28 novembro 2025

Editorial do 'Vermelho'

Prisão de Bolsonaro: grande vitória da democracia brasileira
Enfraquecimento da extrema direita é notável, mas forças democráticas, patrióticas e populares devem avançar na construção da vitória em 2026
Editorial do portal 'Vermelho' www.vermelho.org.br   


O trânsito em julgado da condenação por tentativa de golpe de Estado do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, e de generais e outros militares de alta patente, encerrando a tramitação do processo e o início do cumprimento das penas, rompe com a execrável tradição de se premiar com a impunidade os inimigos do regime democrático e representa importante vitória da defesa da democracia. Severa lição ao atávico golpismo das classes dominantes do país.

A dimensão desse grande feito se realça ainda mais quando se destaca as circunstâncias sob as quais ele foi alcançado. A conquista se deu num cenário marcado pela hegemonia do consórcio da extrema-direita e da direita no Congresso Nacional, e pelo peso de oito governos direitistas em estados de grande representação política e econômica – São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso.

Além disso, se somou o velho patrocinador de golpes no Brasil e em toda a América Latina e Caribe: o imperialismo estadunidense. Como se sabe, em conluio com a direita brasileira, notadamente o clã Bolsonaro, o governo de Donald Trump agrediu o Brasil com o tarifaço, chantageou e atacou o Supremo Tribunal Federal (STF), sancionando o ministro-relator do processo, Alexandre de Moraes. Desferiu essa pesada agressão, exigindo a absolvição dos golpistas, em especial do cabeça da organização criminosa, Jair Bolsonaro.

Todavia, duas bandeiras altamente aglutinadoras e mobilizadoras, a defesa da democracia e da soberania nacional, reuniram e coloram em movimento, em combate, um amplo movimento de frente ampla, liderado pelo governo do presidente Lula e abarcando o Supremo Tribunal Federal, Tribunal Superior Eleitoral, o campo democrático do Congresso Nacional, entidades da sociedade civil, as centrais sindicais, os movimentos socais, a maioria do povo brasileiro.

Essa ampla aliança democrática e patriótica, enlaçando desde os poderes da República às organizações do povo, dos trabalhadores e de setores do empresariado, galvanizou energias capazes de vencer o cabo de guerra estabelecido desde o infame 8 de janeiro, a disputa entre o campo da defesa do Brasil e da democracia e o consórcio de traidores da pátria e inimigos da democracia. Ao final, venceu o Brasil, venceu a democracia, venceu o povo. Os golpistas foram derrotados e encarcerados.

Pela sua importância, superando essas adversidades, a vitória da democracia faz a direita e a extrema-direita perderem força. Mas o campo democrático, patriótico e popular não pode baixar a guarda, cedendo espaço para a acomodação e a autossuficiência. Seria ilusão imaginar que o golpismo foi extirpado, ou que o extremismo de direita foi reduzido à insignificância política.

O fenômeno do neofascismo é mundial. Viceja na decadência do capitalismo, brota de sua crise estrutural. Visa a garantir, pela truculência de regimes autoritários, os ganhos fabulosos do capital financeiro, cortando direitos sociais, exacerbando a exploração dos/a trabalhadores. No Brasil, a extrema-direita tem a singularidade de ter se apossado do governo central, deitando raízes em partes significativas da sociedade.

O consócio da direita e da extrema-direita segue com a bandeira esfarrapada e desmoralizada da anistia, manifestação da política de afronta à democracia. Tentam mantê-la visível ao mesmo tempo em que se concentram na busca de solução para seus dilemas, suas divisões e impasses.

Desde que se prenunciou a derrota, esse consórcio iniciou um processo de mutação, uma readequação de suas narrativas. No Congresso Nacional, a direita explora contradições que emergem no arranjo instável que apoia o governo. Formam-se convergências de ocasião que resultam no velho estratagema de tentar impedir o governo de governar. Recorre ao expediente das pautas bombas, aprovando leis para detonar as contas públicas e travar projetos de interesse do povo, como o Projeto de Emenda à Constituição (PEC) da segurança, do devedor contumaz (que pune os que sistematicamente sonegam milhões e mesmo bilhões em impostos. Muitas das vezes, negócios de fachada, braço financeiro do crime organizado), e o fim da escala 6×1. Tentam cercear as prerrogativas do presidente da República, como se vê agora na indicação do Advogado-Geral da União, Jorge Messias, para ministro do STF.

Mas não há como negar que o bolsonarismo, diante desse duro revés, passa por um momento de tensão, potencial divisão e razoável desorientação. De imediato, a tendência principal é que esse grupo político não venha declarar apoio a nenhum candidato do consórcio da direita, principalmente ao agora mais cotado, o governador paulista Tarcísio de Freitas. O apoio a ele ou a outro candidato desse campo, nesse momento, provocaria mais desagregação na extrema-direita, visto que o clã Bolsonaro manifesta, publicamente, divergências, mais explicitamente Eduardo Bolsonaro com ataques a Tarcísio.

No outro polo, a liderança do presidente Lula se mantém estável e seu nome segue em posição competitiva, de acordo com as pesquisas de intenção de votos. A seu favor está um conjunto de realizações e conquistas, a exemplo da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil reais, redução para quem ganha até R$ 7.350, além da taxação de rendas elevadas. Há ainda a queda da inflação, o recorde do índice de emprego e o crescimento da economia, apesar da criminosa política de juros elevados do Banco Central.

O presidente Lula conta ainda a seu favor com uma série de exitosas políticas sociais e de melhorias na infraestrutura do país, assim como o seu prestígio no cenário internacional, destacado pelos êxitos da COP30 em Belém, Pará, e sua protagonista participação na 20ª Cúpula de Líderes do G20 em Joanesburgo, na África do Sul. E, também com grande importância, há a sua postura altiva, não se curvando à agressão do governo Trump, que resultou em redução considerável do tarifaço.

Em síntese: a vitória das forças democráticas sobre o grupo criminoso bolsonarista, de significado histórico, tem grande impacto na vida econômica, social e política por enfraquecer o polo do consórcio da direita e da extrema-direita e fortalecer o campo progressista, impulsionado pelos êxitos do governo Lula. Todavia, permanece o prognóstico de que se terá uma disputa acirrada.

Dessa realidade emerge a tarefa, também de dimensão histórica, para todos os setores democráticos, patrióticos e populares: sob a diretriz tática de unir amplas forças, a mesma que triunfou sobre o golpismo, construir as condições para uma nova vitória da nação e da classe trabalhadora em 2026, impondo mais uma derrota ao consórcio da direita e da extrema direita.

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