18 abril 2025

Palavra de poeta: Thiago de Mello

Silêncio e Palavra
Thiago de Mello  

A couraça das palavras
protege o nosso silêncio
e esconde aquilo que somos

Que importa falarmos tanto?

Apenas repetiremos.

 

Ademais, nem são palavras.
Sons vazios de mensagem,
são como a fria mortalha
do cotidiano morto.
Como pássaros cansados,
que não encontraram pouso
certamente tombarão.

 

Muitos verões se sucedem:
o tempo madura os frutos,
branqueia nossos cabelos.
Mas o homem noturno espera
a aurora da nossa boca.

 

II

 

Se mãos estranhas romperem
a veste que nos esconde,
acharão uma verdade
em forma não revelável.
(E os homens têm olhos sujos,
não podem ver através.)

 

Mas um dia chegará
em que a oferenda dos deuses,
dada em forma de silêncio,
em palavra transfaremos.

 

E se porventura a dermos
ao mundo, tal como a flor
que se oferta – humilde e pura – ,
teremos então cumprido
a missão que é dada ao poeta.
E como são onda e mar,
seremos palavra e homem.


[Ilustração: Caspar David Friedrich]

Leia também um poema de António Cícero https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/12/palavra-de-poeta-antonio-cicero.html 

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