O ano novo, o velho imperialismo ianque e seu neo big stick
Enio Lins
Dentre tantas premonições disponíveis na mídia sobre as perspectivas para este novo ano, me detive na reportagem “O que esperar do mundo em 2025, segundo seis correspondentes da BBC”, numa escolha eliminatória pelo método do fastio. A indisposição, ou incapacidade intelectual, de ler tantas opções, me fez encarcar a tecla “enter” da versão brasileira do tradicional veículo britânico.
PAZ E GUERRA
E lá está repetida a mesma pergunta de todo ano novo: “será que veremos algum avanço em direção à paz?”. Ô minha gente, desde que o primeiro ser pré-humano aprendeu a matar o próximo por alguma vantagem – como nas cenas iniciais do filme “2001: Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick, lançado em 1968 – a história humana é uma trajetória de morticínios. Yuval Harari, no livro “Sapiens”, publicado em 2011, foi pelo mesmo caminho. Não há chances para uma paz duradoura neste ano nem nos próximos. Sem ilusões, devemos lutar com todas as forças por tréguas localizadas, e pelo ideal pacifista. As vozes da BBC praticamente só se dedicaram a esse tema, no que não estão erradas, mas deixaram de aprofundar, por exemplo, questões da economia global e da pauta ambient al, tocadas apenas de passagem.
TRUMP E O RESTO
Em sendo a única superpotência do planeta (unindo superpoderes militares, econômicos, ideológicos, culturais e políticos), os Estados Unidos atraem a atenção do resto do globo quando a Casa Branca troca de inquilino. Mirando por esse prisma, a fleumática BBC estendeu sua avaliação de 2025, no frigir dos ovos, para o quadriênio trumpista. É isso aí, gente. A anunciada política “América em primeiro lugar”, consigna velha e batida, repetida por Donald para seu segundo mandato, só pode ser compreendida, sem meias palavras (do tipo falas “diplomáticas” do Partido Democrata), como um manifesto explícito de dominação, exploração e intervenção acima do pior feito usualmente por quem defende o velho e mau “Big Stick” (Grande Porrete), ameaça formulada e praticada desde Theodore Roosevelt, o 26º presidente americano, entre 1901 e 1909. Todos os demais países devem atentar para esse fato incontornável. E estudar, desde ontem, como vão mexer as pedras pretas nesse tabuleiro de xadrez. Os americanos sempre jogam com as brancas, saem na frente, e criam regras novas quando lhes convêm.
ELES E NÓS
No caso brasileiro, a conjuntura oferece perigos e oportunidades, até porque nosso país está em situação internacional destacada, na liderança dos BRICS. Em minha modesta opinião, o risco Musk é maior que o risco Trump. Não pela suposição de que um seja melhor que o outro, mas porque o dono da Starlink tem interesses econômicos personalíssimos, e – uma vez no governo – lançará mão de todos os recursos de Estado (especialmente daqueles que a legalidade não permite) para turbinar seus ganhos particulares nos quatro cantos do mundo. A visão de Donald Trump, embora mire lucros pessoais também, é mais ambiciosa enquanto expressão imperialista, buscando estender o domínio político e militar estadunidense de forma geral, total, ampla e irrestrita. Donald e Elon Formam uma dupla dinâmica de filhinhos-de-papai do tipo milionários mimados raivosos e furiosos, com o garoto-prodígio sendo mais individualista que o velho irascível. Em resumo, são uma espécie de Batman e Robin do mal, eclodindo – ávidos por mais dinheiro e poder – da batcaverna mais tenebrosa do supremacismo ianque, dispostos a subjugar, e sugar, o resto do mundo. Caberá, às nações dispostas à coragem cívica da resistência, o uso imoderado da inteligência, da sabedoria, e da malícia. O velho jogo recomeçou.
Leia mais sobre a Europa enfraquecida https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/03/europa-enfraquecida.html
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