O lugar
do PCdoB na frente ampla
Luciano Siqueira*
Ampla coalizão de
forças, as mais heterogêneas e contraditórias entre si mas convergindo para um
objetivo comum imediato. A fórmula é um dado de realidade na história política
brasileira, que dos anos 60 em diante traz em seu bojo as digitais inconfundíveis
do Partido Comunista do Brasil, PCdoB.
Não se trata de
medir o peso orgânico específico de cada corrente política integrante do amplo
e multifacetado arco-íris. Trata-se de reconhecer o valor decisivo do
"elemento consciente" na busca da unidade desejável.
Já em 1966, sob as
difíceis circunstâncias da ditadura militar, em rigorosa clandestinidade e às
voltas com espinhoso trabalho de reconstrução, o partido dos comunistas
formulou, em sua VI Conferência Nacional, proposição ampla e unitária que
adiante, no ocaso do regime discricionário, viria a ser decisiva na restauração
da democracia.
Naquela Conferência,
o PCdoB defendia uma união de patriotas das mais diferentes correntes políticas
e segmentos sociais em torno da ideia de livrar o país da ameaça
neocolonialista, da crise e da ditadura. Propunha uma plataforma
unitária, sem contudo, concomitantemente, deixar de afirmar seus próprios
propósitos programáticos.
Essa concepção
tática tem amadurecido ao longo das décadas que se sucederam, em todos os
grandes episódios de nossa frágil democracia – inclusive nas eleições
presidenciais que se aconteceram de 1989 em diante - e não será exagero
reconhecê-la plenamente vitoriosa na concepção da frente amplíssima constituída
em torno da candidatura de Lula à presidência da República, que no último
pleito venceu a extrema direita bolsonarista.
Não há movimento
político de envergadura que dispense o elemento consciente que, permeando
distintas formas e circunstâncias, funcione como referência. Isto sem que necessariamente
os formuladores da alternativa vitoriosa ostentem maior força orgânica.
Na histórica
revolução russa, que possibilitou pela primeira vez a ascensão do proletariado
ao poder de uma nação, nos sovietes (parlamento de então) a corrente política
que se fez hegemônica no movimento libertador — os bolcheviques — ocupava
apenas 13% das cadeiras.
Essas considerações
são oportunas nos dias que correm no Brasil porque as condições da luta,
incluindo a natural e contraditória disputa entre as diversas correntes
políticas pelo reconhecimento dos trabalhadores e do povo, se faz acirrada.
Pondo à luz o peso e o papel específico de cada partido, individualmente
considerado.
E ao observador
atento não escapa a discrepância entre a importante e consistente influência
dos comunistas no seio da frente ampla e a sua reduzida força orgânica —
contradição que se expressa nos mapas eleitorais do pleito de 2022. A bancada
de deputados federais do PCdoB, reconhecidamente competente e combativa,
numericamente está muito aquém das necessidades do próprio partido e, por
extensão, da frente ampla.
Pois há um lugar
específico do Partido Comunista do Brasil na cena política, que lhe é próprio e
insubstituível.
O partido tem diante
de si a absoluta necessidade de superar dificuldades e limitações momentâneas e
se tornar robusto na representação dos trabalhadores e do povo no parlamento e
nos diversos movimentos de caráter social e temático que compõem a mobilização
popular na presente quadra.
Essa robustez
pretendida — é preciso reconhecer — tem no programa partidário (Programa
Socialista para o Brasil) fator consciente decisivo.
O programa afirma
com clareza o rumo da transformação social de caráter socialista e um caminho
consubstanciado na busca de um novo projeto de desenvolvimento nacional,
assentado em reformas estruturais — agrária, urbana, do sistema educacional,
tributária, do judiciário, etc. — cuja consecução dependerá de luta popular
renhida, persistente e de larga dimensão; cuja resultante virá a ser extraordinária
elevação do padrão de vida material e espiritual do povo brasileiro, que mercê
de consciência política mais avançada almejará o passo adiante, de natureza
socialista.
Essa assertiva se
traduz na resolução do XV Congresso partidário e o desafio imediato é a
valorização, mais do que nunca, desse elemento consciente de modo a que
impulsione a militância organizada em comitês intermediários e organizações de
base a encarar a luta cotidiana inspirada no objetivo estratégico.
O PCdoB é o que é e
deve continuar a ser. Sua essência é inegociável e há de se afirmar tanto
quanto seja capaz de superar obstáculos e melhor cumprir o papel que lhe cabe no
movimento emancipador do povo brasileiro.
*Texto da minha coluna semana desta quinta-feira no portal Vermelho www.vermelho.org.br
Ser governo e ser
partido na frente ampla https://bit.ly/3J2iMSP
Um comentário:
Dr Luciano sendo o Luciano Siqueira, comunista. Muito bom, uai.
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