28 abril 2025

China: robótica como diferencial

China tem um exército de robôs movidos por IA ao seu lado na guerra comercial com os EUA e outros países
Fábricas estão sendo automatizadas em toda o país a um ritmo acelerado
The New York Times/O Globo 

A arma secreta da China na guerra comercial é um exército de robôs industriais, movidos por inteligência artificial, que revolucionaram a manufatura. As fábricas estão sendo automatizadas em toda a China a um ritmo acelerado.

Com engenheiros e eletricistas cuidando de frotas de robôs, essas operações estão reduzindo os custos de produção ao mesmo tempo em que melhoram a qualidade. Como resultado, as fábricas chinesas conseguirão manter o preço de muitos de seus produtos de exportação mais baixos, oferecendo uma vantagem na disputa da guerra comercial e nas tarifas elevadas do presidente Donald Trump. 

A China também enfrenta novas barreiras comerciais impostas pela União Europeia e por países em desenvolvimento que vão do Brasil e Índia à Turquia e Tailândia.

As fábricas estão agora mais automatizadas na China do que nos Estados Unidos, Alemanha ou Japão. Segundo a Federação Internacional de Robótica, a China possui mais robôs industriais por 10.000 trabalhadores da manufatura do que qualquer outro país, exceto Coreia do Sul e Cingapura.

O avanço da automação na China tem sido guiado por diretrizes do governo e sustentado por enormes investimentos. E à medida que os robôs substituem os trabalhadores, a automação posiciona a China para continuar dominando a produção em massa, mesmo com o envelhecimento da força de trabalho e a redução do interesse por empregos industriais.

He Liang, fundador e CEO da Yunmu Intelligent Manufacturing, uma das principais produtoras chinesas de robôs humanóides, afirmou que a China busca transformar a robótica em um setor totalmente novo da economia.

— A expectativa para os robôs humanóides é criar outra indústria como a dos carros elétricos.. Sob essa perspectiva, trata-se de uma estratégia nacional — disse Liang.

Os robôs estão substituindo trabalhadores não apenas em fábricas de automóveis, mas também nas milhares de oficinas espalhadas pelos becos da China.

A oficina de Elon Li, à beira da calçada em Guangzhou, o centro comercial do sudeste chinês, tem 11 funcionários que cortam e soldam metal para fabricar fornos baratos e equipamentos para churrasco. Agora, ele está se preparando para pagar US$ 40.000 a uma empresa chinesa por um braço robótico com câmera.

O dispositivo usa inteligência artificial para observar como um trabalhador solda os lados de um forno e, em seguida, reproduz a ação com mínima intervenção humana.

Apenas quatro anos atrás, o mesmo sistema só estava disponível por meio de empresas estrangeiras de robótica e custava quase US$ 140.000. “Antes, eu nunca imaginaria investir em automação”, disse Li, acrescentando que um funcionário “só pode trabalhar oito horas por dia, mas uma máquina pode funcionar 24 horas.”

Empresas maiores apostam muito mais na automação.

Em Ningbo, uma enorme fábrica da Zeekr, montadora chinesa de carros elétricos, tinha 500 robôs quando foi inaugurada quatro anos atrás. Agora são 820, e muitos outros estão nos planos. 

Assobiando animadamente músicas de Kenny G para alertar pessoas próximas, carrinhos robóticos transportam lingotes de alumínio até um elevador automatizado, que leva os blocos de metal até uma fornalha no topo de uma máquina chinesa de 12 metros de altura. Uma vez derretido, o alumínio é moldado em painéis de carro e outros componentes. Mais carrinhos robóticos — e ocasionalmente um humano dirigindo uma empilhadeira — levam os componentes até o armazém.

Outros robôs transportam os painéis até a linha de montagem, onde centenas de braços robóticos, trabalhando em equipes de até 16, executam uma dança complexa para soldá-los formando carrocerias. A área de soldagem é chamada de “fábrica escura”, ou seja, os robôs operam sem trabalhadores e no escuro. 

As fábricas da China ainda empregam legiões de trabalhadores. Mesmo com a automação, eles são necessários para verificar a qualidade e instalar algumas peças que exigem destreza manual, como os chicotes de fios. Há tarefas que câmeras e computadores ainda não conseguem executar sozinhos. Antes de os carros serem pintados, trabalhadores ainda passam as mãos enluvadas sobre eles para lixar imperfeições.

Mas até mesmo algumas das últimas etapas de controle de qualidade também estão sendo automatizadas com a ajuda da inteligência artificial. 

Perto do fim da linha de montagem da Zeekr, uma dúzia de câmeras de alta resolução tira fotos de cada carro. Computadores comparam as imagens com um banco de dados extenso de veículos corretamente montados e alertam a equipe se encontrarem alguma discrepância. A tarefa leva apenas alguns segundos.

— A maioria dos trabalhos dos nossos colegas envolve sentar em frente a um monitor de computador — disse Pinky Wu, funcionária da Zeekr.

A Zeekr e outras montadoras chinesas também estão usando inteligência artificial para projetar carros e seus recursos de forma mais eficiente.

Carrie Li, designer que trabalha no novo prédio de escritórios da Zeekr em Xangai, usa IA para analisar como diferentes superfícies internas se intersectam em um carro. 

—Tenho mais tempo livre para abrir minha mente e explorar por conta própria quais tendências da moda incluir nos interiores dos carros — contou Li.

Fábricas de automóveis nos Estados Unidos também utilizam automação, mas grande parte dos equipamentos vem da China. A maioria das fábricas de montagem de carros construídas no mundo nos últimos 20 anos foi na China, e uma indústria de automação surgiu ao redor delas.

Empresas chinesas também compraram fornecedores estrangeiros de robótica avançada, como a Kuka, da Alemanha, e transferiram grande parte de suas operações para a China. Quando a Volkswagen inaugurou uma fábrica de carros elétricos em Hefei, há um ano, havia apenas um robô vindo da Alemanha e 1.074 robôs fabricados em Xangai.

O rápido avanço da China em robótica industrial foi impulsionado de cima para baixo. A iniciativa “Made in China 2025”, lançada há uma década por Pequim, definiu 10 setores nos quais a China buscava ser competitiva globalmente. A robótica era um deles.

Para forçar a indústria automobilística a pensar em como usar robôs humanoides com dois braços e duas pernas, por exemplo, autoridades governamentais em Pequim disseram, no ano passado, às principais montadoras que alugassem robôs e enviassem vídeos deles realizando tarefas em suas linhas de montagem.

Os vídeos exigiram várias tentativas até ficarem corretos. Os robôs realizaram apenas tarefas básicas, como separar peças de automóveis em um armazém. Mas a iniciativa ajudou a impulsionar as montadoras nesse caminho.

Como parte da demonstração do impulso à automação, o governo municipal de Pequim realizou, no sábado passado, uma meia-maratona com 12.000 corredores e 20 robôs humanoides. Apenas seis robôs completaram a prova, e o mais rápido deles levou quase três vezes mais tempo que os corredores mais velozes. Mas o evento ajudou a atrair atenção para os robôs. 

No mês passado, o primeiro-ministro Li Qiang, segundo oficial mais importante da China, disse em seu relatório anual ao Legislativo que os planos do país para este ano incluíam um esforço para “desenvolver vigorosamente” robôs inteligentes. A principal agência de planejamento econômico do país anunciou um fundo nacional de capital de risco de US$ 137 bilhões para robótica, inteligência artificial e outras tecnologias avançadas. 

Desafio de encontrar funcionários qualificados

As universidades chinesas formam cerca de 350.000 engenheiros mecânicos por ano, além de eletricistas, soldadores e outros técnicos qualificados. Em comparação, as universidades americanas formam cerca de 45.000 engenheiros mecânicos anualmente.

Jonathan Hurst, diretor de robótica e cofundador da Agility Robotics, uma importante fabricante americana de robôs, disse que encontrar funcionários qualificados tem sido um de seus maiores desafios. Como estudante de pós-graduação no Instituto de Robótica da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, Hurst contou que era um dos dois engenheiros mecânicos da turma.

A rápida adoção da automação pela China preocupa alguns trabalhadores chineses.

Geng Yuanjie, de 27 anos, opera uma empilhadeira na fábrica da Zeekr, onde trabalha há dois anos. Ele disse que havia consideravelmente menos robôs na fábrica da Volkswagen onde trabalhava anteriormente. Agora cercado por robôs, ele tem poucos colegas com quem conversar durante seus turnos de 12 horas.

— Consigo sentir a tendência em direção à automação — disse Geng enquanto observava um carrinho robótico puxar uma prateleira com peças automotivas passando por sua empilhadeira.

Ele acrescentou que sua educação de nível médio talvez não seja suficiente para se qualificar para cursos de programação de robôs e que teme perder o emprego algum dia para uma máquina.

— Não é só uma preocupação minha — todo mundo se preocupa com isso — disse Geng.

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