Impossível ser feliz sozinho
Luciano Siqueira
Li na Folha de S. Paulo: "Solidão para mulher é libertadora, diz Tamara Klink, que passou oito meses sozinha no Ártico."
Trata-se de uma filha do navegador Amir Klink, que segue os passos do pai e também desafia os oceanos.
Tem autoridade para dizer o que disse.
Porém cá de minha modestíssima posição de precário nadador e jamais encorajado para navegar por conta própria, tenho minhas dúvidas.
Fico com Tom Jobim, que em "Wave" diz precisamente o contrário: "fundamental é mesmo o amor/impossível é ser feliz sozinho".
Não me imagino condenado ao silêncio absoluto. Seja onde for.
Quando preso sob a ditadura militar e por 1 mês e 21 dias isolado em cela de onde só saía para sessões de tortura, cuidei de imaginar diálogos e com pedaço de osso de galinha sintetizava algumas ideias riscando as paredes da cela.
A solidão me apavora. Tanto que a comunicação digital, pelo WhatsApp e outros meios, não me satisfaz.
Sou de uma geração forjada no diálogo, olhos nos olhos.
E já próximo, quem sabe, de concluir minha presença no Planeta, sigo rejeitando a solidão — mais ainda sob o frio intenso do Ártico.
Com todo respeito à extraordinária navegadora Tamara Klink.
[Ilustração: Van Gogh]
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