12 dezembro 2024

Futebol além da conta

Exaltação e mediocridade no futebol
No Brasil, torcedores e imprensa costumam criar expectativas acima da realidade
Tostão/Folha de S. Paulo 

Existe quase um consenso de que, na média, o Brasileirão deste ano foi melhor que os anteriores, na qualidade individual e coletiva. A presença de treinadores estrangeiros e boas contratações fortaleceram as equipes.

Dizem que contratação boa é a que dá certo. Para isso, é preciso unir o conhecimento científico com a capacidade de ver os detalhes, de fazer as escolhas certas, características da escola portuguesa. Obviamente, existem bons e maus treinadores em todos os países.

A estratégia de uma equipe é muito mais responsável pela intensidade e vibração dos jogadores do que a vontade de cada um. Abel Ferreira, ao dizer que o Palmeiras não teve alma na derrota para o Fluminense por 1x0, deveria fazer uma introspecção, reavaliação da maneira de jogar do time, que não costuma utilizar regularmente a pressão para recuperar rapidamente a bola, uma característica das equipes que transbordam a alma em campo.

Uma das evoluções do futebol brasileiro e mundial é a maior eficiência dos cruzamentos, seja em bolas paradas, seja em movimento. Alguns cruzam com enorme precisão. A bola sai forte, em curva e sem subir tanto, passando por cima da cabeça de um defensor, sem dar chance para o goleiro sair do gol. O companheiro corre, toma impulso e cabeceia.

Outra evolução é a dos pontas, geralmente canhotos que vão jogar pela direita. Driblam para o centro e finalizam ou dão passes decisivos. Alguns aprenderam a driblar para o lado e cruzar com o pé direito ou com a parte externa do pé esquerdo, de trivela. O espanhol Lamine Yamal e o brasileiro Estêvão, dois jovens de idades próximas, são muito parecidos no talento e nas características físicas e técnicas.

No Brasil, ainda prevalecem várias dificuldades coletivas, como a incapacidade de defender e de avançar em bloco. Os defensores ficam muito atrás quando o meio campo avança, deixando muitos espaços entre os dois setores. Os times não precisam jogar com os defensores na linha de meio-campo, como fazem o Barcelona e algumas equipes europeias, mas não deveriam atuar com zagueiros tão recuados, colados à grande área. Poderiam adotar uma posição intermediária.

Por causa de alguns momentos excepcionais, os torcedores e a imprensa no Brasil costumam criar expectativas acima da realidade. Com isso há uma frequente decepção.

Cruzeiro e Bahia, que disputaram na última rodada uma vaga para a Libertadores, que ficou com o time baiano, fizeram campanhas esperadas, de acordo com a qualidade do elenco. Fora algumas excelentes contratações pontuais, como a de Cássio pelo Cruzeiro e Everton Ribeiro pelo Bahia, o elenco é apenas regular, compatível com o oitavo e o nono lugar no Brasileirão. 

O Atlético-MG possui alguns jogadores especiais, mas a equipe reserva escalada em várias partidas do Brasileirão para poupar os titulares não tem a qualidade que a diretoria, torcedores e muitos jornalistas achavam que tinham. Por isso o time quase foi rebaixado.

Por causa da história de glórias do futebol brasileiro, existem grandes controvérsias sobre a qualidade atual, individual e coletiva. As análises oscilam, da exaltação à mediocridade, de acordo com os resultados.

Assim é também o país, rico e miserável, generoso e corrupto, lindo e violento.

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