O ano agora começou*
Luciano Siqueira
É o que se diz aqui pelas bandas do Recife e de Olinda: o novo ano começa depois do carnaval.
Não quer dizer que as coisas não estivessem acontecendo. Apenas os acontecimentos dividiam — um degrau abaixo dos encantos do reinado de Momo — as atenções da maioria.
Na agenda comum, agora o duro desafio da sobrevivência e o desenrolar da luta política.
A operação Tempus Veritaris, que desnuda a trama golpista de Bolsonaro e seu grupo, inevitavelmente divide o primeiro plano com a guerra de guerrilhas entre o governo e o parlamento em torno da agenda da reconstrução nacional, assim como o périplo de Lula pela África, um misto da mais pura e relevante diplomacia com a abertura de oportunidades de intercâmbio comercial.
De quebra, a respeitada palavra do presidente do Brasil pela paz.
O episódio que envolve o ex-capitão e seguidores na trama golpista há que ser acompanhado com atenção, cabendo torcer pela punição de quem deve ser punido na forma da lei, mas com atenção acurada sobre a real correlação de forças na esfera política.
Em outras palavras, não subestimar a resistência da extrema direita, nem a inquietação que parece reinar nas Forças Armadas.
O entusiasmo militante é salutar, mas precisa ser temperado com a atenta compreensão da realidade concreta.
Até porque o governo Lula 3 ainda não é ponto de chegada, é travessia (conturbada) para uma situação que se pretende favorável a um novo ciclo de transformações de natureza progressista no país.
No meio do caminho há muitas pedras — da complexa e instável situação internacional aos obstáculos macroeconômicos à retomada do desenvolvimento nacional assentado na inovação tecnológica, na produção industrial e em importantes intervenções na infraestrutura.
Nós do PCdoB somos um dos artífices da frente ampla que venceu as eleições e que agora governa; somos governo; estamos comprometidos com a unidade do governo — porém, ao mesmo tempo, temos opiniões próprias sobre o desenrolar dos acontecimentos, firmadas à luz do nosso pensamento programático, que combina as pugnas do momento com o objetivo estratégico futuro.
Daí a obrigatoriamente estarmos atentos ao desenrolar do presente, conforme se apresenta na superfície; e à complexa natureza dos problemas de fundo (o caráter de classe e a feição disfuncional do Estado brasileiro, entre eles), que queimam feito fogo de monturo e desafiam o discernimento e a competência das forças populares e progressistas ora governantes.
Mais com importante e inadiável dever de restabelecer o movimento pela base.
No PCdoB isto significa comprovar, pela enésima vez e agora no formato adequado ao tempo presente, que "o mundo cabe numa organização de base" http://tinyurl.com/47272h2d
*Texto da minha coluna desta quinta-feira no portal Vermelho
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