11 junho 2024

Palestinos sob tortura

NY Times revela torturas contra prisioneiros palestinos em base militar de Israel
Reportagem relata detenções arbitrárias, espancamentos e violência psicológica que teriam sido aplicados contra cerca de 4 mil civis desde novembro de 2023
DCM

 

Uma reportagem publicada nesta quinta-feira (06/06) pelo jornal norte-americano The New York Times revelou a prática de torturas contra prisioneiros palestinos em Sde Teiman, uma base militar no sul de Israel que foi transformada em centro de detenção para palestinos presos em Gaza por soldados israelenses.

A matéria escrita pelo jornalista Patrick Kingsley, chefe da sucursal do jornal novaiorquino em Jerusalém, relata casos de torturas físicas e psicológicas.

A investigação durou cerca de três meses e foi baseada em entrevistas com alguns dos ex-detidos – se estima que mais de 4 mil palestinos já passaram ao menos três meses pela base militar desde novembro do ano passado, e alguns permanecem presos no local –, além de militares, médicos e soldados israelenses que serviram no local.

Segundo a reportagem, os civis palestinos detidos em Sde Teiman enfrentam condições degradantes. Quase todos foram presos arbitrariamente, sem a possibilidade de se defender perante um tribunal, mesmo após 75 dias, e sem direito a ter contato com um advogado ou com as suas famílias. Além disso, sua localização também é ocultada dos grupos de defesa dos direitos humanos, como ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Esse isolamento é considerado por alguns especialistas jurídicos como uma violação do direito internacional. 

Os palestinos que conseguiram deixar a prisão improvisada de Sde Teiman contam que uma das práticas habituais durante os interrogatórios são as sessões de espancamento, seja com socos e pontapés, ou com o uso de objetos contundentes. Ao menos três testemunhas relatam ter sido submetidas a choques elétricos na base militar israelense.

Outras modalidades de tortura utilizadas, segundo os relatos, são a proibição de dormir – só se pode dormir mediante a autorização de um oficial israelense, segundo vários dos ex-prisioneiros ouvidos pela reportagem –, proibição de ficar de pé e manutenção de prisioneiros apenas com cuecas, mesmo em situações de frio extremo. 

Um dos entrevistados pela reportagem foi um soldado israelense que serviu no local e falou sob condição de anonimato, para evitar um processo. Ele contou que presenciou ao menos um caso de prisioneiro que saiu do interrogatório com um osso da costela quebrado, mas admitiu que outros interrogados também saíram machucados das sessões.

O soldado também afirmou ter ouvido relatos de um prisioneiro palestino que teriam morrido em Sde Teiman devido a ferimentos no peito, mas disse não saber se seria um ferimento causado antes ou depois da chegada desse prisioneiro à base.

Um dos relatos mais destacados foi o do médico militar israelense Yoel Donchin, que reclamou da falta de critério que ficava evidente quando examinava os palestinos presos pelos soldados israelenses, alguns dos quais, segundo ele, era impossível que pudessem ser combatentes do Hamas ou envolvidos em qualquer tipo de ação do grupo de resistência palestino.

Donchin recordou os casos mais chamativos: uma pessoa paraplégica, um sujeito que pesava mais de 130 quilos e um terceiro respirava desde a infância através de um tubo inserido no pescoço.

Os jornalistas do The New York Times pediram esclarecimentos ao Ministério de Defesa de Israel, que respondeu dizendo que “qualquer abuso aos prisioneiros seja durante a sua detenção ou durante o interrogatório, viola a lei e as diretivas das Forças Armadas de Israel”, no entanto, não afirmou claramente se haverá uma investigação sobre os fatos revelados pela reportagem.

Com informações do The New York Times.

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