04 março 2023

Minha opinião

Das coisas que não entendo

Luciano Siqueira

 

Tempos atrás (bote tempo nisso!) estive entre os que se propunham a entender em razoável profundidade as fontes científicas de alguns prazeres fortuitos.

O vinho, por exemplo.

Ao longo da vida, várias bebidas ocuparam o pódio da minha preferência. A começar da cerveja, bem geladinha e em ambiente de calor.

Aguardente de cana nunca foi a primeira colocada, mas sempre esteve presente e continua figurando entre as minhas preferências.

O conhaque teve seus momentos especiais, sobretudo no frio de São Paulo, que frequentei em viagens sucessivas por umas duas décadas.

Quando da minha última viagem à China, há pouco mais de dois anos, me encantou um extraordinário conhaque sempre presente à mesa, ao lado do maotai, que também aprendi a saborear.

O vinho foi me chegando aos poucos. Mais por influência de amigos, cada um a seu modo integrantes de clubes e confrarias de aficionados da nobre bebida.

O apreciador contumaz do vinho logo se sente especialista. Nunca me deparei com um modesto, todos exibem conhecimentos sobre os quais deitam falação — e eu, em minha ignorância, sem a menor condição de distinguir o certo do errado ou perceber eventuais exageros.

Passei a gostar de vinho, principalmente tinto. E a consumi-lo com relativa regularidade.

E a prometer a mim mesmo e aos amigos que estudaria a complexa teia que justifica tanto prazer e glamour.

Mas nunca estudei. Sempre deixei o tema relegado aos últimos lugares da fila — eu que costumo estudar bastante, especialmente temas relacionados com a sociedade humana e a luta para transformá-la.

Assim, modesto assinante de um desses clubes de vinho, junto com as minhas duas garrafas mensais recebo uma revista que ponho sobre o birô, em minha biblioteca aqui em casa, na intenção de ler as matérias nela contidas.

Mas não passo de uma leitura ultra dinâmica e superficial, que não me permite distinguir a informação consistente de eventuais textos meramente promocionais.

Está na região do Douro, em Portugal (que já tive a satisfação de visitar) a capital europeia do vinho neste entrante ano da graça de 2023? Tenho pra mim que não, mas a revista diz que sim.

A Chardonnay é a variedade branca mais plantada dentre de todas as uvas do mundo? Parece que sim, pois o texto dá informações consistentes, ao meu modestíssimo critério.

Porém disso não passo. E a essa altura da vida, tantas décadas já vividas, creio que ficarei devendo o tal conhecimento científico que me propus obter e interminavelmente adio.

Resta-me talvez confessar que no pódio das minhas preferências se mantém campeoníssimo, ao longo dos anos, o bom whisky — que me faz bem em qualquer circunstância, mais ainda vendo filmes na TV ou lendo e escrevendo ao final da noite.

De whisky até que entendo, mas por absoluta timidez me abstenho de registrar aqui o que sei.

Aceita um drink?

A vida segue ao balanço das horas https://bit.ly/3Ye45TD

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