02 novembro 2023

Enio Lins opina

Finados e as lembranças imortais

Enio Lins*



Repassar lembranças é coisa humana, atributo capaz de repassar lições fundamentais para a vida. Até crianças natimortas deixam recordações e ensinamentos – mesmo sem ter vivido.

Saudade – palavra que dizem só existir na língua portuguesa – é a marca do Dia de Finados, hora das recordações familiares, da memória afetiva pessoal. As grandes personalidades públicas não são recordadas neste dia.

Finadas, nesta data, parecem ser apenas as criaturas com as quais temos laços afetivos, sejam parentes, aderentes, amizades. Recordações privadas, individualizadas. As mortes de lideranças de massa não são lembradas hoje.

Recordar é viver. Reviver. Considerando o caráter individualista da data, quero confessar a dureza deste ano para mim, que nunca liguei para esse dia. Dentre minhas amizades mais profundas, listo seis das perdas mais sentidas em 2023.

Sávio de Almeida, Zélia Maia Nobre, Plínio Lins, Eduardo Bomfim: escrevi algo sobre essas quatro personalidades, sigo devendo linhas sobre Beto Normande. E se foi também o Marlon Jorge – amigo de infância do bairro das Mangabeiras.

Vou dedicar, aqui, umas linhas a Marlon Jorge Leal de Oliveira, Engenheiro Agrônomo, filho de Seu Aurélio e Dona Creusa (casal in memoriam), irmão de Marta, Magda, Marcus, Malba, Maydil e primo/irmão do saudoso Dionel.

Lembrar-me do Marlon é manter viva a memória de uma Mangabeiras que não mais existe, época em que ali era Zona Rural de Maceió, com muitos sítios e raros arruados, onde o Riacho do Sapo fluía balneável (mergulhável) nalguns trechos.

Justificando o nome, a região era repleta de mangabeiras. Cajueiros, sapotizeiros, jaqueiras, mangueiras, coqueiros – árvores nativas e importadas – se misturavam. Dona Creusa, mãe do Marlon, cultivava romãs e rosas.

Há 60 anos, ali existia o Aeroclube. Pais e mães – atravessando a capoeira onde muito depois se alevantaria o Shopping Iguatemi – levavam a pivetada para ver os paraquedistas pairarem no ar. Marlon, criança, fazia também esse percurso.

Sempre alegre, Marlon seguiu carreira na Agronomia, antes passando pela PRF. Nascido em 12 de maio de 1957, se foi aos 66 anos no dia 11 de outubro. Em seu nome, amigo, homenageio todas as pessoas que se foram neste ano de tantas perdas.

*Arquiteto, jornalista, cartunista e ilustrador

Para além das faces visíveis https://bit.ly/3Ye45TD

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