Campos Neto, a herança maldita
de Bolsonaro-Guedes
Seria excesso
de ingenuidade supor que tamanha desproporção entre taxa Selic e IPCA possa ser
fruto do excesso de zelo. Trata-se de uma posição ideológica e negocial.
Luís Nassif, Jornal GGN
Ontem se viu um
movimento claro de conluio entre mercado e Banco Central, visando dobrar o novo
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O movimento é
conhecido:
1. O “mercado” compra
dólares, elevando as cotações e gerando uma inflação em dólar.
2. O Banco Central
assiste passivamente, sob o argumento de que o câmbio é livre. E se vale da
independência do banco, perpetrado pela dupla Guedes-Bolsonaro, para levar a
irresponsabilidade e limites extremos.
É de uma
irresponsabilidade cívica de Roberto Campos Neto, o presidente do BC, que
certamente não seria aprovada por seu avô. Apesar de liberal e, especialmente
no período de influenciador, hiperliberal, Campos, avô, jamais permitiria uma
irresponsabilidade dessa ordem.
Tinha suficiente
espírito público e responsabilidade cívica para impedir movimentos contra a
estabilidade e contra o país. No final dos anos 60, quando se deu conta de que
a Light & Power não tinha mais interesse em investimentos para expansão da
rede, implementou a estatização da Light, mesmo sendo um defensor ferrenho das
empresas privadas.
Campos Neto não tem
a mesma responsabilidade pública. A não intervenção do BC nos mercados de
câmbio e de juros futuros, seu discurso invocando o terrorismo fiscal, tudo
mostra um notável engano dos que imaginaram que pudesse ser mais responsável
que seu padrinho, Paulo Guedes.
O mesmo ocorre com
a loucura de uma taxa Selic de 13,75% ao ano, para uma projeção de IPCA de
4,9%.
Alguém mais ingênuo
poderia supor que é excesso de cuidados de um médico amador que, para combater
uma infecção em uma criança, ministra uma superdose de antibióticos,
esfrangalha seu organismo, mas elimina a infecção.
Mas seria excesso
de ingenuidade supor que uma desproporção desse tamanho, entre taxa Selic e
IPCA, possa ser fruto do excesso de zelo. Trata-se de uma posição ideológica e
negocial.
Com essa Selic, há
uma pressão sobre a dívida pública – e o enriquecimento ainda maior dos
repentistas -, reduzindo a margem de ação do governo para gastos sociais,
fortalecimento do BNDES e políticas selecionadas de incentivos.
Não é possível que,
a esta altura do campeonato, um presidente de BC minimamente responsável possa
defender a não intervenção do banco no mercado de câmbio, com o volume de
reservas cambiais do país; no mercado de taxa de juros longa, sendo o Tesouro o
grande ofertador de títulos públicos e permitir um diferencial tão expressivo
entre Selic e IPCA.
O
mosaico da vida que segue https://bit.ly/3Ye45TD
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