20 novembro 2025

Enio Lins opina

Hoje é dia de subir a serra, em tributo ao Quilombo dos Palmares
Enio Lins   

330 ANOS DA MORTE de Zumbi dos Palmares serão lembrados hoje, como em todo 20 de novembro, na Serra da Barriga. Desde 1979. A solenidade celebra a vida – livre – de uma comunidade heroica, que teve naquele ponto geográfico o centro do primeiro e principal movimento da resistência à escravidão no Brasil.

ENTRE 1590 E 1694, embrenhados na densa Mata Atlântica em torno da Serra da Barriga, existiram muitos mocambos – como eram chamados os assentamentos de africanos fugitivos da escravidão –, espalhados por vasta área entre os atuais municípios de Viçosa (AL) e Palmares (PE). Trazidos à força, a partir de 1530, para o trabalho escravo nos primeiros engenhos e plantações de cana-de-açúcar, milhares de africanos tentavam escapar de todas as formas daquela condição. Muitos tinham sucesso na fuga, se refugiavam na floresta, o mais longe possível das fazendas coloniais, e construíram no meio do mato suas comunidades autônomas, também conhecidas como cumbes.

QUILOMBO, MOCAMBO, CUMBE são sinônimos na língua quimbunda, própria da etnia bantu, da qual faziam parte as primeiras levas de pessoas sequestradas no continente africano e trazidas escravizadas para o Brasil. Significam “vila”, “aldeia” e ganharam, no Brasil o sentido de “povoado escondido”. Esse vocabulário africano segue presente até hoje, com muita expressividade, na cultura e na toponímia alagoana e brasileira: sabalangá, osenga, cafuné, cambona, canjica, cochilo, calunga, tanga, tunga, marimbondo, minhoca, miçanga, mocotó, moleque, muxoxo, quitanda, quiabo, fubá, farofa, gingar, xingar... e inúmeras outras palavras (talvez Quebrangulo), inclusive – cantada em prosa e verso – a mais popular de todas: bunda.

20 DE NOVEMBRO DE 1695, como se sabe, marca a morte de Zumbi, o derradeiro líder guerreiro do Quilombo dos Palmares. Segundo relato de Domingos Jorge Velho, em 6 de fevereiro de 1694, quando da invasão e destruição da cidadela Cerca Real dos Macacos, situada no alto da Serra da Barriga, Zumbi teria se suicidado. Mas, quase dois anos depois, ele foi localizado no chamado sumidouro da Serra Dois Irmãos (hoje município de Viçosa) e assassinado. No final dos anos 1970, a data passou a ser usada como principal referência para a luta antirracista no Brasil, posteriormente definida como o Dia Nacional da Consciência Negra. Desde 2023, é feriado nacional.

HOJE, NA SERRA DA BARRIGA, uma programação vasta foi montada pelo Governo do Estado, em parceria com o Governo Federal e com a Prefeitura de União dos Palmares. Conforme reza a tradição, da zero hora até às sete da manhã ocorrem as cerimônias religiosas afrobrasileiras, restritas. A abertura do terreiro da Serra da Barriga ao público se dará às 8 horas, com o Cortejo Inicial. Os pronunciamentos institucionais estão anunciados para 10:30, e o encerramento da agenda será às 18 horas. As atividades artísticas (música, dança, performances, cortejos variados, teatro...) terão quatro espaços para exibições simultâneas: os palcos Zumbi, Acotirene, Dandara e Erês (infanto-juvenil) – informa Mellina Freitas, secretária da Cultura do Estado de Alagoas. A SECULT é a responsável pela p rodução, em parceria com a Fundação Palmares e entidades não-governamentais representativas das etnias e culturas afrobrasileiras.

SUBA A SERRA! Visite o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, no cume do Outeiro do Barriga, qualquer dia do ano. Almoce no Restaurante Baobá, de Mãe Neide. E, quando descer da serra, uma vez em União dos Palmares, aproveite para visitar o Memorial Jorge de Lima e a Museu Casa Maria Mariá (esses dois endereços talvez estejam fechados hoje, pela concentração de atividades no alto da serra). Agende uma visita – com roteiro completo – para outro dia que não seja o 20 de novembro. Vale a pena voltar, sempre.

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