De 'carteirada' a pressão de ministério: as 8
tentativas do governo Bolsonaro para reaver as joias
Colar,
anel, relógio e brincos da Arábia Saudita avaliados em R$ 16,5 milhões seriam
presente para a ex-primeira-dama Michelle
O Globo
O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro atuou para tentar
liberar as joias avaliadas em aproximadamente R$ 16,5
milhões trazidas de forma ilegal para o Brasil. O episódio, revelado pelo jornal Estado de S.
Paulo, aconteceu em outubro de 2021 e envolveu várias tentativas subsequentes
de reaver os itens na alfândega do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, onde o
material acabou apreendido por não ter sido devidamente declarado. As pedras
preciosas seriam um presente do governo da Arábia Saudita à ex-primeira-dama
Michelle Bolsonaro.
Segundo o Estadão, três ministérios chegaram a ser
acionados para tentar reaver as joias. Foram pelo menos 8
tentativas de liberar o material apreendido. Veja de que forma o governo atuou
no caso:
Nada a
declarar
O conjunto com colar, anel, relógio e um par de brincos de diamante estava na mochila de
um militar, assessor do então ministro Bento Albuquerque. O
titular das Minas e Energia voltava, na ocasião, de uma viagem pelo Oriente
Médio. Eles passaram pela saída "nada a declarar" da alfândega do
aeroporto, sem registrar a entrada com as joias. A cena foi registrada pelas
câmeras de segurança do local. A legislação brasileira impõe, contudo, que é
obrigatório declarar qualquer bem avaliado em mais de mil dólares (pouco mais
de R$ 5 mil) na chegada ao país. Titulares da receita pediram para conferir a
bagagem e apreenderam os bens.
Carteirada
De acordo com o Estadão, ao saber que as joias haviam sido
apreendidas, Albuquerque retornou à área da alfândega e tentou, ele próprio,
retirar os itens, informando que se trataria de um presente pessoal para a mulher do
ex-presidente, Michelle Bolsonaro. A Receita deu a opção para a
comitiva informar que se tratava de um presente entre os governos. Neste caso,
não seria cobrado qualquer imposto, mas as joias seriam tratadas como
propriedade do Estado brasileiro. Porém, o ministro não aceitou.
Ofício
do gabinete presidencial
No dia 29 de outubro de 2021, o chefe de gabinete adjunto de
Documentação Histórica do gabinete pessoal do presidente da República, Marcelo
da Silva Vieira, envia um ofício para o chefe de gabinete de Bento Albuquerque
afirmando que o encaminhamento das joias seria feito e que a análise seria para
a incorporação ao "acervo privado do Presidente da República ou ao acervo
público da Presidência da República".
Pressão do Itamaraty na Receita
Em 3 de novembro de 2021, coube ao Itamaraty exercer pressão sobre
a Receita Federal na busca pelas joias. O Ministério das Relações Exteriores
pediu ao órgão fiscal que tomasse as "providências necessárias para
liberação dos bens retidos", mas a Receita retrucou que só seria possível
fazer a retirada mediante os procedimentos de praxe nestes casos, com quitação
da multa e do imposto devidos. Em seguida, a própria chefia da Receita entrou
em campo para liberar o material, mas os servidores do órgão mantiveram-se
firmes.
Nessas situações, só é possível resgatar o
item apreendido pagando um tributo equivalente a 50% do valor estimado do
material. Além disso, também é cobrada uma multa de 25% sobre o valor cheio. No
caso das joias para Michelle, portanto, a soma chegaria a aproximadamente R$
12,3 milhões.
Pressão
de Albuquerque na Receita
No mesmo dia 03 de novembro de 2021, segundo
a reportagem, o gabinete do então ministro Bento Albuquerque reforça a pressão
sobre a Receita em mais uma tentativa para liberar os diamantes. Em ofício,
pede "liberação e decorrente destinação legal adequada de presentes
retidos por esse Órgão". O ex-ministro também passa a usar que a versão
que a destinação seria para o acervo, mas sem dizer para qual. Porém, a Receita
não libera os bens.
Secretário
tenta liberação
No dia 28 de dezembro de 2022, nas vésperas do fim do mandato de
Bolsonaro, o então secretário da Receita Federal, Julio Cesar Viera Gomes,
tentou liberar as joias. Ele enviou um ofício para a alfândega do aeroporto em
São Paulo pedindo a liberação. Porém, os fiscais responderam que só liberariam
os bens mediante pagamento do imposto.
Bolsonaro
entra em campo
No dia 28 de dezembro o próprio ex-presidente
Jair Bolsonaro enviou um ofício à Receita cobrando a devolução das joias. O
texto solicitava que as pedras preciosas fossem destinadas à Presidência da
República, em atendimento ao ofício da "Ajudância de Ordens do Gabinete
Pessoal do Presidente da República". Novamente o pedido foi negado pela
alfândega.
Última
tentativa em voo da FAB
A tentativa derradeira de recuperar o mimo milionário dos sauditas
veio nos últimos dias de Bolsonaro na Presidência da República, em 29 de
dezembro — véspera da viagem do ex-chefe do Executivo para os Estados Unidos,
onde ele permanece até hoje. Chefe da Ajudância de Ordens do presidente, o
sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva seguiu para Guarulhos para
"atender demandas" de Bolsonaro, conforme consta na solicitação de
voo da Força Aérea Brasileira (FAB) descrita pelo Estadão.
"Não pode ter nada do (governo) antigo
para o próximo, tem que tirar tudo e levar", argumentou o funcionário ao
tentar convencer os fiscais alfandegários, conforme consta em relatos colhidos
pelo jornal. A Receita manteve a apreensão.
Dramático subproduto de um governo desastroso https://t.co/9G7tmcXZwH
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