de livros e de audiovisual, com várias publicações dirigidas, especialmente, a professores e estudantes.
Tramita na Secretaria de Comunicação – a quem o Arquivo está afeito – uma proposta para mudança do prédio anexo do Arquivo, fruto de detalhado estudo recente de Grupo de Trabalho com técnicos, especialistas e a sociedade civil.
É preciso encontrar um local para mudança urgente de endereço. Seu Anexo, à rua Imperial, nunca foi adequado à arquivologia. Hoje, menos ainda. No momento, o governo busca soluções as mais adequadas.
A recuperação do Arquivo Público é uma forma de corrigir a negligência, que durando tanto tempo, pode ser considerada crônica, como uma doença.
A falta de investimentos adequados ao longo dos anos gerou problemas de armazenamento e risco de perda de documentos raros e insubstituíveis. Na verdade, já contabilizamos várias dessas perdas. Certa e tristemente, constataremos mais. Nossa equipe, neste momento, trabalha no processo de avaliação arquivística para definição de documentos considerados sem valor permanente, enquanto aguarda definições para a mudança de prédio da rua Imperial.
Enquanto isso, esperamos as condições técnicas mínimas para publicar nossa Tabela de Periodicidade, que serve como guia para todos os órgãos do governo. O documento foi um dos primeiros consolidados dentre os arquivos públicos estaduais. Contudo, não há como receber acervos e documentos de instituições do governo, sem arquivistas, sem espaço adequado.
Resultado: documentos e documentos se acumulam nas secretarias. Estamos instruindo a formação de comissões nessas repartições, mas já estamos em uma situação crítica quanto a prazos, à obediência das leis de Comunicação e da Transparência.
A atual gestão de Raquel Lyra vê na revitalização do Arquivo uma forma de dar o devido reconhecimento a um local que já deveria ter sido tratado como prioridade há muito tempo. Essa iniciativa não se limita apenas ao estado físico do prédio, mas à criação de uma política estadual sólida de preservação documental.
As recentes revitalizações de edifícios históricos como o Diário de Pernambuco e o Cine São Luiz demonstram que Pernambuco está no caminho certo para preservar sua memória cultural. Contudo, o estado ainda tem um longo caminho a percorrer, no que se refere ao Arquivo Público. A governadora Raquel Lyra compreende essa urgência e tem demonstrado empenho em garantir que o Arquivo receba a atenção e os recursos que merece.
Dirigir o Arquivo Público é algo que honra minha trajetória de gestor. Inclusive por podermos, neste governo, iniciar um trabalho inédito de gestão documental que nunca se praticou de fato, de modo sistemática e contínuo, em Pernambuco.
Com esses esforços em curso, é possível vislumbrar um futuro em que o Arquivo Público de Pernambuco não só estará preservado fisicamente, mas também modernizado, acessível e valorizado por todos. É um passo fundamental para que a história pernambucana seja devidamente respeitada e continuada para as gerações futuras, servindo como um legado do compromisso do governo Raquel Lyra com a cultura e a memória do estado.
*Sidney Rocha, escritor, diretor do Arquivo Público de Pernambuco
Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2022/02/pela-verdade-historica.html
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