Das coisas que não
entendo
Luciano Siqueira
Tempos atrás (bote
tempo nisso!) estive entre os que se propunham a entender em razoável
profundidade as fontes científicas de alguns prazeres fortuitos.
O vinho, por exemplo.
Ao longo da vida,
várias bebidas ocuparam o pódio da minha preferência. A começar da cerveja, bem
geladinha e em ambiente de calor.
Aguardente de cana
nunca foi a primeira colocada, mas sempre esteve presente e continua figurando
entre as minhas preferências.
O conhaque teve seus
momentos especiais, sobretudo no frio de São Paulo, que frequentei em viagens
sucessivas por umas duas décadas.
Quando da minha
última viagem à China, há pouco mais de dois anos, me encantou um extraordinário
conhaque sempre presente à mesa, ao lado do maotai, que também aprendi a
saborear.
O vinho foi me
chegando aos poucos. Mais por influência de amigos, cada um a seu modo
integrantes de clubes e confrarias de aficionados da nobre bebida.
O apreciador contumaz
do vinho logo se sente especialista. Nunca me deparei com um modesto, todos
exibem conhecimentos sobre os quais deitam falação — e eu, em minha ignorância,
sem a menor condição de distinguir o certo do errado ou perceber eventuais
exageros.
Passei a gostar de
vinho, principalmente tinto. E a consumi-lo com relativa regularidade.
E a prometer a mim
mesmo e aos amigos que estudaria a complexa teia que justifica tanto prazer e
glamour.
Mas nunca estudei.
Sempre deixei o tema relegado aos últimos lugares da fila — eu que costumo
estudar bastante, especialmente temas relacionados com a sociedade humana e a
luta para transformá-la.
Assim, modesto
assinante de um desses clubes de vinho, junto com as minhas duas garrafas
mensais recebo uma revista que ponho sobre o birô, em minha biblioteca aqui
em casa, na intenção de ler as matérias nela contidas.
Mas não passo de uma
leitura ultra dinâmica e superficial, que não me permite distinguir a
informação consistente de eventuais textos meramente promocionais.
Está na região do
Douro, em Portugal (que já tive a satisfação de visitar) a capital europeia do
vinho neste entrante ano da graça de 2023? Tenho pra mim que não, mas a revista
diz que sim.
A Chardonnay é a
variedade branca mais plantada dentre de todas as uvas do mundo? Parece que
sim, pois o texto dá informações consistentes, ao meu modestíssimo critério.
Porém disso não
passo. E a essa altura da vida, tantas décadas já vividas, creio que
ficarei devendo o tal conhecimento científico que me propus obter e interminavelmente
adio.
Resta-me talvez
confessar que no pódio das minhas preferências se mantém campeoníssimo, ao
longo dos anos, o bom whisky — que me faz bem em qualquer circunstância, mais
ainda vendo filmes na TV ou lendo e escrevendo ao final da noite.
De whisky até que
entendo, mas por absoluta timidez me abstenho de registrar aqui o que sei.
Aceita um drink?
A vida segue ao balanço das horas https://bit.ly/3Ye45TD
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