13 junho 2024

Lula na OIT

Na OIT, Lula defende imposto para super-ricos e Inteligência Artificial para o Sul Global

Nesta quinta, o presidente discursou na 112ª Conferência Internacional do Trabalho, organizada pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) em Genebra, Suíça.
Cezar Xavier/Vermelho


 

Na manhã desta quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou durante a 112ª Conferência Internacional do Trabalho, organizada pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) em Genebra, Suíça. Lula abordou debates que tem priorizado internacionalmente, como a taxação dos super-ricos e a destruição causada pelas guerras. Mas a criação de um projeto de inteligência artificial (IA) voltado para os países do Sul Global, desponta como uma pauta brasileira, destacando a importância da justiça social e da inclusão digital.

Lula incumbiu sua ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, de conduzir um grupo de trabalho que desenvolva um plano estratégico sobre IA. A iniciativa visa estabelecer uma política concreta sobre o tema para o Brasil, com plano de ação, medidas objetivas e metas, para o governo propor um projeto que regulamente o uso da Inteligência Artificial no Brasil.

Lula iniciou seu discurso expressando satisfação por participar novamente da Conferência Internacional do Trabalho, recordando sua primeira intervenção como chefe de estado em um organismo das Nações Unidas, também na OIT, em 2003. Ele enfatizou a importância da atuação conjunta de governos, trabalhadores e empregadores na busca por soluções em tempos de adversidade.

“O papel da OIT e de seu arranjo tripartite é ainda mais relevante hoje do que quando foi criada. Nunca, nunca a justiça social foi tão crucial para a humanidade,” afirmou Lula. “Retorno à OIT com esperança renovada na atuação conjunta de governos, trabalhadores e empregadores para superar tempos adversos”, disse.

Taxação dos super-ricos

Um dos pontos centrais do discurso de Lula foi a defesa da taxação dos super-ricos e reformas na arquitetura financeira global. O presidente destacou a disparidade crescente na distribuição de riqueza global e a necessidade de uma abordagem mais equitativa.

“O Brasil está impulsionando a proposta de taxação dos super-ricos nos debates do G-20. Nunca antes o mundo teve tantos bilionários. Estamos falando de 3 mil pessoas que detêm quase US$ 15 trilhões em patrimônio,” declarou. Ele ressaltou que essa concentração de riqueza é suficiente para resolver problemas críticos, como a mudança climática, se adequadamente redistribuída.

Ele também enfatizou a necessidade de uma representação justa nos principais órgãos de governança global, criticando a desproporção de poder nas instituições internacionais.

Inteligência artificial e inclusão digital

Outro tema importante abordado por Lula foi a necessidade de um projeto de inteligência artificial voltado para o Sul Global. Ele alertou sobre o risco de a IA reforçar desigualdades geopolíticas, sociais e de gênero, caso seus benefícios não sejam distribuídos de forma justa.

“Precisamos buscar as melhores experiências onde quer que elas estejam para que a gente possa colocar em prática no mundo inteiro. A OIT tem obrigação de trabalhar junto com a ONU e com os países pra que a gente construa um projeto de Inteligência Artificial que seja do Sul Global, pra que a gente possa competir com os países mais ricos,” afirmou Lula.

Ele destacou que um terço da população mundial está fora da internet, com uma parcela ainda maior sem acesso significativo à conectividade, e que a inclusão digital é essencial para a democratização dos benefícios da IA.

Justiça social e democracia

Lula também sublinhou a importância da justiça social, da democracia e da participação social na conquista de direitos trabalhistas. Ele criticou a concentração de poder nas mãos de poucos e apelou por uma globalização mais humana.

“A justiça social e a luta contra as desigualdades são prioridades da presidência do Brasil do G20 que se realizará em novembro próximo,” disse Lula, convidando a OIT a contribuir com as discussões do Grupo.

O presidente brasileiro apontou os complexos desafios que o mundo enfrenta atualmente, incluindo os efeitos desiguais da pandemia de covid-19, novas tensões geopolíticas, transições energética e digital, e a mudança climática. Ele destacou que 2,4 bilhões de trabalhadores são diretamente afetados pelo calor excessivo, um reflexo da deterioração da qualidade de vida global.

Lula criticou a persistência da informalidade, precarização e pobreza no mundo do trabalho, apontando que o número de pessoas em empregos informais aumentou de 1,7 bilhão em 2005 para 2 bilhões atualmente. Ele também destacou a desigualdade de gênero, com mais de meio bilhão de mulheres fora da força de trabalho devido à divisão desigual das responsabilidades familiares.

Papel da OIT

O presidente brasileiro anunciou que aceitou o convite do diretor-geral Gilbert Houngbo para copresidir a Coalizão Global para a Justiça Social. Ele ressaltou que essa iniciativa será fundamental para implementar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, especialmente o ODS 8 sobre “Trabalho Decente para Todos”, que não tem avançado na velocidade necessária.

Lula afirmou que o papel da OIT é mais relevante hoje do que nunca, enfatizando a necessidade de resgatar o espírito da Declaração da Filadélfia, adotada há 80 anos. “Nunca a justiça social foi tão crucial para a humanidade”, destacou, citando o Papa Francisco: “não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza e nem justiça na desigualdade.”

Lula enfatizou a importância da democracia para a conquista de direitos trabalhistas, alertando contra o extremismo político que ataca minorias e promove desigualdades. “A negação da política deixa um vácuo a ser preenchido por aventureiros que espalham a mentira e o ódio”, alertou.

Encerrando seu discurso, Lula reafirmou seu compromisso com a OIT e a construção de um mundo mais justo e humano. Lula finalizou seu discurso com um compromisso renovado com o mundo do trabalho, destacando políticas de valorização do salário mínimo, combate ao trabalho infantil e formas contemporâneas de escravidão, e igualdade de remuneração entre homens e mulheres.

Ele enfatizou a necessidade de paz, condenando as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza, e chamou todos os presentes a trabalharem juntos por um futuro melhor. “O mundo precisa de paz e prosperidade, não de guerra”, afirmou, destacando o impacto devastador desses conflitos sobre os trabalhadores.

“O mundo precisa de paz e prosperidade. Vamos semear a justiça e colher a paz de que o mundo tanto precisa”, concluiu Lula, destacando a importância da OIT e das Nações Unidas na construção de um futuro melhor para todos.

“Enquanto eu for presidente do Brasil, quero que saibam que eu me sinto um membro da OIT, um delegado da OIT, um participante na construção de um mundo mais justo, mais humano, com mais solidariedade,” concluiu Lula, recebendo aplausos dos participantes da conferência.

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