Mundo tem cada vez mais ultra-ricos, mas está longe de erradicar pobreza
Em 2022, número de super-ricos caiu 3,3%, e a fortuna dessa elite recuou 3,6%. Já em 2023, houve uma alta de 5,1% no total de indivíduos de alta renda, cuja fortuna, acumulada, cresceu 4,7%.
André Cintra/Vermelho
Graças ao rentismo, a riqueza global está mais concentrada e o mundo se tornou ainda mais desigual no primeiro ano após a pandemia de Covid-19. É o que aponta o relatório World Wealth Report 2024, um levantamento da consultoria francesa Capgemini divulgado na última semana.
O estudo leva em conta a fortuna dos chamados “indivíduos de alta renda” – aqueles com mais de US$ 1 milhão de dólares em ativos financeiros. Com o refluxo da crise sanitária e a abertura maior da economia, a especulação voltou a atrair dinheiro na mão dos mais ricos.
Em 2022, ainda com pandemia em boa parte do ano, o cenário foi diferente. O número de super-ricos caiu 3,3%, e a fortuna dessa elite recuou 3,6%. Já em 2023, houve uma alta de 5,1% no total de indivíduos de alta renda, cuja fortuna, acumulada, cresceu 4,7%.
De acordo Capgemini, o Planeta nunca teve tantos milionários. São nada menos que 22,8 milhões de pessoas que, juntas, respondem por um patrimônio avaliado em cerca de US$ 86,8 trilhões.
Parte desse grupo, em especial, não tem do que reclamar. São os chamados “ultra ricos”, os que possuem mais de US$ 30 milhões em ativos. Com os ganhos de 2023, eles já respondem por mais de um terço da riqueza dos milionários.
O mundo não viveu uma explosão de produtividade que justifique tamanho avanço dos “super” e “ultra ricos”. A expansão da fortuna se deve, essencialmente, à valorização da maioria dos grandes bolsas de valores do mundo.
Além disso, segundo o estudo, “embora as taxas de juros permaneçam elevadas, os bancos centrais sinalizaram o fim dos aumentos de taxas no segundo semestre de 2023, com perspectivas de cortes nas taxas em 2024”. Foi o suficiente para injetar mais dinheiro na especulação.
Tudo pode ser, porém, uma onda, diz Anirban Bose, membro do conselho executivo da Capgemini, que prevê um 2024 de apertos. “A incerteza macroeconômica, as tensões geopolíticas, a agenda regulamentar e o aumento dos custos operacionais comprimem os resultados financeiros”, destacou.
O estudo da Capgemini se contrapõe ao relatório Desigualdade S.A. da Oxfam, que foi publicado em janeiro, na 54ª reunião anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Conforme o texto, o mundo pode ter em apenas dez anos seu primeiro trilionário – o nome mais cotado é o de Elon Musk. Mas a erradicação da pobreza, a seguir no ritmo atual, só seria totalmente concretizada em cerca de 230 anos. Vivemos, segundo a Oxfam, a “década da divisão”.
“Um mundo mais justo e menos desigual é possível se os governos redesenharem os mercados para serem mais justos e livres do controle de bilionários”, adverte a Oxfam. Para isso, porém, é preciso “quebrar monopólios, der mais poder aos trabalhadores, tributar as corporações e os super-ricos e, principalmente, investir em uma nova era de bens e serviços públicos”.
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