SOB O CÉU DE JUNHO: AS MANIFESTAÇÕES DE 2013 À LUZ DO MATERIALISMO CULTURAL
Theófilo Rodrigues/Le Monde Diplomatique
Dez anos se passaram desde os eventos disruptivos de junho de 2013 que abalaram o país como um raio em dia de céu azul. Sim, o céu parecia estar azul. Aquele ano registrou a menor taxa de desemprego da história do país, a inflação se achava estabilizada, o salário mínimo tinha valorização real e milhões de pessoas saíam da condição de miséria. A fúria daquelas manifestações, portanto, foi surpreendente em sua aparência. No entanto, se aparência e essência das coisas coincidissem, toda ciência seria supérflua, registrou um filósofo do século XIX.
É sob esse diapasão que merece atenção o livro Sob o céu de junho. Na longa linhagem que vem de Marx e Engels e passa por Lenin, Gramsci, Bakhtin e Raymond Williams, Palácio se apresenta como um honesto discípulo. Seu livro traz uma aplicação prática da abordagem conhecida como materialismo cultural e lança mão de dois conceitos desse referencial teórico – hegemonia e estruturas de sentimento – para fundamentar sua interpretação sobre o Junho de 2013 no Brasil.
Palácio explica as razões pelas quais o céu estava azul apenas em aparência. Não obstante as políticas econômicas redistributivas, os governos Lula e Dilma pouco fizeram no campo da disputa ideológica, da comunicação e da cultura. As massas beneficiadas pelas políticas públicas desses governos não vivenciaram um processo mais amplo de organização e pedagogia política. Isso abriu terreno, afirma Palácio, “para que a direita reacionária, investindo com força nos novos meios digitais, oferecesse sua própria interpretação, despolitizando as conquistas, identificando-as como fruto do mérito e da iniciativa individual, e não de um projeto político deliberado”.
Se o livro deixa uma mensagem ao nosso tempo, é a ideia de que o novo governo Lula não tem o direito de reincidir nos erros do passado. Políticas inclusivas são bem-vindas e desejáveis. Contudo, sem um forte investimento na disputa de ideias a esquerda não acumulará a força necessária para o salto qualitativo historicamente exigido, para transitarmos em direção a uma sociedade pós-capitalista.
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