Grande Sertão faz releitura de Guimarães Rosa em cenário pós-urbano
Filme chega às salas de cinema com a relação de Riobaldo e Diadorim retratada na oposição entre polícia e bandidos na periferia de “Grande Sertão”.
Murilo da Silva/Vermelho
Estreia nesta quinta-feira (6) nos cinemas do Brasil o filme “Grande Sertão”, uma adaptação da obra literária de Guimarães Rosa, “Grande Sertão: Veredas”, de 1956 – uma das maiores obras da literatura nacional. Na história contada nas telonas pelo diretor Guel Arraes (O Auto da Compadecida), estrelado por Caio Blat (Riobaldo) e Luisa Arraes (Diadorim), a realidade urbana atual se mistura com a inventividade de Rosa para mostrar o conflito da polícia contra criminosos em uma favela com o nome que dá título ao filme.
A estética utilizada se vale de elementos considerados de um futuro distópico (ou nem tanto), ou mesmo de uma realidade pós-urbana (com o antigo e o novo) dentro de um espaço de cisão em que a periferia tem seu próprio funcionamento a partir da imposição neoliberal.
Em coletiva para jornalistas, o diretor pondera que o filme visa trazer novos pontos de vista sobre o conflito urbano, incluindo o dos bandidos. Nesse sentido, deixa de lado o rótulo da crítica de “favela movie” em que o cenário periférico de tráfico e violência se torna o protagonista.
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O roteiro assinado por Arraes com Jorge Furtado (O homem que copiava) narra o envolvimento do professor Riobaldo com o crime para se aproximar de Diadorim.
A “luta entre policiais e bandidos assume ares de guerra e traz à tona questões como lealdade e traição, vida e morte, amor e coragem, Deus e o diabo”, coloca a sinopse. Ainda estão no elenco Rodrigo Lombardi (Joca Ramiro), Luiz Miranda (Zé Bebelo), Eduardo Sterblitch (Hermógenes), Mariana Nunes (Otacília) e Luellen de Castro (Nhorinhá).
Crítica e adaptações
A alta pretensão do filme foi recebida com ressalvas pela crítica. Por um lado pelo lado teatral da linguagem que estaria mais apta aos palcos, por outro por exagerar nas cenas de ação com mortes que se aproximam do rótulo que o diretor tenta afastar quanto a filmes retratados em comunidades – ainda que esta seja ficcional.
A avaliação cabe ao espectador e como referência é possível aproveitar a oportunidade para prestigiar o cinema nacional pelas salas do país e rememorar outras adaptações já feitas da obra de Guimarães Rosa, como:
- Grande Sertão: Veredas (1964), de Geraldo Santos Pereira;
- A Hora e Vez de Augusto Matraga (1965), de Roberto Santos (baseado no conto de mesmo título do livro Sagarana, de 1946);
- Sagarana – o Duelo (1973), de Paulo Thiago;
- A Terceira Margem do Rio (1994), de Nelson Pereira dos Santos (baseado no conto de mesmo título do livro Primeiras Estórias de 1962);
- Outras Estórias (1999), de Pedro Bial;
- Mutum (2007), de Sandra Kogut (baseado no livro volume Campo Geral da obra Manuelzão e Miguilim, de 1964).
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