06 junho 2024

Tragédia ambiental em Maceió segue

A investigação parlamentar engolida pela insaciável dolina

Enio Lins


“Polícia investiga assédio moral na CPI da Braskem, em Brasília” foi o título de reportagem publicada anteontem, nesta Tribuna, coifando o seguinte bigode: “Mineradora é acusada de fazer lobby por meio de assessor de comunicação que acompanhava sessões”. Texto consistente, assinado pelo experiente Ricardo Rodrigues, sobre dados do site “The Intercept”. Vale a pena ler na íntegra, está disponível na internet. Aqui e agora vão uns comentários ligeiros sobre isso.

LOBBY ULULANTE

Óbvio que todo grupo sob investigação faz pressão para livramento da cara ou aliviamento da pena. A mineradora fez o que todas grandes empresas fazem, o famoso “lobby”. Pode ter ido além disso, e delituosamente, sugere o Intercept. O fato é que a Braskem foi beneficiada desde os primeiros movimentos com a exclusão de quem a empresa queria ver fora da roda e incluindo quem desejava colocar dentro. Mas a desenxabida CPI pode ter produzido algo útil, ao deixar registrado nos anais do Congresso Nacional depoimentos importantes, como, só para citar um exemplo, o do ecólogo José Geraldo Marques. Para a posteridade ficaram gravados testemunhos vitais para a compreensão do que aconteceu e do que acontece sobre as fundas cavernas de onde foi retirado o sal pedrado.

CPI SEM SAL

Insossa, a CPI destinada a investigar o drama da exploração do sal-gema alagoano, nasceu adocicada e edulcorada morreu. Foi uma lídima expressão do mel-gema. Nada acrescentou além de “responsabilizar” quem já estava fartamente responsabilizado. Simples assim. A dita comissão investigou em círculos retroativos, parlando sobre o passado apenas em áreas que não tinham mais futuro, e até tentou dividir a responsabilidade principal com agentes secundários nesse processo. E, a principal omissão: nem triscou na única entidade que, efetivamente, ganhou (muito) dinheiro por conta do desastre – a Prefeitura de Maceió.

DITO PELO NÃO DITO

Malgrado umas poucas frases ásperas, em que as decisões da CPI contribuirão para o problema da privatização das vastas áreas públicas pela mineradora? Quais os reflexos objetivos das conclusões da CPI quanto às aquisições compulsórias dos imóveis privados? Quais os planos para o futuro? No tocante à necessidade dos órgãos públicos (federais, estaduais e municipais) se adequarem em equipamentos e pessoal qualificado para acompanhar de fato o que acontece no subsolo, o Congresso Nacional aprovará a necessária ampliação do “custo-Brasil” exigidas por essa adequação? Pois ficou provado, mais uma vez, que somente a Braskem tem – até hoje – condições técnicas e científicas de saber o que exatamente acontece e o que pode vir a acontecer em decorrência de sua pró pria atividade. Enfim, ao fim e ao cabo, a CPI já era; se foi e deixou as inquietações não respondidas imersas em salmoura.

CONTINUA COMO ESTÁ?

Seria demais perguntar se a CPI percebeu que a injeção oficial dos R$ 1,7 bilhão nos cofres da Prefeitura de Maceió, em cima da eleição, poderia talvez, quem sabe, por puro acaso, ampliar o número de vereadores simpáticos à empresa e ajudar a um prefeito tão amigo seguir no cargo por mais quatro anos?

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/12/enio-lins-opina_14.html

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