04 janeiro 2023

Banco Central serve a quem?

Campos Neto, a herança maldita de Bolsonaro-Guedes

Seria excesso de ingenuidade supor que tamanha desproporção entre taxa Selic e IPCA possa ser fruto do excesso de zelo. Trata-se de uma posição ideológica e negocial.
Luís Nassif, Jornal GGN

 

Ontem se viu um movimento claro de conluio entre mercado e Banco Central, visando dobrar o novo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O movimento é conhecido:

1.   O “mercado” compra dólares, elevando as cotações e gerando uma inflação em dólar.

2.   O Banco Central assiste passivamente, sob o argumento de que o câmbio é livre. E se vale da independência do banco, perpetrado pela dupla Guedes-Bolsonaro, para levar a irresponsabilidade e limites extremos.

É de uma irresponsabilidade cívica de Roberto Campos Neto, o presidente do BC, que certamente não seria aprovada por seu avô. Apesar de liberal e, especialmente no período de influenciador, hiperliberal, Campos, avô, jamais permitiria uma irresponsabilidade dessa ordem.

Tinha suficiente espírito público e responsabilidade cívica para impedir movimentos contra a estabilidade e contra o país. No final dos anos 60, quando se deu conta de que a Light & Power não tinha mais interesse em investimentos para expansão da rede, implementou a estatização da Light, mesmo sendo um defensor ferrenho das empresas privadas.

Campos Neto não tem a mesma responsabilidade pública. A não intervenção do BC nos mercados de câmbio e de juros futuros, seu discurso invocando o terrorismo fiscal, tudo mostra um notável engano dos que imaginaram que pudesse ser mais responsável que seu padrinho, Paulo Guedes.

O mesmo ocorre com a loucura de uma taxa Selic de 13,75% ao ano, para uma projeção de IPCA de 4,9%.

Alguém mais ingênuo poderia supor que é excesso de cuidados de um médico amador que, para combater uma infecção em uma criança, ministra uma superdose de antibióticos, esfrangalha seu organismo, mas elimina a infecção.

Mas seria excesso de ingenuidade supor que uma desproporção desse tamanho, entre taxa Selic e IPCA, possa ser fruto do excesso de zelo. Trata-se de uma posição ideológica e negocial.

Com essa Selic, há uma pressão sobre a dívida pública – e o enriquecimento ainda maior dos repentistas -, reduzindo a margem de ação do governo para gastos sociais, fortalecimento do BNDES e políticas selecionadas de incentivos.

Não é possível que, a esta altura do campeonato, um presidente de BC minimamente responsável possa defender a não intervenção do banco no mercado de câmbio, com o volume de reservas cambiais do país; no mercado de taxa de juros longa, sendo o Tesouro o grande ofertador de títulos públicos e permitir um diferencial tão expressivo entre Selic e IPCA.

O mosaico da vida que segue https://bit.ly/3Ye45TD

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