Ter um ótimo elenco não anula a possibilidade de maus resultados
A bola entra também por acaso, e o Flamengo corre riscos de não ganhar novamente
Tostão/Folha de S. Paulo
O Flamengo, por arrecadar muito dinheiro, por ser o clube de maior torcida no Brasil e por não ter vencido nenhuma competição ano passado, quer ganhar tudo neste ano. Para isso, não para de contratar jogadores bons e caríssimos. Em todas as posições há no mínimo dois de nível técnico parecido. Além disso, o clube contratou Tite, o treinador brasileiro mais experiente e de maior prestígio no país.
Ter um ótimo elenco não anula a possibilidade de maus resultados. Os atletas, a torcida e a imprensa brasileira não estão acostumados com a necessidade de alternar tanto as escalações para que todos os contratados possam jogar com frequência. Nenhum atleta quer ficar na reserva, ainda mais Gabigol e Bruno Henrique, que não estão mais entre os titulares e que foram grandes destaques nos melhores momentos do Flamengo nos últimos anos.
De la Cruz, protagonista do River Plate e da seleção uruguaia, foi escalado na sua estreia pelo Flamengo no amistoso de domingo, nos Estados Unidos, como meia pela ponta direita. Ele já jogou nessa posição, mas com certeza gostaria de estar mais centralizado, ter mais a bola. Essa função é de Arrascaeta, que é seu reserva na seleção uruguaia.
Não será fácil para Tite agradar a todos. Outros grandes treinadores, como Guardiola, Ancelotti e Abel Ferreira, preferem elencos menores. Por isso, preparam os jovens das categorias de base para eventualidades. O Palmeiras tem formado e utilizado bastante os garotos, que, na média, brilham e ainda dão grandes lucros ao clube quando são negociados.
O Flamengo, por melhor que seja o elenco, corre riscos de não ganhar novamente um título importante, já que há vários fortes concorrentes. Além disso, um descuido, um erro do árbitro, uma bola perdida, um suspiro e dezenas de outros fatores inesperados podem mudar a história de um jogo, de um campeonato. A bola entra também por acaso.
Todas as grandes equipes atuais e do passado possuem ótimos elencos, porém são times especiais, excepcionais, porque têm alguns jogadores fora de série. Os craques necessitam de excelentes conjuntos para brilhar, mas só se formam grandes times se há grandes craques. O futebol coletivo é essencial, porém dizer que no futebol moderno não há mais titulares e reservas é uma balela.
Mais importante que dois jogadores para uma mesma posição é ter alguns titulares indiscutíveis, pelo talento ou pelas características únicas, como Haaland, De Bruyne e Rodri, do Manchester City, Vinicius Junior e Bellingham, do Real Madrid. São eles que fazem a diferença.
A seleção brasileira atual carece de talentos especiais, de titulares indiscutíveis, com exceção de Vinicius Junior. Neymar está fora, Casemiro e Marquinhos caíram de produção, e o melhor zagueiro, Thiago Silva, não tem sido mais convocado devido à idade, embora ainda seja o melhor de todos no setor. Em todas as posições há mais de um excelente jogador, mas faltam grandes craques, do nível dos melhores do mundo.
Talvez a minha concepção sobre o que é ser um craque seja diferente da de muitas outras pessoas. No passado, o craque era o jogador magistral, fenomenal, destaque de grandes equipes que encantava a todos. Depois, o craque passou a ser o melhor jogador de um time de prestígio, mesmo não sendo fenomenal. Agora, cada vez mais, qualquer atleta hábil, que, de vez em quando, faz um belíssimo gol, é tratado como um craque. Muitos parecem craques, mas não são. O craque não parece, ele é. O que é, é.
Com quantos paus se faz uma jangada? https://bit.ly/3Ye45TD
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