20 novembro 2025

Minha opinião

Banco Master, alguma surpresa?*
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65 

Afinal, depois de prolongada série de revelações de "anormalidades", o Banco Central determinou a liquidação extrajudicial do Banco Master.

O risco de falência iminente e o comportamento do presidente do banco, Daniel Vorcaro, hábil e arisco na busca de aliados nos altos escalões da política nacional, precipitaram, enfim, a interdição. 

Tudo bem. Não é a primeira vez que isso acontece. Outras instituições bancárias, até de maior prestígio no mercado, foram à falência, como o prestigioso Banco Nacional e seus congêneres Banco Econômico, Bamerindus, Banco Santos, Cruzeiro do Sul, BVA e PortoCred.

Faz parte do "negócio" justamente dedicado a operar, por mecanismos vários, a reprodução fictícia da mais-valia extraída dos trabalhadores.

Acontece aqui e alhures, vide a debacle dos norte-americanos Silicon Valley Bank (SVB), First Republic Bank, Signature Bank - com destaque, na crise de 2007-2008, para a falência do poderoso Lehman Brothers. 

Ali se comprovava, uma vez mais, que a especulação financeira se amplia ilimitadamente sem correspondência na produção de bens e serviços, com alguma frequência gerando bolhas e crises num país determinado e não raro abalando todo o sistema.

Mas o complexo midiático dominante trata o assunto com falso ar de surpresa, advertindo à exaustão quanto ao "risco" de perda de credibilidade no sistema.

E tome revelações escabrosas, inclusive envolvendo figuras políticas de destaque no Judiciário e no Parlamento, tidas como atraídas pelo então presidente do banco, o indigitado Daniel Vorcaro, preso quando pretendia fugir do país a bordo de sua ultraluxuosa aeronave.

A palavra de ordem editorial parece ser revelar os fatos porque é impossível esconde-los, mas caracterizá-los como mais um exemplo de má gestão e não como algo inerente ao próprio sistema financeiro.

Karl Marx, se fosse vivo, bem que poderia dizer: "bem que avisei". Pois em sua obra O Capital, no longínquo 1867, já descrevera o capital financeiro como se o dinheiro existisse por si mesmo, à margem da produção efetiva de riqueza. 

Ou seja, na esfera da especulação tudo é possível, inclusive, no tempo em que vivemos, artifícios os mais escrotos no manuseio de investimentos alheios de forma "ilícita", sem moral nem limites.

O lucro se transfere da produção industrial para a jogatina em mercados de ações e derivativos, que com o advento da internet rola ininterruptamente via bolsas do mundo inteiro; tendo como subproduto a concentração e a queda da produção e consequente diminuição da estrutura da contratação do trabalho humano.

Mas reportagens e "análises" acerca da interdição do Master precisam preservar o sistema, apontando o caso como exceção. É o que a mídia faz por meios sofisticados de modo a enganar os mal informados.

*Texto da minha coluna no portal 'Vermelho' www.vermelho.org.br   

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