16 março 2023

Minha opinião


O lugar do PCdoB na frente ampla

Luciano Siqueira*


Ampla coalizão de forças, as mais heterogêneas e contraditórias entre si mas convergindo para um objetivo comum imediato. A fórmula é um dado de realidade na história política brasileira, que dos anos 60 em diante traz em seu bojo as digitais inconfundíveis do Partido Comunista do Brasil, PCdoB.
 
Não se trata de medir o peso orgânico específico de cada corrente política integrante do amplo e multifacetado arco-íris. Trata-se de reconhecer o valor decisivo do "elemento consciente" na busca da unidade desejável.
 
Já em 1966, sob as difíceis circunstâncias da ditadura militar, em rigorosa clandestinidade e às voltas com espinhoso trabalho de reconstrução, o partido dos comunistas formulou, em sua VI Conferência Nacional, proposição ampla e unitária que adiante, no ocaso do regime discricionário, viria a ser decisiva na restauração da democracia.
 
Naquela Conferência, o PCdoB defendia uma união de patriotas das mais diferentes correntes políticas e segmentos sociais em torno da ideia de livrar o país da ameaça neocolonialista, da crise e da ditadura. Propunha uma plataforma unitária, sem contudo, concomitantemente, deixar de afirmar seus próprios propósitos programáticos. 
 
Essa concepção tática tem amadurecido ao longo das décadas que se sucederam, em todos os grandes episódios de nossa frágil democracia – inclusive nas eleições presidenciais que se aconteceram de 1989 em diante - e não será exagero reconhecê-la plenamente vitoriosa na concepção da frente amplíssima constituída em torno da candidatura de Lula à presidência da República, que no último pleito venceu a extrema direita bolsonarista.
 
Não há movimento político de envergadura que dispense o elemento consciente que, permeando distintas formas e circunstâncias, funcione como referência. Isto sem que necessariamente os formuladores da alternativa vitoriosa ostentem maior força orgânica.
 
Na histórica revolução russa, que possibilitou pela primeira vez a ascensão do proletariado ao poder de uma nação, nos sovietes (parlamento de então) a corrente política que se fez hegemônica no movimento libertador — os bolcheviques — ocupava apenas 13% das cadeiras.
 
Essas considerações são oportunas nos dias que correm no Brasil porque as condições da luta, incluindo a natural e contraditória disputa entre as diversas correntes políticas pelo reconhecimento dos trabalhadores e do povo, se faz acirrada. Pondo à luz o peso e o papel específico de cada partido, individualmente considerado.
 
E ao observador atento não escapa a discrepância entre a importante e consistente influência dos comunistas no seio da frente ampla e a sua reduzida força orgânica — contradição que se expressa nos mapas eleitorais do pleito de 2022. A bancada de deputados federais do PCdoB, reconhecidamente competente e combativa, numericamente está muito aquém das necessidades do próprio partido e, por extensão, da frente ampla.
 
Pois há um lugar específico do Partido Comunista do Brasil na cena política, que lhe é próprio e insubstituível. 
 
O partido tem diante de si a absoluta necessidade de superar dificuldades e limitações momentâneas e se tornar robusto na representação dos trabalhadores e do povo no parlamento e nos diversos movimentos de caráter social e temático que compõem a mobilização popular na presente quadra.
 
Essa robustez pretendida — é preciso reconhecer — tem no programa partidário (Programa Socialista para o Brasil) fator consciente decisivo.
 
O programa afirma com clareza o rumo da transformação social de caráter socialista e um caminho consubstanciado na busca de um novo projeto de desenvolvimento nacional, assentado em reformas estruturais — agrária, urbana, do sistema educacional, tributária, do judiciário, etc. — cuja consecução dependerá de luta popular renhida, persistente e de larga dimensão; cuja resultante virá a ser extraordinária elevação do padrão de vida material e espiritual do povo brasileiro, que mercê de consciência política mais avançada almejará o passo adiante, de natureza socialista.
 
Essa assertiva se traduz na resolução do XV Congresso partidário e o desafio imediato é a valorização, mais do que nunca, desse elemento consciente de modo a que impulsione a militância organizada em comitês intermediários e organizações de base a encarar a luta cotidiana inspirada no objetivo estratégico.
 
O PCdoB é o que é e deve continuar a ser. Sua essência é inegociável e há de se afirmar tanto quanto seja capaz de superar obstáculos e melhor cumprir o papel que lhe cabe no movimento emancipador do povo brasileiro.

*Texto da minha coluna semana desta quinta-feira  no portal Vermelho www.vermelho.org.br  

Ser governo e ser partido na frente ampla https://bit.ly/3J2iMSP

Um comentário:

Anônimo disse...

Dr Luciano sendo o Luciano Siqueira, comunista. Muito bom, uai.