Também nunca tuitei
Nem
instagramei, facebookei, telegramei ou tik-tokei. Em breve, você também deixará
de fazer isso
Ruy Castro/Folha de S. Paulo
Escrevendo
no dia 19 último sobre a morte de Mario Vargas Llosa, meu amigo Alvaro Costa
e Silva observa que o escritor peruano nunca tuitou na vida.
"Não precisava", disse. "Qualquer declaração sua, artigo de
opinião e entrevista logo estavam nas redes, provocando admiração ou
rechaço." Como todos que vivem de escrever, Vargas Llosa produziu verdades
e sandices. O espantoso é que suas palavras tenham tido tanto alcance sem essa
"ferramenta", hoje essencial para milhões.
Modestamente,
também nunca tuitei na vida. Assim, deixo de atingir as multidões que se
comunicam pelo Twitter, mas, como isso não lhes altera a
cotação do dólar, deduzo que ninguém tem saído perdendo. Donald Trump, em seu
primeiro mandato na Presidência dos EUA, tuitou 25 mil vezes e, segundo a Casa
Branca, seus tuítes eram declarações oficiais —o que inclui, portanto, suas
incitações ao ataque ao Capitólio no 6/1 de 2022. Hoje, com o Twitter em mãos
de Elon Musk,
saberemos o que é tuitar de verdade.
Assim
como nunca tuitei, também nunca orkutei, bloguei, fotologuei, flickerei ou
messengerei. E, assim como eu, muita gente deixou de fazer isso quando essas
tecnologias ficaram fora de moda —você conhece alguém que ainda orkuta?
Portanto, apenas me antecipei. Da mesma forma, nunca instagramei, facebookei,
telegramei, tik-tokei, skypei, linkedinei ou snapchatei. O máximo que faço é
whatsappar e, mesmo assim, pelo computador. Algumas pessoas se preocupam por
terem um excesso de vida digital. Eu tenho de menos. Mas, como sou um homem de
necessidades simples, vou me virando sem essas maravilhas.
Sei
que parece esdrúxulo viver no século 21 e ainda usar a tecnologia do século 20.
Mas alguns dos maiores escritores do século 20 criaram obras-primas usando a
tecnologia do século 19. Marcel Proust, James Joyce e F. Scott Fitzgerald não
escreveram, respectivamente, "Em Busca do Tempo Perdido", "Ulisses"
e "O Grande Gatsby" à máquina. Usaram a velha pena embebida no
tinteiro.
E
também nunca tuitaram.
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