Real, novamente campeão da Europa
E no Brasil continuamos acostumados a problemas crônicos, não só no futebol
Tostão/Folha de S. Paulo
A história se repete. Até o Real fazer o primeiro gol, já com mais de 70 minutos, o Borussia Dortmund jogava melhor, tinha tido quatro chances de gol contra uma do Real, que atuava mal. Mas quem venceu, mais uma vez a Liga dos Campeões foi o time espanhol.
O Real fez um gol em escanteio, com uma improvável cabeçada do lateral Carvajal, e depois um com Vinicius Junior, o melhor do mundo, em passe de Bellingham, que recebeu um presente do jogador alemão. A partir daí o Real reinou e quase fez o terceiro.
O Real, mesmo na adversidade de um jogo, passa a impressão de que sabe profundamente o que ocorre e o que vai acontecer, sabedoria que vai além do conhecimento de um megacomputador com IA. De repente, ganha a partida que parecia perdida. Isso se tornou comum.
Acostumados e acomodados
Além da tragédia do Rio Grande do Sul, convivemos diariamente no futebol e no país com problemas permanentes, algumas tragédias, que assolam o Brasil. Fala-se muito sobre o assunto e muito pouco se faz para resolvê-los. Passam a ser curiosidades e até atrações turísticas.
Acostumamo-nos e nos acomodamos a problemas frequentes, crônicos no futebol, e nada é mudado: como o péssimo calendário, os gramados ruins, o excesso de faltas, o tumulto durante as partidas, os muitos erros dos árbitros, a demora do VAR para tomar decisões, o comportamento raivoso de alguns treinadores durante os jogos. Discute-se muito sobre tudo isso e nada é mudado. A tão esperada liga dos clubes nunca chega.
Acostumamo-nos e nos acomodamos à miséria e à desigualdade social, com o vergonhoso número de residências sem saneamento básico e sem água potável. Fala-se muito sobre isso, mas os progressos são muito pequenos. Há dinheiro para outras coisas, como para as enormes emendas parlamentares, mas não há para resolver a falta de esgoto.
Acostumamo-nos e nos acomodamos a algumas ultrapassadas maneiras de jogar que ainda existem no futebol brasileiro. O fantasma do 7 x 1 completará dez anos em 8 de julho e ainda continua vivo. Repito, não foi por acaso. Enquanto o Brasil enchia o ataque de jogadores, deixando um enorme vazio no meio campo, os alemães colocaram mais meio-campistas para ter o domínio da bola, do jogo, envolver o time brasileiro com troca de passes e fazer os sete gols. Continuamos desvalorizando o meio campo.
Acostumamo-nos e nos acomodamos à absurda violência, que aumenta a cada dia. As milícias e o crime organizado que dominam o Rio de Janeiro se espalharam pelo Brasil. Ainda não vi um forte planejamento para diminuir o problema.
Acostumamo-nos e nos acomodamos às mentiras. Todos criticam as redes sociais e quase todos as procuram. Para muitos é a única fonte de informação. As redes sociais passaram a ser formadoras de opiniões.
Acostumamo-nos e nos acomodamos à medíocre e ultrapassada discussão sobre o que é mais importante, o resultado ou a qualidade e a beleza do jogo. O Manchester City, dirigido por Guardiola, melhor técnico do mundo, joga bem, bonito e quase sempre vence.
Guardiola é bastante pragmático e acredita que para vencer é preciso ter a bola, o domínio do jogo, trocar muitos passes e esperar o momento de envolver o adversário e fazer o gol.
Precisamos nos desacomodar e nos desacostumar às palavras e às ações que se repetem. Necessitamos ser mais criativos, solidários, sem perder a disciplina, a estratégia e o planejamento.
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