28 abril 2025

Palavra de poeta

Canção do exilado
José Almino de Alencar  

 
Se eu voltar a lamber as botas do passado,
Se eu voltar a chorar a memória da memória:
que me seque a mão direita!
Quando o teu calor vier
pelo vento tardio, deste verão tão puro
e corromper o meu tato;
e o roçar da tua nuca, me fizer tremer.
Se eu assobiar a tua mínima canção,
se eu procurar a tua boca
e o ruído das tuas ruas estrangular o meu coração:
que me cole a língua ao paladar!
Ó devastadora filha de Babel,
feliz quem devolver a ti
o mal que me fizeste!
Não pedirei mais
perdão às virtudes do passado.
Repetirei, em desassombro 
se eu lembrar de ti, Jerusalém 
com os que diziam: 
"Arrasai-a!
Arrasai-a até os alicerces!"


Nenhum comentário: